sábado, 6 de junho de 2015

A Rapariga no Comboio, Paula Hawkins [Opinião]





Título Original: The Girl on the Train
Autoria: Paula Hawkins
Editora: Topseller
N.º Páginas: 320

Sinopse
Todos os dias, Rachel apanha o comboio...
No caminho para o trabalho, ela observa sempre as mesmas casas durante a sua viagem. Numa das casas ela observa sempre o mesmo casal, ao qual ela atribui nomes e vidas imaginárias. Aos olhos de Rachel, o casal tem uma vida perfeita, quase igual à que ela perdeu recentemente. Até que um dia... 
Rachel assiste a algo errado com o casal... É uma imagem rápida, mas suficiente para a deixar perturbada. Não querendo guardar segredo do que viu, Rachel fala com a polícia. A partir daqui, ela torna-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, afetando as vidas de todos os envolvidos.


Opinião
Observa. 
As casas. As árvores. 
Assimila. 
A paisagem. As pessoas. 
Sente. 
Inveja. Ciúme. Felicidade... ?

Uma janela, uma breve passagem, rápida, veloz, pode desvendar mil e um segredos, desenhar mil e uma possibilidades, desencadear mil e um acontecimentos. Rachel bem o sabe – de toda a vez que o comboio pára no sinal, de toda a vez que tem um vislumbre da Jess e do Jason, a sua mente transforma a realidade que desconhece em algo íntimo, só seu. Mas Rachel sabe também que essa fantasia pode mudar de um momento para o outro, e quando tal acontece, o mundo que a rodeia, o presente em que sobrevive, pode não ser forte o suficiente para que a sua voz seja ouvida, as suas palavras levadas em conta, o seu testemunho credível. 

A Rapariga no Comboio trata-se de um thriller contado a três perspectivas mas é Rachel quem domina a narrativa com o seu discurso imprevisível e, tantas vezes, traiçoeiro. Acreditar naquilo que ela vê e no que julga recordar – breves e turvas memórias de um estado embriagado – é um desafio psicológico para o leitor, mas também o é o enigma em torno do desaparecimento súbito de Megan, e a felicidade – falsa?, verdadeira? – de Anna. Cada uma destas três mulheres sofre à sua maneira, vítimas de um casamento falhado, de um passado traumatizante e de um futuro inseguro. E cada uma destas três mulheres vive em torno de algo humano, algo palpável, algo como a pertença a um lugar, a alguém. Rachel quer ser uma pessoa melhor mas não sabe como, quer recuperar algo que perdeu sabendo que tal nunca será possível; Megan quer largar o passado e concentrar-se num casamento que tanto lhe traz alegria quanto tristeza, que tanto lhe esboça um sorriso nos lábios como a afugenta; e Anna quer finalmente ter a sua família feliz, o seu núcleo de conforto mesmo que para isso certas medidas – mais bruscas, mais radicais – tenham de ser tomadas. 

Um enredo feito, quase por inteiro, de personagens, esta foi uma surpresa pela qual nunca esperei. O sucesso que envolve A Rapariga no Comboio encontra-se visível em cada página percorrida, cada capítulo único, cada segredo revelado e cada reviravolta vertiginosa. Os acontecimentos sucedem-se em catadupa, assim como as dúvidas e os dilemas, ao mesmo tempo que Rachel tenta juntar as peças de um puzzle que em tudo se mostra incompleto, impossível de resolver.
Enquanto leitores, somos transportados para uma Londres sombria onde nada é o que parece e tudo é provável; mas enquanto curiosos, somos levados a indagar sobre a identidade do verdadeiro vilão, sobre o que aconteceu em tão turbulenta noite, e sobre o que poderá vir a ser das vidas destas personagens tão absolutamente singulares e tão estranhamente arrepiantes e palpáveis. 

Gostei bastante desta história, tenho de admitir – e ainda que não se tenha tratado de uma leitura para a qual ansiava voltar a todo o instante, verdade é, também, que de toda a vez em que me encontrei por entre as suas páginas nada nem ninguém era capaz de me arrancar delas. Trata-se de uma viagem compulsiva pelas mais profundas amarguras e fragilidades, defeitos até, do ser humano, que leva uma pessoa a pensar até que ponto a vida, uma vida, é realmente importante, insubstituível – e até que ponto é que conhecemos quem amamos. Paula Hawkins conseguiu prender-me, com relativa facilidade, à sua trama – com um início pausado, centrado na personagem de Rachel, e um meio e um fim perturbador e violento, tudo se enquadrou de forma perfeita e tudo, mesmo tudo, fez sentido ao virar da última página. Penso que nunca mais olharei pela janela de um comboio da mesma forma... 

Sem comentários:

2009 Pedacinho Literário. All Rights Reserved.