terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Ladrão da Eternidade, Clive Barker



Título Original: Thief of Always
Autoria: Clive Barker
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 188
Tradução: David Soares


Sinopse:

Quando, nos longos meses de Inverno, um rapaz chamado Harvey se sente a morrer de tédio, eis que surge um homem que o conduz para uma estranha e fascinante casa onde em cada dia passam as quatro estações do ano e não há regras, apenas divertimento e milagres. A casa de férias do Senhor Hood existe há mais de 1000 anos, oferecendo as boas-vindas a todas as crianças e satisfazendo todos os seus desejos. Mas quando Harvey encontra um lago povoado por criaturas que eram, outrora, crianças como ele, descobre que há um preço a pagar pela sua estadia na casa, e o que era um sonho tornado realidade, cedo se transforma num pesadelo...


Opinião:

Escrito como uma história algo macabra de encantar, O Ladrão da Eternidade foi, para mim, uma estreia bastante aprazível no estilo único e peculiar de Clive Barker e que, em última análise, deixou um gostinho bem apetecível por querer descobrir mais sobre o autor e a sua respectiva obra.
Dotado de personagens, embora jovens, incrivelmente reais, cenários legítimos de um sonho de menino e um enredo simples mas que, no fundo, alberga muito mais que uma mera fábula, este é um livro que não só se devora à velocidade da luz como, no final, deixa vontade para uma nova leitura.

Harvey Swick é um comum menino de dez anos que, ultimamente, tem vindo a encarar os seus dias com uma certa e desagradável monotonia. Como que ouvindo os seus longos suspiros e pensamentos longínquos, Rictus, um homem estranho de sorriso contagiante, entra-lhe a voar no quarto com uma proposta que dificilmente Harvey conseguirá recusar – aparentemente, ele foi um dos seleccionados para ingressar na Casa de Férias, uma mansão divinal ondas as crianças se limitam a passar o tempo entre inúmeras brincadeiras e a concretização de todos os seus mais íntimos e avassaladores sonhos. Morto de curiosidade, Harvey decide aceitar o convite, no entanto... nem tudo é o que parece e se, inicialmente, a Casa de Férias dava a sensação de ser o paraíso na Terra então, mais tarde, talvez se torne num autêntico Inferno sem escapatória possível. Uma das duas será de certeza... mas qual?

A simplicidade, fluidez e estilo de escrita do autor são o que fazem desta pequena pérola do fantástico um livro obrigatório no reportório de leitura de todo o verdadeiro entusiasta e amante de Fantasia. A magia que envolve os cenários apresentados, conferindo-lhe uma atmosfera mística e apelativa tanto aos mais novos que sonham com tais lugares imaginados como aos mais velhos que aproveitam a oportunidade para recordar tempos passados, é um dos pontos fortes da obra uma vez que serve de principal guia ao desenvolvimento da mesma.

As personagens são deliciosas na sua inocência e perspicácia maldosa, colocando assim parcialmente de parte a máxima óbvia do bem vs. mal e fazendo pleno uso de cada uma das capacidades, objectivos e desejos das várias personalidades presentes ao longo da trama. Sendo uma narrativa baseada na coragem e anseios de uma criança de dez anos, é normal que esse conceito comum deste género de obras se encontre presente no enredo, contudo, ocasionalmente, descobre-se um pouco camuflado por personagens dúbias e até, por vezes, revolucionariamente estranhas, o que oferece um tom bastante interessante a todo o espaço e locais retratados.
Gostei muito de Harvey por este não só oferecer ao leitor a esperteza e bisbilhotice normais de um menino da sua idade como também, e principalmente, ao descobrir o que realmente se passa, ter a determinação de voltar à Casa de Férias em busca do que lhe foi roubado e assim... proporcionar um nome ao seu criador que se adequa na perfeição ao título por ele escolhido.

Clive Barker foi ardilosamente inteligente ao escrever O Ladrão da Eternidade tanto como uma fábula que um pai pode ler ao seu filho perto da hora de deitar como, de igual modo, uma história estimulante, misteriosa e perturbadora para um adulto que ainda guarde um bocadinho da criança que foi um dia, dentro de si. Um livro que serve de entretenimento para todo o tipo de leitor e idade, e que transporta nas suas páginas uma mensagem muito forte da qual todos nós deveríamos de ter conhecimento: os desejos fazem parte da vida... mas temos de ser capazes de lutar por eles, ultrapassar todos os obstáculos e nunca desistir por parecer difícil alcançá-los, contudo, também temos de possuir a delicadeza e cuidado naquilo por que tanto ansiamos. 
Mais uma excelente e imperdível aposta da Saída de Emergência, num autor que em Portugal ainda vai dar muito que falar... 

3 comentários:

barroca disse...

Vai dar muito que falar.. antes tarde do que nunca. O senhor já cá anda há uma eternidade (LOL) mas ainda ninguém tinha dado por ele, excepto a Europa-América com os seus livros de bolso populados de gralhas.

Este ainda não li, mas está na minha lista. A tua opinião ainda mais aguçou-me a curiosidade. ;P

p7 disse...

Gostei de ler a opinião, espelhou os meus sentimentos sobre o livro. :) Achei alguma piada que este livro me lembrasse de não subestimar um miúdo de 10 anos. ;P

Pedacinho Literário disse...

@ Barroca,
É verdade, sim. Este senhor é um veterano da literatura de terror, contudo, tenho pena que ainda não tenha sido muito explorado em Portugal. Espero que, a partir de agora, isso mude. Gostei muito deste seu “O Ladrão da Eternidade” pelo que acho que vais igualmente adorar. :)

@p7,
Ainda bem! :)
Por acaso ainda não me tinha lembrado desse pormenor, mas é bem verdade. Nunca se deve subestimar os mais novos, há sempre algo de novo a aprender e a surpreender com eles.

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