terça-feira, 20 de março de 2012

Os Pilares do Mundo, Anne Bishop [Opinião]



Título Original: The Pillars of The World
Autoria: Anne Bishop
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 369
Tradução: Luís Coimbra


Sinopse:

Ari, a última descendente de uma longa linhagem de bruxas, pressente que o mundo está a mudar... e está a mudar para pior. Há várias gerações que ela e outras como ela zelam pelos Lugares Antigos, assegurando-se de que o território se mantém seguro e os solos férteis. No entanto, com a chegada da primeira Lua Cheia do Verão, as relações com os seus vizinhos azedam-se. Ari já não está segura.
Há muito que o povo Fae ignora o que se passa no mundo dos mortais. Só o visitam, através das suas estradas misteriosas, quando desejam recrear-se. Agora esses caminhos desaparecem a pouco e pouco, deixando os clãs Fae isolados e desamparados.
Onde sempre reinara a harmonia entre o universo espiritual e a natureza, soam agora avisos dissonantes nos ouvidos dos Fae e dos mortais. Quando se espalham nas povoações boatos sobre o começo de uma caça às bruxas, há quem se interrogue se os diversos presságios não serão notas diferentes de uma mesma cantiga.
A única formação que têm pata os nortear é uma alusão passageiro aos chamados Pilares do Mundo...


Opinião:

Nem sempre a simbologia de um lugar é tão forte quanto a crença nele. O poder da magia, da simples presença e do amor para com a terra e a natureza são capazes de transformar um mero pedaço de espaço em algo muito mais importante, algo imprescindível. E são essas terras antigas, poderosas em magia, necessárias em cultivo, os pilares de um mundo especial, um mundo habitado por criaturas que querem ser veneradas, amadas, queridas. Criaturas que estão em vias de desaparecer por entre a névoa...
A caça às bruxas começou e ninguém está a salvo... nem mesmo os inocentes.

Os Pilares do Mundo trata-se de um livro complicadíssimo de descrever em palavras. É uma história que tem de ser vivida, que tem de ser lida e experienciada individualmente. Um enredo que envolve, quem o lê, numa profunda teia de feitiçaria onde os seres feéricos apresentam uma faceta bem mais obscura e rigorosa e onde o povo (mais) comum consegue feitos atrozes e mesquinhos. Um maravilhoso primeiro vislumbre de uma trilogia que se avizinha fantástica, em que o estilo inconfundível e primoroso de Anne Bishop não deixa – nem deixará, certamente – ninguém indiferente.
Rico em personagens e inesquecível em construção narrativa, esta é uma obra que apelará a um leque vasto de leitores e não somente àqueles que gostam de fantasia. É que este é um romance do sobrenatural sobre pessoas, sobre sentimentos e sobre atitudes e embora seja povoado por criaturas do fantástico, em nada deixa de parte aquelas pequenas características e pormenores que transformam esta história em algo universal. E isso vê-se pela beleza do tom de Bishop e pelo cuidado que ela confere às suas personagens e ao destino que quer proporcionar a cada uma delas. Para mim, um livro que – quase – se conta a si mesmo onde a força principal se centra na mulher, uma figura que assume contornos explosivos em duas vertentes distintas: amor e ódio. 

Tantas são as personalidades importantes e decisivas no decurso da narrativa que uma opinião só não bastaria para justificar o valor de cada uma delas. Ainda assim, um pequeno leque de intervenientes acabou por chegar mais perto do meu coração e, como tal, sinto-me obrigada a, pelo menos, falar desses.
Senti – e ainda sinto – um carinho muito especial por aquela que, a meu ver, assume as rédeas da história – Ari. Esta é uma personagem que, logo ao fim das primeiras páginas, agarra o leitor pela sua simpatia e simplicidade. É uma lutadora, embora algo traumatizada pelo decorrer do presente e pelas perspectivas de um futuro extremamente incerto e difícil, mas a sua devoção para com a terra e o amor que tem pela natureza e pela Mãe torna-a em alguém que, sem dúvida, conseguirá encontrar uma solução para cada um dos seus problemas. 
Em contraste, temos um leque vasto de seres belos que vivem em Tir Alainn e que, numa perspectiva inteiramente pessoal, se apresentam como criaturas frias e calculistas mas que, no seu íntimo, só querem ser amadas e, principalmente, só querem sentir. Creio que, com o desenvolver dos acontecimentos, algumas coisas começam a modificar-se na perspectiva e convivência destes seres feéricos e, como tal, penso que se tornarão cada vez mais humanos, ao longo da trilogia. Deixo um destaque para a Senhora da Morte – ou a Ceifeira – que se mostrou de uma força estrondosa e com a qual nunca pensei criar uma ligação tão forte e palpável; e também a Senhora da Lua e o Senhor do Sol, pela relação que tecem entre si e pelos momentos de paixão, amizade e terror que conferem à narrativa.
Por fim, não posso deixar de referir Adolfo, o Inquisidor-Mor. Uma personagem totalmente odiosa, de uma crueldade imensa. Alguém que, enquanto leitora, só queria ver sofrer, principalmente nas mãos de uma mulher, pois a forma como este vê a figura feminina e as atrocidades que inflige às bruxas são momentos de puro ódio, sofrimento e terror. Contudo, penso que se trata de uma personagem que ainda tem muito para dar, muito horror para espalhar e uma enorme vingança a executar.

Bishop cativou-me logo ao fim das primeiras linhas, deixando-me profundamente apaixonada pela sua escrita e pelas personagens que criou. Uma autora de uma imaginação gigantesca, que cria com Os Pilares do Mundo, um universo incrivelmente interessante e apelativo, onde a força dos Lugares Antigos e o amor pela natureza figuram em supremacia. Adorei conhecer os vários Senhores e Senhoras dos seres feéricos, os Seres Inferiores e a magia que as próprias bruxas acarretam em si mesmas. Fiquei deslumbrada com a intensidade das acções descritas, das relações entre personagens e das emoções que rapidamente passam a estar mesmo à flor da pele. Um livro que nunca pensei vir a gostar tanto e que agora me deixa completa e totalmente ansiosa pela continuação. Uma aposta brilhante por parte da Saída de Emergência, numa autora que ainda tem muito para mostrar e deslumbrar. Recomendo. 

2 comentários:

Anónimo disse...

Homónima vais ter de ler o resto!! Tens,tens e tens *.*

Pedacinho Literário disse...

Oh, Homónima, se tenho! Já cá tenho uns em casa, por isso vou mesmo ter de adquirir a trilogia para me iniciar bem no mundo de Bishop.
Ai, gostei tanto deste!! Nem tinha palavras suficientemente boas e fortes para o descrever! *.*

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