quinta-feira, 17 de julho de 2014

Puros, Julianna Baggott [Opinião]




Título Original: Pure
Autoria: Julianna Baggott
Editora: Editorial Presença
Nº. Páginas: 392
Tradução: Fátima Andrade

Sinopse: 

Depois de uma série de denotações atómicas destinadas a exterminar grande parte da Humanidade, apenas uma pequena elite de puros deveria ter sobrevivido, protegida dentro da Cúpula até que a Terra se regenerasse por completo. Mas não foi isso que aconteceu... Muitos foram os que sobreviveram às explosões, deformados, com mutações terríveis, refugiados entre as ruínas da cidade, num clima de opressão por parte da milícia entretanto formada, que os aterroriza e explora.
Pressia Belze é uma jovem de dezasseis anos, uma mutante que tenta fugir à milícia; Partridge é um rapaz da elite, um Puro atormentado pela suspeita de que um plano secreto está a ser desenvolvido pela elite científica da Cúpula. Numa terra devastada, os caminhos destes dois jovens acabam por se cruzar, dois sobreviventes em busca de um futuro menos sombrio, que nem desconfiam do laço secreto que os une...


Opinião:
Esqueçam tudo o que alguma vez leram. Esqueçam todas as vossas distopias favoritas. Esqueçam todas aquelas personagens que tanto vos fizeram sonhar quanto sofrer. Esqueçam todos os mundos imaginários que conheceram e amaram. Esqueçam todas as reviravoltas que vos surpreenderam. Simplesmente, esqueçam. Esqueçam tudo. E entrem nesta aventura, neste planeta destruído por bombas, pela radioactividade e pela ganância humana, e deixem-se levar por esta história sem quaisquer preconceitos, sem ideias pré-concebidas e sem possíveis desfechos já tão fortemente ansiados. Esqueçam e desfrutem do que de melhor a literatura fantástica, na sua vertente young adult distópica, tem para oferecer. Esqueçam tudo e leiam Puros, de Julianna Baggott. Prometo que não se vão arrepender.

Confesso que ainda me sinto meio asfixiada pela força desta narrativa. Não estava, de todo, à espera de algo tão eximiamente magnífico, tão provocador, tão cheio de dor e tão repleto de monstruosidades absolutamente belas. Acreditem quando digo que nunca li nada tão cru e devastador. E é com obras como esta, obras deste calibre e intensidade, que constantemente sou relembrada do porquê de prezar tanto este género literário, do porquê de ser tão fácil, para mim, apaixonar-me pela devastação latente e emocional de uma narrativa capaz de transmitir esse mesmo sentimento de perda ficcional, de crueldade humana, de desespero total para lá das páginas e, consequentemente, para a minha vida de leitora, para a minha realidade. Julianna Baggott foi mestre com Puros, e neste momento mal posso esperar pela continuação que promete, devido à fase final deste primeiro volume, marcar tanto quanto a que lhe precede.
Puros conta a história de um planeta destruído pela mão humana, cujas ramificações resultantes de tal devastação global ainda se fazem sentir muito para lá da existência atómica que o afectou, e que, por consequência, permitiu, de modo extraordinário, a fusão do que é nosso, enquanto seres vivos, com o que é desprovido de espírito. Assim, é apresentado ao leitor duas realidades distintas: de um lado temos a Cúpula onde só a Elite vive, um cenário controlado e de alta tecnologia que visa aperfeiçoar as características humanas de quem se conseguiu ‘salvar’, e onde os seus habitantes são considerados Puros, figuras sem qualquer defeito genético; e por outro temos o mundo exterior, com locais como as Terras Mortas e as Terras Derretidas, onde o ser-se humano já não constitui uma realidade por inteiro, e onde ser-se híbrido, uma fusão de humanidade com outro objecto ou natureza qualquer, é a vivência comum. É aí que conhecemos Pressia, uma rapariga de dezasseis anos que luta por fugir à OSR, uma organização que recruta jovens — para os treinar ou matar —, e por poder cuidar do seu avô. E é também neste mundo que conhecemos Partridge, um Puro que busca a mãe que perdeu demasiado novo, e que deseja reconstruir as memórias que ninguém lhe permite relembrar. Afinal de contas, o Passado pertence à História, e quando o medo e a disformidade são uma constante, é no Futuro que se pensa, e o Passado que se esquece.

Muito acontece ao longo das páginas desta distopia. Tantas são as situações que remetem o leitor para o campo da ansiedade, que o fazem suspirar, implorar por um pouco de alívio, por uma réstia de esperança, mas, de igual forma, surgem também momentos em que o leitor não pode deixar de se compadecer com as personagens, com o que estas experienciam, vivem e sofrem, e sempre que um sorriso é esboçado, sempre que um gesto mais meigo, mais amigo é cumprido, é sentida toda uma multidão de sentimentos e emoções que transforma Puros numa leitura como nenhuma outra igual.
As personagens que povoam esta obra são absolutamente fantásticas e memoráveis — tanto as principais quanto as secundárias. Intervenientes como Bradwell, Lyda ou El Capitam desfrutam de tanto destaque, de tanta importância quanto os protagonistas, Pressia e Partridge, e tal penso ser somente possível devido ao modo complexo com que Baggott escreve esta história, fugindo da narração na primeira pessoa e dando, assim, oportunidade de crescimento a outras personagens para lá das figuras principais. Mas ainda mais que as vozes presentes nesta trama, o que verdadeiramente impressiona e deixa uma marca no leitor são as descrições de seres que poderiam ser nossos conhecidos afectados por deformidades nunca antes pensáveis. Essa sim é a real beleza de Puros, ainda que descrita com horror.

Há ainda tanto por dizer relativamente a este livro, é-me impossível colocar em palavras o quão especial e única é esta obra, o quanto desejo que vocês, leitores, lhe dêem uma oportunidade e se deixem maravilhar por algo como nunca antes leram. Puros é verdadeiramente extraordinário, uma narrativa de excelência que agradará a um público tanto jovem quanto adulto, pois quando o romance é uma característica secundária e a sobrevivência, a descoberta e a desfiguração uma realidade constante entre páginas, nada há que melhor ilustre o que uma distopia deve conter. Perfeito. Indiscutivelmente, perfeito.


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4 comentários:

Anónimo disse...

Ainda não sei se compre este livro ou não... parece um pouco de The Hunger Games, Divergent e Delirium. Talvez não seja nada disso, mas receio comprar e arrepender-me. :/

Rosana Maia disse...

Olá :)
Gostei muito de ler esta opinião. Fiquei mesmo com vontade de ler. :)
Boas viagens,
Rosana
http://bloguinhasparadise.blogspot.pt/

Sofia Maia disse...

Adorei a opinião :) ainda fiquei mais ansiosa que o meu chegue a casa para o começar a ler! :)

Pedacinho Literário disse...

D. Santos,

Eu pessoalmente gostei muito, até porque a componente romântica do texto é quase inexistente e quando aparece, não se torna o principal da história. E em termos de worldbuilding, é igualmente muito poderoso. Sim, é uma distopia e por isso vais ter sempre sensações de outras distopias que leste e gostaste ou não gostaste, mas olha que acho que Puros traz um bom conceito de 'novidade' ao género. Tenta ler umas páginas antes de arrancares para a compra, pode ser que te ajude a decidir. =)

Rosana Maia & Sofia Maia,

Obrigada! Fico muito contente em saber que a minha opinião vos deixou curiosa em relação ao livro. Espero que gostem dele tanto ou mais que eu! xD

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