segunda-feira, 9 de julho de 2012

Fome, Michael Grant [Opinião]




Título Original: Hunger
Autoria: Michael Grant
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 480
Tradução: Victor Antunes


Sinopse:

Já se passaram três meses desde que todos os que tinham menos de quinze anos ficaram encurralados na ZRJ.
Três meses desde o desaparecimento de todos os adultos.
A comida esgotou-se há várias semanas.
Todos têm fome, mas ninguém se dispõe a encontrar uma solução. E a cada dia que passa são mais os jovens que sofrem mutações e adquirem capacidades sobrenaturais que os distinguem dos que não têm esses poderes. A tensão cresce e o caos reina na cidade. São os «normais» contra os mutantes. Cada um luta por si, e até os melhores são capazes de matar.
Mas avista-se um problema ainda maior. A Sombra, uma criatura sinistra que vive soterrada no coração das montanhas, começa a chamar alguns dos adolescentes da ZRJ. A chamá-los, a guiá-los, a manipulá-los.
A Sombra despertou.
E tem fome.


Opinião:

Primeiro, todos os adultos desapareceram. Depois, surgiu o medo do futuro, a confusão do que fazer a seguir, de como continuar. Agora, é a fome quem reina, quem instiga responsabilidades acrescidas e quem provoca acções impensáveis, confrontos sobrenaturais e atitudes selvagens. E se antes já era difícil sobreviver, manter o controlo da situação, a postura, e praticar o bem, com este novo assassino, esta recente maldição, continuar íntegro, saudável e inocente é, pura e simplesmente, algo impossível.

Fome trata-se da estrondosa continuação de uma excelente e inigualável obra do fantástico cujo autor soube como pegar num tema aparentemente simples e, através de caminhos conturbados, levar as suas personagens a tomar decisões que há muito não fazem parte do quotidiano do ser humano comum.
Michael Grant distingue-se dos demais pelo seu estilo de escrita despretensioso e até bastante assertivo, intuitivo. Pegando em elementos emocionais de grande calibre, o autor explora todas as suas ramificações e possibilidades, elaborando assim um enredo que não só apela pela questão emotiva que se encontra presente numa constante, como também pelo inesperado, pela surpresa que inevitavelmente despoleta e que deixa o leitor indiscutivelmente arrepiado.

Se as personagens, no seu todo, são uma das componentes mais fortes e importantes desta trama, então a fome rapidamente se transforma no interveniente de eleição, de destaque. Quase como uma personagem por si só, esta sede por alimento, por nutrientes, é um dos grandes catalisadores deste livro, levando a que os seus habitantes, meras crianças inseguras, confusas, destruídas, cometam as maiores atrocidades. Uma «quase» realidade crua, feroz, desprovida de qualquer sentido de sociedade ou sensibilidade, que provoca o leitor e que o leva a pensar no que seria capaz, enquanto pessoa, enquanto jovem, enquanto inocente, de fazer para conseguir aquele pequeno mas tão importante e indispensável bem.

Muitas são as questões abordadas que, de uma maneira ou de outra, nos afectam actualmente. Desde situações como a dependência extrema, passando pela bulimia, pela depressão, insegurança, medo do desconhecido, inúmeros são os momentos que despertam o leitor para uma narrativa imensamente criativa e bem construída, para uma verdade que acarreta consequências e que se transmite, a um leque vasto de personagens, da forma mais cruel possível.
Também os confrontos entre os ditos «normais» e «anormais», ou seja, entre aqueles que transportam dentro de si poderes altamente destrutivos – e não só – e aqueles que são comuns, são uma constante e, como tal, o leitor vê-se imutavelmente inundado por toda uma série de sentimentos e sensações contraditórias e revoltantes, muito estimulantes.

Sumariamente, Fome é uma obra que agradará a um vasto público dentro da fantasia mais juvenil e da ficção científica. Grant é fantástico na sua arte e tendo em conta as suas personagens intrigantes e decididamente atractivas, o enredo que se encontra pontuado pela constante surpresa e a história que dá largas à imaginação e que ainda está muito longe de se ver terminada, este é, sem sombra de dúvida, um livro que deixará marcas e vontade de prosseguir, rapidamente, para o volume seguinte.
Uma fantástica aposta por parte da Planeta Manuscrito, que tem vindo a dar ênfase a um género, por mim, muito apreciado e que, mesmo sendo já conhecido do mercado editorial, continua a marcar diferença.

Sem comentários:

2009 Pedacinho Literário. All Rights Reserved.