Título Original: Devil in Winter
Autoria: Lisa Kleypas
Editora: 5 Sentidos
Nº. Páginas: 320
Sinopse:
A boca dela roçou a
dele, sedosa, macia e quente… e ele sentiu o estonteante toque da sua língua.
Acendeu-se-lhe, desde logo, a chama do desejo e deixou-se afogar num prazer
imoderado, poderoso, como nunca havia sentido.
Quatro jovens damas da
sociedade londrina procuram um bom partido. Chega a vez de Evangeline Jenner, a
mais tímida, mas também a mais rica, logo que cobre a sua herança. Para escapar
às garras da família, Evie pede ajuda a Sebastian, Lord St. Vincent, um
conhecido libertino, fazendo-lhe uma proposta irrecusável: que se case com ela,
trocando riqueza por proteção. Mas a proposta impõe uma condição: depois da
noite de núpcias, os dois não voltarão a encontrar-se na intimidade, pois Evie
não quer ser mais um coração partido na longa lista de conquistas de Sebastian.
A Sebastian resta esforçar-se mais para a seduzir… ou entregar finalmente o
coração, em nome do verdadeiro amor.
Opinião:
Quando nos deparamos
com livros que são verdadeiras pérolas de mimos, que não só nos enchem as
medidas como também recheiam o nosso coração de amor e afecto, como colocar em
(meras) palavras a magnificência contida nessas páginas? Lisa Kleypas é
incomparavelmente maravilhosa e a sua série À Flor da Pele é, sem dúvida,
do melhor que se vê publicado em português, dentro do romance de época. As encalhadas são já personagens pelas
quais os leitores nutrem um enorme carinho, e os cavalheiros que lhes corrompem
a virtude, que as levam à loucura e ao desespero, são, aos mesmos olhos,
figuras de galante encanto.
Paixão Sublime é o terceiro
volume de um quarteto impressionante de instâncias femininas que procuram, para
si, a felicidade que as suas posições ou pequenos defeitos sociais as impedem
de alcançar. Percorrendo, desta feita, o horrível passado de Evie e a reputação
ruinosa que antecede Sebastian, confrontando-os com um futuro que de tão
incerto quase se semeia impossível, esta história tocará o íntimo dos seus
leitores não unicamente pela carga emocional que alberga e pelos obstáculos que
coloca no caminho deste casal extremamente improvável mas, igualmente, pela carência
que cada um deles vê preenchida pela presença do outro, e pelo amor e compreensão
gradual que vão criando entre si.
Lisa Kleypas é um autêntico
doce no que diz respeito ao modo como envolve as suas personagens em tramas
interessantes e repletas de paixão, cativando o seu leitor da primeira à última
página. O seu estilo narrativo é dotado de uma beleza incrível, simples e até
etérea, mantendo-se extraordinária nas descrições da regência inglesa e
assertiva na concepção dos diálogos, sendo estes, muitas vezes, também pontuados
por um humor deslumbrante.
Ainda que, por norma,
este género de narrativas e séries ofereça e demonstre uma certa tendência para
a contínua caracterização de personagens de histórias anteriores, em Paixão Sublime, as atenções recaem,
quase em exclusivo, no casal protagonista. E é através dos alicerces de uma
proposta benéfica para ambos que as teias do enredo se vão tecendo em torno de
uma viagem absolutamente magnífica pelos campos do amor, da aceitação, e do
carinho por aquele que se ama—embora, muitas vezes, tal sentimento não seja
admitido.
Evie é um encanto de
personagem. A sua personalidade mais arrojada, revelada aquando na companhia de
St. Vincent, e instinto protector transformam-na na irmã mais velha ou na ama
que qualquer menina da regência gostaria de ter a seu lado, a cuidar de si. Mas
o seu humor e sentido de oportunidade é genial, mesmo com uma gaguez nervosa, e
por isso é quase impossível não arrecadar frequentes sorrisos por parte dos
leitores. Quanto a Sebastian, este é um figura de porte alto, com uma algo
predominante propensão de dominador, mas com uma força interior que nem ele
mesmo se apercebe possuir. Desde o primeiro instante que zela pelo bem-estar de
Evie, e tendo em conta o estatuto desta, essa é uma atitude muito pouco
esperada vinda da parte de quem vem.
Mas este é,
decididamente, um casal sem igual, que vive uma paixão tão avassaladora, tão
contida e, ao mesmo tempo, tão escondida em acções prometedoras, em discursos
provocantes e em ideias protectoras, que tem um impacto tal no leitor que este,
por tantas vezes, sente autênticos arrepios de prazer na pele. Paixão Sublime foi, para mim, um dos
melhores—se não mesmo o melhor—romance
de época que alguma vez li, tendo Kleypas enredado por caminhos inovadores,
transcendentes, com o intuito de proporcionar a melhor e mais bonita história
de amor de sempre. O sentimento que une Evie e Sebastian está escrito em
sangue, em suor, em trabalho árduo e em promessas veladas, proferidas muito
antes de qualquer um deles saber o quão importante o outro é, e o quão
modificador será o seu futuro—em conjunto.
No entanto, com isto não
pretendo afirmar que mais nenhum interveniente de interesse figura nestas páginas
adoravelmente sublimes, aliás, muito
pelo contrário. Foi verdadeiramente emocionante reencontrar personagens como
Lord Westcliff, quando o rapto de Lillian se encontra ainda demasiado fresco,
Daisy, cujo título de encalhada se deverá
suprimir no próximo romance, ou Annabelle, agora prestes a ter o seu primeiro
filho, mas ainda mais entusiasmante foi conhecer profundamente—ou um pouco
menos que isso—intelectos novos como Cam, um dos homens mais cativantes de
sempre, sem dúvida, ou Bullard, uma personagem ainda mais vil que o próprio St.
Vincent em Sedução Intensa.
Igualmente
impressionante foi o ambiente inesperado que Kleypas escolheu para agraciar
parte do enredo—a atmosfera sombria e algo elitista do Jenner’s, uma das mais afamadas casas de jogos de azar, em Londres.
Um tema que nunca antes vi abordado num romance do género, e que aqui se
encontra explorado de uma forma extremamente interessante e proveitosa,
acabando por combinar, de modo exímio, com a personalidade de St. Vincent—num
mundo seu conhecido, em que é rei.
Também a componente
(extra) de suspense e constante temor
pela vida de Evie, primeiro devido aos seus tios e depois em consequência de
algo que nunca poderia contrariar, veio tornar a trama ainda mais empolgante—se
é que tal é possível. Assim, caracterizando-se, primeiramente, como um romance
de época mas destilando uns quantos outros elementos importantes de outros géneros
literários, Paixão Sublime é, então,
uma história completa, que cativa e apela, que comove e enternece, e que,
principalmente, entretém.
Quanto a mim, esta não só
foi uma leitura que me encheu, por completo, as medidas, como também se
transformou num dos meus romances favoritos. A narrativa encontra-se
brilhantemente trabalhada, a escrita de Kleypas continua a fazer-me folhear página
atrás de página e as personagens por ela criadas são tão belas, tão
arrebatadoras, que não há como lhes resistir. Agora, somente me resta aguardar,
com enorme expectativa e entusiasmo, a publicação do livro referente a Daisy
para, assim, fechar um ciclo de encalhadas
que tanta gargalhada e sofrimento me tem provocado. Adoro Lisa Kleypas, e adoro
a sua série À Flor da Pele.
Uma aposta
absolutamente genial por parte da 5 Sentidos, uma chancela Porto
Editora, perfeita para aquecer—ainda mais—os corações neste verão quente, ou,
até mesmo, o inverno que aí virá eventualmente. O importante é que Paixão Sublime seja partilhado, seja
devorado. Adorei.
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