Título Original: Allegiance
Autoria: Cayla Kluver
Editora: Planeta
Manuscrito
Nº. Páginas: 424
Tradução: Maria José
Figueiredo
Sinopse:
A
princesa do reino de Hytanica, Alera, volta muito mais forte. Já não luta
apenas pelo amor, mas pela liberdade que o pai lhe retirou ao nascer. Casada
com um homem que não ama, a rainha Alera de Hytanica tem de esquecer Narian, o
jovem que lhe prendeu o coração, porque Narian está destinado a conquistar
Hytanica ao comando dos exércitos do seu senhor, o poderoso Soberano. Alera não
acredita que Narian se disponha a combater Hytanica - até ao momento em que as
tropas de Cokyri atacam a sua pátria, chefiadas por Narian. Confrontada com a
mais terrível traição que um coração pode conhecer, Alera será forçada a
esquecer os seus sentimentos e a conduzir o seu reino nesta hora de tremenda
provação. Quando parece que a esperança, a vontade e a coragem estão perdidas,
terá de encontrar a força que lhe permita manter-se de pé, recordando que nem a
mais negra das noites impede o nascimento de um novo dia.
Opinião:
Se antes a guerra era
um prenúncio mortífero e malévolo suspenso nos frágeis alicerces de um reino em
mutação, agora, com a subida ao trono de novos dirigentes, de novos rostos com
novas ideais, essa batalha, esse confronto com Cokyri que há muito pressagiava
horrores, passou a ser uma certeza em absoluto.
Um rapto, um amor não
esquecido e um rei que tudo fará para defender a sua honra e a do seu povo serão,
somente, o começo de um fim que não se deixará desvendar sem a presença de
asfixiantes e inesperadas surpresas.
Alera – Tempos de Vingança trata-se de uma continuação há muito aguardada, e que vem dar uma renovada
consistência, visão, a uma trama que, desde o seu intricado início, se mostrou
tanto forte quanto inteligente. Kluver adensa assim a intriga, instigando também,
e como nunca antes, a lealdade do leitor que, pela primeira vez, se vê dividido
quanto às suas empatias, quanto ao lado por que deve torcer, quanto às
personagens pelas quais nutre carinho ou raiva.
Cayla Kluver volta a
evidenciar a sua mestria, o seu talento numa prosa que tanto possui de belo e
pessoal, de introspectivo, quanto de veloz. Por entre pensamentos confusos e acções
dúbias, esta é uma trama que se salienta pelas suas descrições e diálogos,
ainda que, por vezes, essas mesmas descrições sejam excessivamente elaboradas e
longas, mas, e principalmente, é de notar o crescimento da própria autora, que
se transpõe no amadurecimento das suas palavras narrativas.
Embora este seja um
livro com um enredo pronunciado, que se vai desenrolando misteriosamente,
surpreendendo o leitor ao seu máximo, são as personagens o elemento que se
volta a destacar, seja pela singularidade das mesmas, seja pela maturidade ou
retrocesso que uma ou outra sofre ao longo da história. Ainda assim, a que mais
me maravilhou – e, admito, não estava à espera de que assim fosse – foi
Steldor, não pela atitude correcta e até algo gananciosa de um rapaz que deseja
mais do que deveria de possuir, mas pela persistência e, até, paciência que
entrega a todos os assuntos que envolvam Alera. Esta, por sua vez, encontra-se
mais inteirada do que verdadeiramente é exigido de si enquanto rainha de
Hytanica mas, nem por isso, menos apaixonada pelo príncipe que outrora povoou
os seus sonhos e os seus desejos. E é por essa devoção, essa crença no melhor,
na esperança, que Alera se transformou, com rapidez, numa das minhas
personagens favoritas. Contudo, ocasionalmente nota-se uma certa imaturidade,
uma certa incapacidade de decisão, um certo egoísmo que choca com a perseverança
e graça que tem vindo a transmitir mas, nem mesmo assim, Alera se torna uma
figura menos inteligente ou acarinhada. Na outra ponta do «triângulo» amoroso
está Narian, aquele que sobreviveu, aquele que tem por destino destruir o reino
que o viu nascer. Forte, destemida e inabalável, esta é uma personagem sem
igual e que encontra aqui, neste segundo volume, um destaque e uma profundidade
de sentimentos, acções e palavras que lhe dão uma beleza por demais.
Quanto à trama em si,
esta é simplesmente arrebatadora. Desde as inúmeras intrigas aos planos de
guerra, passando pelas pequenas traições que atingem proporções inimagináveis,
por um rapto de cortar o fôlego e por acontecimentos inteiramente marcantes,
seja de que lado da «fronteira» for, seja dentro ou fora do palácio, a segurança
é forçosamente um sentimento que se vê destituído, por completo, de qualquer
significado. O perigo está à espreita e tudo pode, poderá e irá acontecer.
A nível pessoal, esta
foi uma leitura bem mais agradável que a sua anterior. Gostei de toda a
mistura, quase explosão, de sentimentos que o enredo originou em mim enquanto
leitora, e fiquei bastante admirada por, a certa altura, dar por mim a
compadecer-me por Steldor e a desejar-lhe um pouco mais de sorte, um pouco mais
de amor e afecto. Em contrapartida, detestei o antigo rei de Hytanica pela sua mente fechada e pela soberania que
persistia em espalhar mesmo quando o poder já havia sido retirado da sua mão.
Uma aposta diferente,
numa vertente histórica aligeirada por uma certa sobrenaturalidade algo
estranha, por parte da Planeta Manuscrito, num estilo jovem que começa já
a ser uma imagem de marca. Agora, é esperar pelo tão prometido desfecho.
Gostei.
Sem comentários:
Enviar um comentário