Título Original: Falling Fast
Autoria: Sophie McKenzie
Editora: Civilização
Editora
Nº. Páginas: 239
Tradução: Jorge Almeida e
Pinho
Sinopse:
Quando River faz um casting
para uma representação escolar de Romeu e
Julieta, apaixona-se por Flynn, o rapaz que ficou com o papel de Romeu.
River acredita no amor
romântico e está ansiosa por experimentá-lo. Mas Flynn vem de uma família
desestruturada – será ele capaz de dar a River o que ela quer?
Opinião:
Quem nunca se deixou levar
pela voracidade do primeiro amor, que se acuse.
Este pode ser – e, com
certeza, será – um momento extremamente complexo na vida de uma jovem mulher
que sonha, a toda a hora e em todo o instante, com o rapaz perfeito que lhe
arrebatará o mundo com sensações novas e palavras comuns. Alguém inteligente,
doce e conhecedor. Alguém que não só a fará despertar para todo um completo e
inovador universo de sentimentos, como também a embalará com conversas
refinadas, gestos delicados e promessas eternas. Mas a vida não é um livro e
nem sempre tem um final feliz ou se tece por caminhos regulares, e River está
prestes a experienciar, em primeira mão, o quão intenso e difícil uma primeira
paixão pode ser.
O Primeiro Amor
trata-se de um romance belo e resplandecente que, mesmo abordando e estando
direccionado para um público mais jovem, consegue ainda assim envolver qualquer
tipo de leitor, motivando-o a permanecer presente na trama, em sintonia com as
personagens e os seus lugares-comuns. Embora construído de pequenos pormenores,
este é um livro leve que se centra nas consequências comportamentais, sociais e
pessoais que a fogosidade de um primeiro amor tão aguardado e ansiado pode
provocar em alguém.
Sophie McKenzie é,
claramente, uma autora que escreve com a alma e que, sem dúvida alguma, se
deixa levar pelo romantismo que rodeia um dos sentimentos mais provocadores,
importantes e essenciais na vida de uma pessoa. Simples, directa e poética,
McKenzie percorre os trilhos de um estilo não só agradável como também, e isso é
certo, inspirador.
Numa fantasia perpetuada
por uma das mais românticas e sensíveis histórias de todo o sempre, River
encontra não só uma identidade – a sua, para si tão avassaladoramente Julieta –
como um escape imaginário para um futuro e um desejo que guarda para si.
Combatendo outras duas frentes, esta é uma personagem que cativará logo desde o
início, transmitindo não só uma inocência muito pouco usual dos dezasseis anos,
como uma intensidade que em nada se mostrará contida.
Face ocasiões passadas
pouco ou nada favoráveis, rupturas familiares e emocionais inesquecíveis e um
presente tão revoltante, protector e feito de inconstâncias, Flynn deixa passar
uma imagem de si bem mais violenta e ebulidora do que a que, por baixo de todas
as camadas de ódio e insegurança, verdadeiramente floresce. Uma personagem que,
embora instintivamente agressiva e sentimentalmente veemente, acaba por se
transformar na mais bela das criaturas quando é o amor a cor que escurece os
seus olhos repletos de paixão.
Numa vertente mais
secundária, pode ser encontrada uma Emmi estoicamente forte e inflexível,
sensualmente poderosa e mutável. E mesmo com uma capa tão espessa e maleável,
nem mesmo esta interveniente estará a salvo de um pouco de sofrimento e medo.
Em contraste, temos uma Grace delicada e pontuada pela subtileza, encanto
natural e inocência. Ainda que embrenhada num relacionamento que parece
manter-se firme há uma eternidade, esta personagem terá obstáculos a
ultrapassar, experiências a viver e, acima de tudo, uma amizade pura a
partilhar.
Em termos de enredo, gostei
muito da forma como McKenzie edificou a sua narrativa sem nunca colocar em
questão ou em impedimento o desenvolvimento e crescimento pessoal das personagens.
Fazendo uso de poucos e modestos cenários, centrando-se assim na peça de teatro
e no desenrolar afectivo dos intervenientes presentes na obra, esta foi, para
mim, uma opção – versão – muito apreciada de uma visão modernizada de uma das
mais belas peças alguma vez escritas – Romeu
e Julieta. Fica a duplicidade entre a tragédia de um amor perfeito e tecido
pelo destino e a realidade que percorre os relacionamentos, principalmente os
primeiros, dos adolescentes de hoje em dia.
Um romance que fala sobre a
loucura da paixão, a sofreguidão do desejo, o poder da dúvida e do medo mas, e
em destaque, a alucinante aventura que é descobrir – e sentir – a partilha do
mais sensitivo e avassalador dos sentimentos – o amor. Mas e se esta componente
romântica está muito patente na trama, também os receios parentais – e sejam
eles sobre os filhos ou sobre o futuro que espreita ao fundo do túnel – se
encontram em evidência permitindo assim a que esta obra seja apreciada tanto
por um público mais jovem que, com facilidade, se conseguirá ligar às
personagens e situações por estas vividas, como igualmente a leitores mais
velhos e mais exigentes que procuram um pouco mais de experiência e vivacidade
em todo e qualquer livro em que se debrucem.
Em suma, O Primeiro Amor foi uma surpresa muito,
muito positiva que veio preencher uma altura em que o fruto mais apetecido se cinge a uma
leitura leve e descontraída. Superando as expectativas, este é um romance
decididamente quente e terno, doce e compassivo que, com certeza, irá fazer
sorrir e gargalhar muitos dos seus leitores. Uma boa aposta da Civilização
Editora, num género ligeiramente mais soft
mas, nem por isso, menos intenso.
«[...] Será que sabes a porcaria do que estás a dizer? Nunca
podes ter a certeza de ninguém. Nunca.
Tens de ter confiança... fé... O amor é isso. É um filho da mãe de um salto no
escuro.», pág. 234
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