domingo, 20 de setembro de 2015

Estação Onze, Emily Mandel [Opinião]




Título Original: Station Eleven 
Autoria: Emily St. John Mandel 
Editora: Editorial Presença 
Colecção: Via Láctea, N.º 125
N.º Páginas: 336

Sinopse
Estação Onze conta-nos a cativante história de um grupo de pessoas que arriscam tudo em nome da arte e da sociedade humana após um acontecimento que abalou o mundo. Kirsten Raymonde nunca esqueceu a noite em que teve início uma pandemia de gripe que veio a destruir, quase por completo, a humanidade. Vinte anos depois, Kirsten é uma actriz de uma pequena trupe que se desloca por entre as comunidades dispersas de sobreviventes. No entanto, tudo irá mudar quando a trupe chega a St. Deborah by the Water.
Um romance repleto de suspense e emoção que nos confronta com os estranhos acasos do destino que ligam os seus personagens. 


Opinião
Gosto quando me atiro para um livro sem quaisquer expectativas ou desejos, a saber muito pouco da sua história, e este me surpreende de uma maneira tal que ao virar a última página quase me falta o fôlego. São narrativas especiais, únicas no seu género, peculiares na sua essência, que se tornam tão emocionantes, e viciantes, e extraordinárias que não há como as descrever. Estação Onze foi tudo e muito mais do que alguma vez eu poderia imaginar – uma obra pós-apocalíptica com um sabor amargo dada a sua possível proximidade com o real mas tão, tão doce pelo carisma, e violência, e crueldade terrestre, humana. 

Uma pandemia de gripe ataca sem piedade a humanidade deixando, somente, uma ínfima porção de sobreviventes. Nessa fatídica primeira noite, Kirsten tem oito anos e é parte integrante de uma encenação inovadora de O Rei Lear. No papel principal, Arthur alcança, finalmente, um sonho antigo mas, também, a morte inesperada. 
Vinte anos mais tarde, Kirsten vive a arte. Para trás ficou tudo o que alguma vez conheceu, embora pouco se lembre do passado. Com a Sinfonia, Kirsten transporta a palavra de Shakespeare e o aroma terno da música, até que chega a St. Deborah by the Water, onde toda a sua vida mudará. 

Adorei toda e cada personagem desta história. A forma como cada interveniente se interliga entre si é absolutamente excepcional e nunca antes uma trama se fez de pequenos pormenores, pequenas pistas aqui e ali, como Estação Onze. Cada detalhe contado, até à mesa do jantar, até no desenho de um comic, até na fala de uma peça, tem um significado e no final, no percorrer da última página, tudo faz sentido e ganha uma dimensão tão mais complexa e assombrosa. 
É-me impossível referir somente algumas figuras do enredo quando todas elas são importantes à sua maneira – até mesmo Arthur que tece as linhas condutoras que levarão ao despertar do derradeiro mistério. Gostei imenso de Kirsten mas também de August, e de Mirante, e de Clark, e até mesmo do pequeno Tyle que... bem, suponho que não posso dizer. 

A escrita de Emily St. John Mandel é, sem sombra de dúvida, brilhante – e esse seu dom nota-se, particularmente, no passar das páginas sem que o leitor se aperceba da rapidez com que percorre o texto, sempre sequioso por saber mais sobre este novo mundo, sobre o passado, sobre Arthur e Clark, Arthur e Miranda, Arthur e Elizabeth, sobre Kirsten e sobre o futuro. 
Uma das particularidades que mais me agradou nesta leitura foi não saber, não conseguir sequer imaginar, até ao último instante, o possível desfecho desta história. Mandel foi estupenda na execução desta obra, no contraste do passado com o presente, e na ambiguidade do futuro – assim como na abordagem a toda uma série de temáticas comportamentais e emocionais e das quais não estava nada à espera. Mais do que um romance de ficção científica, ou pós-apocalíptico, distópico até, Estação Onze é uma história sobre memórias, sobre realidades adversas, sobre o rejuvenescer de uma humanidade que se viu desprovida de tudo – de água, de electricidade, de comida, de familiares, de amigos... de tudo. 

A verdadeira crueldade do ser humano, assim como a sua capacidade de adaptação e sobrevivência, só vem ao de cima em tempos de catástrofe – e tal não poderia estar mais bem retratado neste livro. Desde religião à pura coincidência, passando pela força da recordação, pelo lutar por algo melhor, pelo batalhar em prol do que outrora foi... Estação Onze é, sem dúvida, uma narrativa completa, maravilhosamente elaborada e com um ímpeto de verdade que faz doer. No texto, uma gripe que não se sabe de onde veio nem como se originou dizima a humanidade a poucas centenas... mas não poderia isso acontecer-nos amanhã? 


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