Título Original: Hunger
Autoria: Michael Grant
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 480
Tradução: Victor Antunes
Sinopse:
Já se passaram três meses
desde que todos os que tinham menos de quinze anos ficaram encurralados na ZRJ.
Três meses desde o
desaparecimento de todos os adultos.
A comida esgotou-se há várias
semanas.
Todos têm fome, mas ninguém
se dispõe a encontrar uma solução. E a cada dia que passa são mais os jovens
que sofrem mutações e adquirem capacidades sobrenaturais que os distinguem dos
que não têm esses poderes. A tensão cresce e o caos reina na cidade. São os
«normais» contra os mutantes. Cada um luta por si, e até os melhores são
capazes de matar.
Mas avista-se um problema
ainda maior. A Sombra, uma criatura sinistra que vive soterrada no coração das
montanhas, começa a chamar alguns dos adolescentes da ZRJ. A chamá-los, a guiá-los,
a manipulá-los.
A Sombra despertou.
E tem fome.
Opinião:
Primeiro, todos os adultos desapareceram. Depois,
surgiu o medo do futuro, a confusão do que fazer a seguir, de como continuar. Agora,
é a fome quem reina, quem instiga responsabilidades acrescidas e quem provoca
acções impensáveis, confrontos sobrenaturais e atitudes selvagens. E se antes já
era difícil sobreviver, manter o controlo da situação, a postura, e praticar o
bem, com este novo assassino, esta recente maldição, continuar íntegro, saudável
e inocente é, pura e simplesmente, algo impossível.
Fome trata-se da estrondosa continuação de uma excelente e
inigualável obra do fantástico cujo autor soube como pegar num tema aparentemente
simples e, através de caminhos conturbados, levar as suas personagens a tomar
decisões que há muito não fazem parte do quotidiano do ser humano comum.
Michael Grant distingue-se dos demais pelo
seu estilo de escrita despretensioso e até bastante assertivo, intuitivo.
Pegando em elementos emocionais de grande calibre, o autor explora todas as
suas ramificações e possibilidades, elaborando assim um enredo que não só apela
pela questão emotiva que se encontra presente numa constante, como também pelo
inesperado, pela surpresa que inevitavelmente despoleta e que deixa o leitor
indiscutivelmente arrepiado.
Se as personagens, no seu todo, são uma
das componentes mais fortes e importantes desta trama, então a fome rapidamente
se transforma no interveniente de eleição, de destaque. Quase como uma
personagem por si só, esta sede por alimento, por nutrientes, é um dos grandes
catalisadores deste livro, levando a que os seus habitantes, meras crianças
inseguras, confusas, destruídas, cometam as maiores atrocidades. Uma «quase»
realidade crua, feroz, desprovida de qualquer sentido de sociedade ou
sensibilidade, que provoca o leitor e que o leva a pensar no que seria capaz,
enquanto pessoa, enquanto jovem, enquanto inocente, de fazer para conseguir
aquele pequeno mas tão importante e indispensável bem.
Muitas são as questões abordadas que, de
uma maneira ou de outra, nos afectam actualmente. Desde situações como a dependência
extrema, passando pela bulimia, pela depressão, insegurança, medo do
desconhecido, inúmeros são os momentos que despertam o leitor para uma
narrativa imensamente criativa e bem construída, para uma verdade que acarreta
consequências e que se transmite, a um leque vasto de personagens, da forma
mais cruel possível.
Também os confrontos entre os ditos «normais»
e «anormais», ou seja, entre aqueles que transportam dentro de si poderes
altamente destrutivos – e não só – e aqueles que são comuns, são uma constante
e, como tal, o leitor vê-se imutavelmente inundado por toda uma série de
sentimentos e sensações contraditórias e revoltantes, muito estimulantes.
Sumariamente, Fome é uma obra que agradará a um vasto público dentro da fantasia
mais juvenil e da ficção científica. Grant é fantástico na sua arte e tendo em
conta as suas personagens intrigantes e decididamente atractivas, o enredo
que se encontra pontuado pela constante surpresa e a história que dá largas
à imaginação e que ainda está muito longe de se ver terminada, este é, sem
sombra de dúvida, um livro que deixará marcas e vontade de prosseguir,
rapidamente, para o volume seguinte.
Uma fantástica aposta por parte da Planeta
Manuscrito, que tem vindo a dar ênfase a um género, por mim, muito
apreciado e que, mesmo sendo já conhecido do mercado editorial, continua a
marcar diferença.
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