segunda-feira, 18 de março de 2013

Encontras-me no Fim do Mundo, Nicolas Barreau [Opinião]





Título Original: Du findest mich am ende der welt
Autoria: Nicolas Barreau
Editora: Quinta Essência
Nº. Páginas: 210
Tradução: Bárbara Villalobos


Sinopse:

Jean-Luc Champollion é aquilo a que os franceses chamam um homme à femmes. O encantador proprietário de uma galeria bem-sucedida ama a arte e a vida, é muito sensível ao encanto das mulheres, que de bom grado lho retribuem, e vive num dos bairros da moda de Paris, em perfeita harmonia com o seu fiel dálmata Cézanne. Tudo corre bem até que, uma da manhã, Jean-Luc encontra no correio um envelope azul, e a sua vida muda para sempre. A missiva é uma carta de amor, ou melhor, uma das declarações de amor mais apaixonadas que o galerista já viu, mas não vem assinada: a misteriosa autora decidiu esconder-se e convida-o a descobrir quem é. Jean-Luc fica inicialmente confuso, mas decide alinhar. A remetente anónima forneceu-lhe um endereço de e-mail e desafia-o a responder. Mas a tarefa não é fácil. Em breve, Jean-Luc tem apenas um objectivo: descobrir a identidade da caprichosa desconhecida, que parece conhecer muito bem os seus hábitos e gosta de o provocar incessantemente. Assombrado pelas suas palavras, Jean-Luc segue as pistas dispersas na correspondência, cada vez mais incapaz de resistir à mais doce das armadilhas. O objecto da sua paixão existe apenas no papel e na sua imaginação, mas ele sente conhecer melhor esta mulher do que os quadros expostos na sua galeria, mesmo que nunca tenha visto o seu rosto. Ou será que viu?


Opinião:

Gosto de leituras que me arrebatam, que me fazem suster o fôlego em busca da próxima surpresa, que me destituem de qualquer tipo de racionalidade e que, simplesmente, me fazem sentir, me fazem querer sonhar, querer desejar mais. Não sei precisar bem o porquê, mas Nicolas Barreau tem uma profundidade, um carinho e uma escrita que me provoca tudo isto e muito mais, que me comove, que me emociona, que me permite viajar por uma Paris diferente, boémia na sua arte, no seu calor, na sua beleza. E por isso, não poderia ter terminado este seu novo romance de forma mais satisfeita.

Encontras-me no Fim do Mundo trata-se da segunda obra do autor que folheio entre mãos, e que, mais uma vez, soube como me surpreender e cativar. Só o título por si, bastante sugestivo, consente a que o leitor deixe a sua imaginação voar por um romance parisiense único, onde a cidade da luz e do amor, como pano de fundo, proporciona o mais idílico dos cenários a um casal que se conhece sem se conhecer, e que, entre si, partilharão as mais belas cartas de amor dos tempos modernos.
Nicolas Barreau é um excelente contador de histórias, e isso nota-se particularmente no seu estilo de escrita, ora algo descritivo ora algo sentimental e actual, mas sempre oferecendo ao leitor uma visão completa do passado e presente do protagonista. Aqui, o autor decidiu inserir, no enredo, uma série de missivas românticas que visam engrandecer o conteúdo narrativo e que, a meu ver, excelentemente bem serviram o seu propósito visto se tratarem, de facto, de bilhetes electrónicos—e ocasionalmente físicos—bastante curiosos e tocantes, libertadores.

Se antes foi Aurélie Bredin o rosto apaixonado que me deslumbrou por completo, neste romance foi Jean-Luc “Le Duc” aquele que se tornou nos olhos e voz que torna este livro tão especial. O seu lado despreocupado e altamente artístico são elementos fundamentais à curiosidade do leitor, mas tantas outras pequenas personagens foram, igualmente, fruto de belas coincidências e arrufos, proporcionando ao leitor uma visão completa da diversidade de personalidades que uma trama simples pode englobar. La Principessa é, com certeza, uma das figuras de maior destaque e importância, tanto pelo mistério que envolve a sua identidade, como pela beleza com que escreve os seus sentimentos e fulgores numa folha de papel. Porém, também Cézanne é digno de nota, pois dálmata mais endiabrado nunca vi, assim como Aristide, pela extravagância e cultura que o preenchem. Um leque de intervenientes singular e muito, muito especial, que divertem, enternecem e entretém o leitor.

O cenário, a par com a atmosfera puramente criativa que assoma o enredo, é das componentes mais apreciáveis e galantes deste romance. Paris sempre foi—e sempre será—uma cidade de estonteante beleza, e isso nota-se na escrita do autor, na forma como ele ama a cidade, as ruas, os pequenos e extremamente significativos pormenores que a tornam o local exclusiva que é, e é verdadeiramente especial denotar essa paixão nas palavras de Barreau, sentir esse deslumbre e magnetismo, e perceber o quão presente tudo isso igualmente se encontra nas suas personagens.
A arte é, claramente, outro dos motivos pelo qual gostei tanto desta leitura. As cores vibrantes em pincéis solitários, as dúvidas presentes na carência e valor de uma obra, o entusiasmo e nervosismo que é a inauguração de uma nova exposição, tudo isto e muito mais são sentimentos que, de alguma forma, conheço e que revejo aqui como uma lembrança solta e tão inteiramente única. De uma ambiência fantástica, o galerista que é Jean-Luc, os artistas plásticos que são Soleil e Julien, e o literatista que é Aristide, abrem as portes a um mundo tão peculiarmente distinto repleto de luz, beleza e cor.

Quanto a mim, penso estar claro o quanto gostei deste romance. Adorei os pequenos ensejos originados pelo mistério da Principessa, e achei particularmente genial a forma como o autor foi divulgando, através de ínfimas pistas, a identidade da mesma, mas sempre instigando o leitor a pensar em várias personagens. Houve um momento chave na história que me fez pensar saber de quem se tratava, e embora Barreau me tenha feito duvidar uma ou duas vezes, foi com bastante agrado que constatei que estava certa—além de que o encontro dos dois, o modo como foi escrito e engendrado, está absolutamente fenomenal.
Este é um autor que gosto particularmente, pela facilidade e realismo das suas histórias, e pelo estilo de escrita muito, muito particular. Espero ler um pouco mais do seu trabalho em breve.

Uma aposta que considero fantástica por parte da Quinta Essência, num tipo de literatura romântica mais simples e modesta, pura, perfeita para acompanhar numa destas próximas tardes que se apresentam mais solarengas. Gostei muito.

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