segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Quando Tu Eras Meu, Rebecca Serle [Opinião]




Título Original: When You Were Mine
Autoria: Rebecca Serle
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 252
Tradução: Andreia Mendonça


Sinopse:

E se a maior história de amor de todos os tempos estivesse enganada?
Todos pensam que Romeu e Julieta foram impotentes face ao seu destino, que ficaram à mercê do amor que nutriam um pelo outro. Não é verdade. Julieta não era nenhuma rapariga doce e dilacerada pelo destino. Ela sabia exactamente o que fazia. O problema é que Shakespeare não. Romeu não pertencia a Julieta; pertencia-me a mim. Devíamos ficar juntos para sempre e teria sido assim se alguém não mo roubasse. Talvez isso pudesse ser evitado. E então talvez ainda estivesse vivo.

Opinião:

Poucos devem ser os leitores que, por esta altura, ainda não se encontram familiarizados com aquela que é considerada a mais fatídica e deslumbrante história de amor de todos os tempos — falo d’ A Tragédia de Romeu e Julieta, do indiscutivelmente singular William Shakespeare. Quando Tu Eras Meu promete, sem meias medidas, um recontar romântico, ainda que pontuado por traços de tristeza e amargura, desta fábula de tempos antigos vista agora pelos olhos de Rosalina, a rapariga que outrora foi a razão do palpitar inconstante do coração de Romeu. Acontece que, e numa perspectiva absolutamente pessoal, Rebecca Serle não foi capaz de atingir os objectivos a que se auto-propôs, e muito menos mostrou a competência necessária, e ardentemente por mim esperada, em captar, por completo, a atenção desta vossa leitora.

E se Julieta não fosse a menina inocente, de temperamento afável, que Shakespeare retratou com tanto cuidado? E se fosse antes Rosalina aquela que deveria de ficar com tão galante amante, Romeu? E se Romeu não tivesse morrido por amor, mas sim por remorso?
Numa cidade da Califórnia do Sul, algures nos tempos modernos, três amigas de Liceu discutem os relacionamentos que construíram parte do seu passado, as amálgamas que tecem no presente, e as esperanças que aguardam para o futuro. Mas Rosalina é a única que encontra em Robert, a representação do seu próprio Romeu, a expectativa e o desejo de uma união que sabe, bem no fundo do seu peito, pertencer ao destino. Mas Robert padece de uma mutabilidade que se tornará facilmente perceptível com a súbita chegada de Julieta, e esta, por sua vez, não olhará a meios para atingir os seus fins...

Talvez não fosse esta associação à A Tragédia de Romeu e Julieta, e este livro teria um impacto diferente, mais marcante, mais vincado, principalmente tendo em conta a sua componente young adult. Mas talvez devido ao facto de a ter, e de na realidade não haver uma ligação assim tão forte assente no enredo, parte do seu encanto e parte do motivo que me levou a pegar-lhe simplesmente perdeu-se. Não é que o seu conteúdo não tenha o seu quê de interessante ou curioso, mas, infelizmente, os pequenos elementos que se destacam pela positiva e pela instância de novidade não são suficientemente fortes para esconder, renegar, todos os outros que pouco ou nada enfeitiçam.
Rosalina trata-se de uma personagem invulgarmente admirável e até familiar, mas a sua linguagem, enquanto narradora, não é, de todo, das mais atraentes. A distinta tonalidade teen provoca um certo afastamento num leitor mais maduro, mas é também verdade que, em dada medida, essa linguagem mais fácil e simples é agradável a um olhar mais jovem e, sem esquecer, é também muito própria entre as idades dos protagonistas. Ainda assim, mesmo que esta seja uma figura dotada de um certo magnetismo, as inconstâncias temporais presentes na narrativa, o pouco desenvolvimento oferecido a muitos dos intervenientes mais secundários, e os vários momentos abruptos em situações de notoriedade não ajudam a que a qualidade desta obra no geral seja, por si só, muito elevada.

Quanto Tu Eras Meu tem diversas falhas características de uma escrita estreante, mas possui, igualmente, uma essência que leva o leitor comum a devorar página após página, após página. A forma como a autora organizou o enredo, dividindo-o em capítulos que, por sinal, estão divididos por quatro actos foi uma metodologia interessante de introduzir na história e embora sejam só uma componente algo curiosa, oferecem uma jovialidade muito peculiar ao todo em si.
Por fim, é ainda merecedor de referir os vários temas que Rebecca Serle aborda ao longo da narrativa, desde a infância traumatizante de uma criança que não é totalmente amada pelos pais ao sofrimento pela perda de um amor querido, de um amigo que foi tanto mais. Estas e outras temáticas incorporam um certo carisma na leitura e é engraçado como, perto do final, se nota um estranho mas agradável amadurecimento não somente na escrita como na personagem principal, Rosalina. É quase como se esta se apercebe-se de todas as potencialidades que a sua vida ainda tem, e da felicidade que ainda pode alcançar, caso esteja disposta a lutar por ela.

Essencialmente, este é um romance que me deixa os vários sentimentos que por ele nutro em total confusão. Se por um lado existem momentos de beleza imutável, com substância, por outro vários são os instantes em que a sensação de estar perdida e ‘fora’ do contexto da história, à espera que algo mude, que tudo melhore, me deixam na constante expectativa, o que enfatiza esta revolução desordenada face o fim da leitura.
Em todo o caso, esta é uma aposta Planeta Manuscrito que prima pela diferença. Acredito que seja história de muitos leitores, principalmente se estes estiverem à procura de uma leitura suave, ‘descomplicada’ e relativamente breve. Aos que precisam de algo com mais âmago, talvez esta não seja a aposta mais certeira.

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