quinta-feira, 31 de maio de 2012

O Primeiro Amor, Sophie McKenzie [Opinião]





Título Original: Falling Fast
Autoria: Sophie McKenzie
Editora: Civilização Editora
Nº. Páginas: 239
Tradução: Jorge Almeida e Pinho


Sinopse:

Quando River faz um casting para uma representação escolar de Romeu e Julieta, apaixona-se por Flynn, o rapaz que ficou com o papel de Romeu.
River acredita no amor romântico e está ansiosa por experimentá-lo. Mas Flynn vem de uma família desestruturada – será ele capaz de dar a River o que ela quer?



Opinião:

Quem nunca se deixou levar pela voracidade do primeiro amor, que se acuse.
Este pode ser – e, com certeza, será – um momento extremamente complexo na vida de uma jovem mulher que sonha, a toda a hora e em todo o instante, com o rapaz perfeito que lhe arrebatará o mundo com sensações novas e palavras comuns. Alguém inteligente, doce e conhecedor. Alguém que não só a fará despertar para todo um completo e inovador universo de sentimentos, como também a embalará com conversas refinadas, gestos delicados e promessas eternas. Mas a vida não é um livro e nem sempre tem um final feliz ou se tece por caminhos regulares, e River está prestes a experienciar, em primeira mão, o quão intenso e difícil uma primeira paixão pode ser.

O Primeiro Amor trata-se de um romance belo e resplandecente que, mesmo abordando e estando direccionado para um público mais jovem, consegue ainda assim envolver qualquer tipo de leitor, motivando-o a permanecer presente na trama, em sintonia com as personagens e os seus lugares-comuns. Embora construído de pequenos pormenores, este é um livro leve que se centra nas consequências comportamentais, sociais e pessoais que a fogosidade de um primeiro amor tão aguardado e ansiado pode provocar em alguém.
Sophie McKenzie é, claramente, uma autora que escreve com a alma e que, sem dúvida alguma, se deixa levar pelo romantismo que rodeia um dos sentimentos mais provocadores, importantes e essenciais na vida de uma pessoa. Simples, directa e poética, McKenzie percorre os trilhos de um estilo não só agradável como também, e isso é certo, inspirador.

Numa fantasia perpetuada por uma das mais românticas e sensíveis histórias de todo o sempre, River encontra não só uma identidade – a sua, para si tão avassaladoramente Julieta – como um escape imaginário para um futuro e um desejo que guarda para si. Combatendo outras duas frentes, esta é uma personagem que cativará logo desde o início, transmitindo não só uma inocência muito pouco usual dos dezasseis anos, como uma intensidade que em nada se mostrará contida.
Face ocasiões passadas pouco ou nada favoráveis, rupturas familiares e emocionais inesquecíveis e um presente tão revoltante, protector e feito de inconstâncias, Flynn deixa passar uma imagem de si bem mais violenta e ebulidora do que a que, por baixo de todas as camadas de ódio e insegurança, verdadeiramente floresce. Uma personagem que, embora instintivamente agressiva e sentimentalmente veemente, acaba por se transformar na mais bela das criaturas quando é o amor a cor que escurece os seus olhos repletos de paixão.

Numa vertente mais secundária, pode ser encontrada uma Emmi estoicamente forte e inflexível, sensualmente poderosa e mutável. E mesmo com uma capa tão espessa e maleável, nem mesmo esta interveniente estará a salvo de um pouco de sofrimento e medo. Em contraste, temos uma Grace delicada e pontuada pela subtileza, encanto natural e inocência. Ainda que embrenhada num relacionamento que parece manter-se firme há uma eternidade, esta personagem terá obstáculos a ultrapassar, experiências a viver e, acima de tudo, uma amizade pura a partilhar.

Em termos de enredo, gostei muito da forma como McKenzie edificou a sua narrativa sem nunca colocar em questão ou em impedimento o desenvolvimento e crescimento pessoal das personagens. Fazendo uso de poucos e modestos cenários, centrando-se assim na peça de teatro e no desenrolar afectivo dos intervenientes presentes na obra, esta foi, para mim, uma opção – versão – muito apreciada de uma visão modernizada de uma das mais belas peças alguma vez escritas – Romeu e Julieta. Fica a duplicidade entre a tragédia de um amor perfeito e tecido pelo destino e a realidade que percorre os relacionamentos, principalmente os primeiros, dos adolescentes de hoje em dia.

Um romance que fala sobre a loucura da paixão, a sofreguidão do desejo, o poder da dúvida e do medo mas, e em destaque, a alucinante aventura que é descobrir – e sentir – a partilha do mais sensitivo e avassalador dos sentimentos – o amor. Mas e se esta componente romântica está muito patente na trama, também os receios parentais – e sejam eles sobre os filhos ou sobre o futuro que espreita ao fundo do túnel – se encontram em evidência permitindo assim a que esta obra seja apreciada tanto por um público mais jovem que, com facilidade, se conseguirá ligar às personagens e situações por estas vividas, como igualmente a leitores mais velhos e mais exigentes que procuram um pouco mais de experiência e vivacidade em todo e qualquer livro em que se debrucem.

Em suma, O Primeiro Amor foi uma surpresa muito, muito positiva que veio preencher uma altura em que o fruto mais apetecido se cinge a uma leitura leve e descontraída. Superando as expectativas, este é um romance decididamente quente e terno, doce e compassivo que, com certeza, irá fazer sorrir e gargalhar muitos dos seus leitores. Uma boa aposta da Civilização Editora, num género ligeiramente mais soft mas, nem por isso, menos intenso.


Excerto:
«[...] Será que sabes a porcaria do que estás a dizer? Nunca podes ter a certeza de ninguém. Nunca. Tens de ter confiança... fé... O amor é isso. É um filho da mãe de um salto no escuro.», pág. 234

Sem comentários:

2009 Pedacinho Literário. All Rights Reserved.