sábado, 19 de maio de 2012

Divergente, Veronica Roth [Opinião]



Título Original: Divergent
Autoria: Veronica Roth
Editora: Porto Editora
Nº. Páginas: 350
Tradução: Pedro Garcia Rosado


Sinopse:

Na Chicago distópica de Beatrice Prior, a sociedade está dividida em cinco facções, cada uma delas destinada a cultivar uma virtude específica: Cândidos (a sinceridade), Abnegados (o altruísmo), Intrépidos (a coragem), Cordiais (a amizade) e Eruditos (a inteligência). Numa cerimónia anual, todos os jovens de 16 anos devem decidir a facção a que irão pertencer para o resto das suas vidas. Para Beatrice, a escolha é entre ficar com a sua família... e ser quem realmente é. A sua decisão irá surpreender todos, inclusive a própria jovem.
Durante o competitivo processo de iniciação que se segue, Beatrice decide mudar o nome para Tris e procura descobrir quem são os seus verdadeiros amigos, ao mesmo tempo que se apaixona por um rapaz misterioso, que umas vezes a fascina e outras a enfurece. No entanto, Tris também tem um segredo e que nunca contou a ninguém porque poderia colocar a sua vida em perigo. Quando descobre um conflito que ameaça devastar a aparentemente perfeita sociedade em que vive, percebe que o seu segredo pode ser a chave para salvar aqueles que ama... ou acabar por destruí-la.


Opinião:

«Acreditamos nos gestos simples de coragem, na coragem que leva uma pessoa a defender outra.»
Uma decisão e tudo pode mudar.
Uma hesitação no tempo ou dúvida no momento pode, facilmente, ser o factor que alterará, por completo, o rumo de uma vida. Uma vida inocente, abnegada, dedicada e altamente valorizada pela comunidade em que se insere e que, junto dela, ainda terá muito a oferecer. Mas quando é um segredo, um desconforto e uma profunda necessidade de descoberta e mudança o que rege o intelecto de uma jovem que se vê a par com inúmeras escolhas, talvez a decisão mais correcta não seja, propriamente, aquela que trará segurança e familiaridade no futuro. Talvez, e só talvez, essa decisão seja uma autêntica sentença mortal...

Divergente trata-se de uma narrativa inovadora no seu género e extremamente emotiva que, de forma espontânea e despretensiosa, mostra uma outra face de uma Chicago comum. Um lado mais negro, mais obscuro e controlado, onde tudo é monitorizado e onde cada facção serve o seu propósito independentemente do certo e do errado, é o ambiente que Veronica Roth promete aos seus leitores, desafiando-os com provas elevadamente ameaçadoras e instintivos juízos finais.
A autora, que se estreia com esta fabulosa obra, não poderia ter abordado – nem tão-pouco alcançado tamanha excelência – o tema presente de outro modo. E acredito que foi esse aspecto mais cru da essência humana, e que leva muitos dos seus discípulos a cometerem actos impensáveis, o que torna este livro um bálsamo e uma vertiginosa aventura para estes dias quentes em que, sempre fresca e sempre inventiva, esta narrativa percorre um caminho muito especial de encontro ao coração do leitor que, pulsante e imparável, não consegue deixar de folhear página atrás de página a uma velocidade estonteante.

Se é um facto que muitos livros são feitos das suas personagens, este não é excepção. E embora Divergente possua um conceito distintamente desenvolvido e um potencial gigantesco, verdade é que, uma vez mais, as personagens destacam-se como sendo o elemento de maior evidência, encanto e impulsividade à leitura.
Beatrice Prior é, forçosamente, das protagonistas, dentro da camada YA, que mais alento me deu ler. A força, integridade e audácia que demonstra, muito pouco próprias da sua tenra idade, são uma excelente fonte de ar fresco, numa obra que se valoriza por não rivalizar as demais com um intenso triângulo amoroso ou um amor proibido.
As dificuldades por que passa, os perigos que enfrenta e o modo como encara o seu futuro mas, principalmente, o presente incerto são arrasadores ao ponto de o próprio leitor não se conseguir deslindar da sua história, do seu crescimento e progresso pessoais.

Quatro, por sua vez, é o companheiro perfeito para uma personagem feminina que se revela implacável. Ora de uma simpatia deslumbrante, ora de um desconcerto total, este é um interveniente atrevido e sagaz que, ao longo da trama, se vai descobrindo ser uma verdadeira – e deliciosa! – surpresa. Os valores e ideais que defende e acredita, tendo em conta o seu passado e o modo como encara o futuro da sua própria facção, são de uma beleza extrema e, em conjunto com uma personalidade caricata e até algo assustadora, esta é uma personagem que agradará com facilidade e que, por diversas vezes, deixará o leitor em suspenso.

Também o leque mais secundário de participantes se mostra, particularmente, interessante e vistoso. Personagens como Christina, Eric e Peter não passam, de todo, despercebidas e sejam quais foram os motivos que as regem, os anseios que as movem, os enigmas que tentam desvendar ou as ordens que fazem por seguir, a verdade é que, juntos – e até mesmo em separado – é simplesmente impossível deixar de parte a importância e consequente ligação que estas vozes tão dispares e impressionantes, na sua singularidade, transmitem e tecem com o leitor.

A realidade que estas ainda quase jovens crianças encaram diariamente é, por si só, uma mais valia num enredo que, de tão espectacular, se transforma num dependência impossível de largar. A naturalidade com que Roth descreve tanto o refúgio de cada uma das facções, assim como as interacções entre elas e entre si, e as várias componentes que perfazem desta sociedade uma atmosfera imperdoável e complicadíssima de gerir, é fenomenal. Mas a mensagem que fica, ao fim de tantas páginas percorridas, é que, independentemente das raízes e da educação prestada, se existisse a possibilidade de voltar a unir o que de bom há em cada uma das facções, numa comunidade só, assim se reestruturaria o ideal de perfeição. E é em muito devido a esta falha que justificam ser o catalisador da união actual que, nem mesmo os mais altruístas, se encontram totalmente desprovidos de falhas e defeitos comunicativos.

Quanto à escrita de Roth, esta apresenta-se altamente viciante. E é talvez devido ao seu tom jovem, simples e bastante pessoal – na visão de uma personagem impressionante –, não se deixando levar unicamente pelas características fantasiadas e bastante arriscadas que criativamente edificou, que o leitor se sentirá familiarizado e mais facilmente conectado com as personagens que, sem dúvida, possuem uma maturidade e engenho incríveis.
Tem ainda de ser referido ou, penso eu, recalcado o pequeno e triunfante detalhe de o romance em si se desenrolar de forma gradual e expressiva, adquirindo, desse modo, contornos de uma intensidade e beleza inebriantes. E visto não existir, de todo, um triângulo – ou quadrado – amoroso que interfira com a acção propriamente dita da narrativa, fica exposta toda a imaginação e rescaldos emocionantes dos caminhos que Roth proporciona às suas personagens.

A um nível mais pessoal, Divergente foi uma obra que me deu um imenso prazer ler. Senti-me automaticamente transportada para este novo mundo distópico, ao fim das primeiras páginas, experienciando, na própria pele, cada receio e cada surpreendente etapa de tão magnifica e alucinante viagem em que Tris embarca. E a par com esta protagonista de incomparável calibre, que tanto consegue emocionar como repelir – visto encontrar-se em constante variação, o que a torna imprevisível e, por vezes, assustadora –, e com um enredo que impressiona pela sua grandeza e mutabilidade, este é um livro que, certamente, fará parte das minhas melhores leituras deste ano.

Com uma recta final absolutamente divinal, recheada de energia e suspense, e uma capa que em tudo indica a chama que absorve e percorre as veias destes intrépidos, por tudo isto e muito mais, Divergente é uma excelente aposta por parte da Porto Editora, que congratulo pela oportunidade que proporciona aos leitores de fantasia e ficção científica que, em português, continuamente procuram algo diferente para ler. Adorei. 

«Em qualquer sítio dentro de mim habita uma pessoa misericordiosa e capaz de perdoa. Uma rapariga que tenta compreender o que acontece às outras pessoas e que aceita que os outros fazem coisas que não deviam fazer e que o desespero as empurra para locais mais sombrios onde nunca pensaram encontrar-se. Juro que essa rapariga existe e que sofre pelo rapaz arrependido que vê à sua frente.
Mas se eu a visse não a reconhececra.», pág. 215

5 comentários:

Leitura Não Ocupa Espaço disse...

Deixaste-me ainda mais curiosa miga!

p7 disse...

*suspiro* A Tris é uma heroína fantástica e inspiradora. ;) Ainda bem que gostaste... posso garantir que o segundo é tão bom como este. :D

jen7waters disse...

Também gostei muuuito. :)

kikasbijou disse...

ola!!!!!

adorei o teu blog e por isso ja sou membro! sera que podias
fazer uma visitinha ao meu e aderires? obrigado ;-) bjs grandes

Pedacinho Literário disse...

@Leitura Não Ocupa Espaço,
O livro é espectacular. Assim que o teu exemplar chegar, tens de lhe pegar!

@p7,
É mesmo. Só espero que não demorem muito a publicar o segundo, porque lá que fiquei com a pulga atrás da orelha, isso fiquei! E o melhor é que nem estava à espera de ficar tão arrebatada com esta leitura! :D

@Jen,
É tão bom, não é Jen? Deviam escrever mais livros destes, assim fresquinhos e bons. :)

@kikas
Obrigada! Vou espreitar.

Beijinhos a todas

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