segunda-feira, 30 de maio de 2011

O tempo que já não viverei, Fabio Volo



Título Original: Il Tempo Che Vorrei
Autoria: Fabio Volo
Editora: Editorial Presença
Colecção: Grandes Narrativas, N.º 501
Nº. Páginas: 230
Tradução: Regina Louro


Sinopse:

Esta narrativa na primeira pessoa conta a história de um homem profundamente dividido entre a infância dominada por uma figura paterna ausente e por um constante sentimento de inadaptação. Lorenzo, agora adulto, continua a ser emocionalmente imaturo, lutando ainda por conquistar o amor do pai e o amor de uma mulher que o deixou. Lorenzo irá compreender que tornar-se adulto significa aprender a assumir os seus afectos, amar e perdoar, e terá de fazer um longo e difícil percurso em busca de si próprio e dos seus sentimentos mais autênticos e mais profundos. O leitor encontrará neste livro afectos que são comuns a todos nós, e isso explica em parte o estrondoso sucesso em Itália. Este novo romance de Fabio Volo tem sido considerado a sua obra mais sentida, a mais verdadeira, em que a força da sinceridade transborda de cada página e contagia o leitor.


Opinião:

Fabio Volo tem o dom da palavra escrita. De forma estonteantemente bela e emotiva, o autor presenteia ao leitor uma viagem sem retorno pela vida de um protagonista intensamente amargurado pela ausência de um pai enquanto criança e obcecado por uma solidão provocada pelo abandono dela, a mulher que verdadeiramente amou e ama e sem a qual não sabe como viver. Ao longo de toda esta penosa viagem, o leitor depara-se com os sentimentos de Lorenzo em relação a tudo um pouco – aos amigos, que são escassos, à família, que o acompanha, a ela, aquela que é e será eternamente sua, ao seu passado em criança, ao seu futuro na publicidade e, principalmente, à sua contínua passagem e aprendizagem pela vida.
Com um toque muito pessoal e privado, Fabio Volo transcreve todas as suas capacidades e crescimento enquanto escritor na forma como, com tamanha facilidade, transporta o leitor para o íntimo de um Lorenzo assustado, angustiado e triste. O desenrolar da infelicidade do protagonista, dando asas a pequenos momentos menos depressivos, é profundamente tocante e envolvente. Às tantas já nem o leitor sabe bem o que pensar, sentindo-se igualmente desorientado, de tal forma que está dentro da peculiar e desconsolada vida de tão fascinante e intensa personagem. O tempo que já não viverei é um romance psicologicamente algo pesado e violento por toda a carga emocional que transporta mas totalmente viciante e agitado pela vivência muitas vezes comum encontrada ao longo das suas páginas.

A história... podia muito bem ser a nossa ou a de um não total desconhecido. Lorenzo vive, ainda em adulto, amargurado pela ausência de um pai que sente nunca ter tido. Não se recorda de brincadeiras, de pequenos afectos, de extensos passeios ou viagens, muito pelo contrário. A infância de Lorenzo foi construída de sacrifícios. Abandonou cedo os estudos para se dedicar ao trabalho de família e tentou sempre encontrar um pouco de alegria e afinidade naquilo que lhe era dado – e que era muito pouco. Assim, Lorenzo tornou-se um adulto algo reprimido e pouco social. E embora a sua companhia paterna venha a alterar-se, tomando rumos extremamente inesperados mas incrivelmente sentidos, a verdade é que o desgosto persiste uma vez que ela, a sua amada, a sua mais devoradora paixão, o deixou irreversivelmente. Correndo em busca de um amor perdido, um amor que nem ele mesmo tem a certeza de ser capaz de sentir, de transmitir, de oferecer, Lorenzo não desiste de conquistar aquela que para sempre o marcou. Com a parceria de dois amigos muito especiais e divertidos à sua maneira, Lorenzo parte não só em busca daquilo que o fará realmente feliz como numa viagem eterna pelos seus sentimentos à procura de uma resolução pessoal definitiva.

O tempo que já não viverei é uma longa viagem pelo pensamento e emoções de um homem profundamente marcado pelo passado. Uma aventura por todos aqueles lugares comuns das nossas vidas, por todos aqueles acontecimentos inesperados e decididamente intensos e que não conseguimos explicar mas que sabemos nos terem mudado por dentro. É uma aventura pelos dissabores e alegrias de uma vida vivida pelo lado de fora mas, acima de tudo, O tempo que já não viverei é uma lição humana e notável sobre a forma como cada um de nós aprende com os erros e as felicidades cometidas, e como daí crescemos.
Apresentado com uma escrita limpa e cuidada, exigente na transmissão das emoções, dos pensamentos, dos pequenos afectos amigáveis e mais profundos, este é um romance que se permite apreciar lentamente, de forma verdadeira e comprometida. Dotado de pequenos detalhes extremamente deliciosos como, por exemplo, o facto de nunca, até à última frase do livro, ser revelado o nome dela, aquela que Lorenzo tanto ama, ou, também, pela constante alternância de capítulos entre um Lorenzo jovem, um Lorenzo adulto que sofre pelo pai e um Lorenzo sentimental que não consegue viver sem ela, O tempo que já não viverei reforça o estatuto de escritor dotado que Fabio Volo já de si tem.

Não posso ainda deixar de referir o capítulo final. A nível pessoal, é o que de mais tocante e provocador trago e guardo desta leitura. Visceralmente forte, rigoroso, sentimentalmente violento mas, ao mesmo tempo, enternecedoramente encantador. Um capítulo final que encerra uma obra especial, única, incrivelmente pessoal e íntima. Uma viagem que demorarei a esquecer e um livro que recomendo a todo o apreciador de um belo romance.  

Sem comentários:

2009 Pedacinho Literário. All Rights Reserved.