Título: Aposta Indecente
Autoria: Matilda Wright
Colecção: Tiara
Editora: Livros d’Hoje
Nº. Páginas: 239
Sinopse:
Paris, 1854. Um dos homens mais ricos de França, o marquês de Villeclaire tem uma vida luxuosa e despreocupada, onde não falta nada que o dinheiro e a sua posição social possam pagar. Mulheres, jogo, festas, caçadas, palácios...
Mas uma aposta faz com que os destinos de Villeclaire e Catherine Duvernois, uma jovem e misteriosa viúva, se cruzem, numa altura em que uma nuvem negra tolda os dias do belo marquês, prestes a casar, contra a sua vontade, com Blanche de Belfot.
A vida de Louis de Villeclaire desmorona-se...
Quem é Catherine Duvernois? E Blanche de Belfort? Alguém está a mentir. Mas quem? Porquê? A resposta mudará para sempre o futuro destas três personagens.
Um romance arrebatador, que se desenrola entre os sofisticados salões da aristocracia parisiense e as deslumbrantes paisagens do Vale de Loire, levando os leitores numa viagem inesquecível por cenários de sonho, durante o reinado do Imperador Napoleão III.
Opinião:
Apaixonei-me pela intensidade desta colecção ao fim das primeiras páginas de Só te amo até terça-feira. Com A Paixão, viajei aos confins do mundo sofrendo por um amor proibido entre uma donzela e um pirata arrebatador e, finalmente, com Aposta Indecente, deixei-me enfeitiçar pelas luxuosas festas parisienses, os costumes e a aristocracia que, há tento tempo, fizeram de Paris uma cidade requintada e deslumbrante.
Feminino, encantador e de fazer estremecer o coração, é assim que encaro o final da leitura deste estonteante romance. Diversificando os temas, épocas e cidades, é fantástica a forma como o leitor continua agarrado e imensamente a ansiar por pegar nestas pequenas e românticas pérolas que, recentemente, invadiram o mercado literário nacional.
O que mais me agradou neste livro, e talvez seja por isso que o elejo como o meu favorito da colecção, até ao momento, e um dos mais estimados dentro do género, foi a destreza da autora em contrariar o comum cenário londrino, com o seu tempo inconstante e posturas rígidas, pelas brilhantes e sumptuosas vielas de Paris.
Louis de Villeclaire é um homem que há muito abandonou a juventude e inocência dos seus vinte anos mas que, ainda assim, preza a sua liberdade pelo que faz os possíveis por se manter afastado dos casamentos delineados de Paris. Ao invés, prefere galantear-se com bom vinho, magníficas mulheres, festas pomposas e longas e divertidas caçadas com os amigos. Numa aposta indecente, deixou-se seduzir pelo escandaloso aumento da sua fortuna e quando tomou consciência da incluída posse de Catherine Duvernois, viúva do seu adversário, nada o poderia ter preparado para os problemas do coração que daí adviriam.
Catherine Duvernois é uma jovem senhora que, em tão poucos anos de existência, passou já por uma série de torturas físicas e psicológicas nada próprias do seu verdadeiro estatuto social. E nem quando pensava estar finalmente livre das obrigatoriedades a que fora subjugada pelo seu pai e, posteriormente, pelo seu marido, o sossego e a paz desejados vieram em seu socorro. Agora, nas mãos de um dos homens mais ricos de toda a França, Catherine terá somente duas opções: ou se submete, também, à vontade do incrivelmente atraente Louis de Villeclaire, ou faz, de tudo, por se proteger, fugir e encarcerar-se num local onde o medo e a pobreza passarão a ser o seu futuro até ao fim dos seus dias.
Qual dos dois caminhos ela escolherá? E, até que ponto, se deixará Louis seduzir pelos encantos naturais de tão jovem viúva?
As personagens são, sem dúvida, uma das componentes mais fortes deste enredo. Louis é especialmente viciante devido à sua personalidade irreverente e, decididamente rebelde face a postura em não querer, de todo, assentar transformando-o assim num partido altamente desejado por muitas senhoras da alta sociedade parisiense capazes de tudo para o seduzir, encurralar e até mesmo forçar a casar com as suas filhas. Catherine, por seu lado, ainda que parcialmente apagada durante parte da narrativa, capta a atenção do leitor pela sua força, maturidade e instinto de sobrevivência. Mesmo nos tempos mais negros em que a felicidade parece estar bem lá no fundo do tenebroso túnel, Catherine esforça-se por encontrar algum alento e descontracção que a ajudem a encarar o resto do dia.
No campo secundário, temos outros intervenientes deveras interessantes e apelativos como é o caso da própria Blanche de Belfort que face a sua disparatada personalidade e espírito enganador incita o leitor a conspirar contra o seu maquiavélico plano; ou o grupo masculino do qual Louis faz parte, composto por Pierre de Forchemont, Gaston de Montblanc, Laurent de Juy e Marcel Bachelard que, no conjunto, formam um séquito humorístico bastante aliciante e apreciável; ou ainda Marie de Thievenaz com o seu lado mais maternal para com Louis e até Catherine, suscitando assim uma empatia instantânea entre personagem e leitor ou, ainda, a pequena Sophie com a sua fragilidade inerente, tagarelice constante e alma enternecedora.
Os cenários, esses, são magníficos! Matilda Wright encaminha o leitor tanto pelo luxo de Paris com os seus bordéis e festas para um leque restrito de participantes como pela modesta mas igualmente requintada vista do Vale de Loire, com as suas paisagens idílicas e sossego típico do campo. As descrições dos locais e acção são estupendas, conferindo uma sensação bastante palpável da realidade de tirar, por completo, o fôlego ao leitor que, no seu íntimo, só desejava poder, também ele, experienciar em primeira mão.
Escrito com uma beleza avassaladora, Aposta Indecente trata-se de uma obra que não conseguirá parar de ler até ao virar da última página. E mesmo assim, quando arrumar o livro na estante e se deixar levar pelo quotidiano da vida e por outras leituras, continuará a sentir a presença de tão intensos personagens e ofuscante autora. Aposta Indecente exerce um fascínio no leitor complicadíssimo de explicar, mas não há dúvidas de que está lá, bem embrenhado no fundo do coração de toda a mulher que se deixar deliciar com tão fantástica narrativa. Mais uma excelente aposta da Livros d’Hoje, que vem integrar uma colecção que, a mim, já me conquistou há muito.
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