sábado, 17 de março de 2012

Antes Bruxa Que Morta, Kim Harrison [Opinião]



Título Original: Every Which Way But Dead
Autoria: Kim Harrison
Editora: Chá das Cinco
Nº. Páginas: 453
Tradução: Rita Guerra


Sinopse:

Não há bruxa mais dura, sensual ou louca do que a caçadora de prémios Rachel Morgan, que já arriscou a vida amorosa e a alma para trazer perante a justiça as criaturas criminosas que percorrem a noite.
Entre missões, ainda tem de se defender das tentações da sua parceira sedenta de sangue, guardar um segredo mortal do companheiro de aventuras e resistir a um novo pretendente vampiro.
Rachel também deve tomar uma posição na guerra que irrompe no submundo da cidade, já que ajudou a pôr atrás das grades o vampiro que até aí a controlava... o que implicou fazer um acordo com um demónio que lhe poderá custar uma eternidade de dor, tormento e humilhação. E agora esse poderoso demónio está pronto para tomar o que lhe é devido.


Opinião:

Hollows não é, certamente, a mais segura das cidades. Bruxas, criaturas feéricas, vampiros e animalomens povoam as suas ruas, fazendo eclipsar o perigo quando menos se espera. Mas nem mesmo estes seres sobrenaturais estão providos de segurança encontrando-se, muitas vezes, no meio de antigas e vingativas rixas, de promessas demoníacas proferidas ou até, quem sabe, bem no caminho de uma sedenta fome de sangue. Não. Não é, de todo, o mais confortável dos locais mas, sem dúvida, que é o mais interessante...

Antes Bruxa Que Morta é a mais singular, explicativa e trabalhada continuação da estupenda série Rachel Morgan que, com certeza, já fez as delícias de muitos leitores. Continuando dentro do mesmo estilo narrativo, Kim Harrison explode com todo o convencionalismo enquanto, em simultâneo, expõe um enredo extremamente dinâmico e, por inúmeras vezes, inesperado, que revitaliza e coloca em risco a vida de um conjunto de personagens perfeitas na sua imperfeição e que deram origem a um incontável leque de emoções naqueles que se atreveram a lê-las.
Doce nos momentos delicados e de intensa paixão, e temeroso na criação do suspense enquanto arma mortífera contra um leitor que anseia por descobrir o desfecho de todo um aglomerado de situações vibrantes, Antes Bruxa Que Morta trata-se do exemplo perfeito de conjugação de maturidade com inteligência, de amor com gestos corajosos, e de amizade com um companheirismo algo rebelde.

Neste terceiro volume, Rachel está mais viva que nunca! Com as emoções à flor da pele e a corda bem atada em redor do pescoço, esta protagonista exemplar provocará toda uma descarga energética no leitor ao mesmo tempo que tenta lidar com o relacionamento imperfeito que partilha com um namorado ausente, com o facto de ter de cumprir uma promessa dos diabos, e com o pequeno pormenor de continuar a viver com uma vampira que, mesmo tendo voltado à prática do consumo de sangue, persiste impenetrável na sua atitude inconstante e possessiva. A adicionar toda uma série de questões por resolver e problemas inimagináveis, a vida desta personagem não se apresenta nada, mas nada fácil...

Está bastante claro e assente que as personagens são um dos elementos de maior importância e vitalidade desta série. Rachel prossegue na sua espectacularidade, continuando a meter-se nos mais variados sarilhos enquanto, de forma magnífica, luta por sair de uns tantos outros. As ligações que tece, os relacionamentos que assume e a postura que possui transformam-na numa protagonista de peso e essencial na estante de um qualquer aficionado por fantasia urbana. O mundo que a envolve e as personalidades que a acompanham são fenomenais, incrementando, ainda mais, a excelência que, por si só, já a compõe.
Relativamente a outras personagens que preenchem esta obra de alegria e adrenalina, destacam-se, em Antes Bruxa Que Morta, o irresistível vampiro Kisten, a imperturbável e incrivelmente letal Ivy e, para além da personalidade irreverente e curiosa de Jenks, a pequena Ceri e o demoníaco Algaliarept.

Enquanto Nick abandona, assim, o cenário deixando um rasto de desagrado e impaciência para com a sua atitude, Kisten apresenta-se que nem um cavaleiro galante que busca preencher de amor e paixão o inferno pelo qual Rachel está a passar ao mesmo tempo que transparece, um pouco mais, da sua própria personalidade e passado. Para mim, esta foi a personagem do livro, aquela que melhor se mostrou, aquela que mais me apelou. Quanto a Ceri e Algaliarept, este último foi fantástico na medida em que as suas bruscas mudanças de humor e poder conferiram tanto um certo aligeirar da trama como um adensar do próprio perigo e possível próxima surpresa. Ceri, por seu lado, foi uma lufada de ar fresco e confesso que mal posso esperar por saber como é que esta pequena criatura bondosa e inteligente evoluirá nos próximos volumes – uma personagem a ter em atenção.

Em termos de enredo, houve uma série de situações em particular que adorei, enquanto me deixei levar pela surpresa de tantas outras. Em especial, fica uma nota para a versão Titanic de Kim Harrison (mesmo tratando-se de um desastre, não consegui evitar soltar uma ou outra gargalhada) e, claro, para o submundo ou, por outras palavras, o outro lado das linhas Ley – ou seja, a eternidade. Achei toda a descrição deste momento, os vários pontos de alta tensão, os pequenos twists inesperados, simplesmente deliciosa. E embora esta cena se passe relativamente perto do final, devo dizer que, quase desde o início, se sente uma envolvência que se vai intensificando gradualmente e que vai preparando o leitor para todos os estrondos por que este passará, em conjunto com as personagens, com o desenrolar da narrativa.

De páginas preenchidas por uma escrita interessante e moderna, descrições primorosas de momentos do sobrenatural e do mundano, Antes Bruxa Que Morta é o livro que qualquer apaixonado por Rachel Morgan não quererá perder. Eu adoro esta autora e admiro bastante o seu imaginário e o modo como consegue sempre surpreender-me, de uma forma ou de outra, e é por isso que digo que continuarei a seguir esta série e que, sem dúvida, quererei pegar, o quanto antes, no volume que se segue. A quem não conhece, deixo a minha total recomendação, pois dentro da fantasia urbana, esta série é uma das melhores e mais interessantes (para mim) que se pode encontrar traduzidas em português. Uma excelente aposta com o carimbo da Chá das Cinco, uma chancela Saída de Emergência.  

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