quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Cor do Desejo, Vina Jackson [Opinião]





Título Original: Eighty Days Yellow
Autoria: Vina Jackson
Editora: 5 Sentidos
Nº. Páginas: 260
Tradução: Carla Melo


Sinopse:

Summer Zahova é uma violinista ardente e impetuosa, que vive uma relação frustrante com um homem que não a compreende. É na música que encontra a sua libertação. Ela passa as tardes nas estações de metro de Londres a tocar violino, perdida nas partituras de Vivaldi e Mendelsshon. Um dia o seu violino sofre um acidente irreparável e Summer recebe uma proposta inesperada de Dominik, professor universitário, um homem atormentado por desejos inconfessáveis que ficou fascinado por Summer quando a ouviu tocar. Dominik oferecer-lhe-á um novo violino na condição de ela tocar para ele em privado.
Incapazes de reprimir a forte atração que sentem, Dominik e Summer embarcam numa aventura intensa e ousada. Para Summer é a oportunidade de se confrontar com o seu lado mais sombrio, no entanto, cedo se apercebe de que o prazer tem um preço elevado. Mas poderá uma relação nascida de uma tal paixão sobreviver?


Opinião:

Existem momentos especiais capazes de mudar, por inteiro, o curso de uma vida—o estilhaçar palpável de uma parte de nós, o escutar de uma música que nos embala, que nos diz algo e que nos provoca a querer mais, o relutante e algo curioso «sim» face o desconhecido... Elas estão lá, aquelas pequenas variações que nos moldam e nos fazem ser quem somos, mostrar quem desejamos ser. E quando esses instantes perdidos no tempo nos levam à mais bela e ansiada das descobertas, não há como lhes resistir, como os odiar...

A Cor do Desejo representa, a meu ver, o exemplo perfeito de como uma capa simples e bonita pode ter um interior bem mais complicado de definir e idealizar. As promessas encontram-se lá, numa sinopse provocadora e que deixa antever uma aventura erótica sem igual, mas a verdade é que, se as expectativas estavam em alta—até porque anda por ali um violino—, o resultado das mesmas não poderia, no meu caso, ser mais desastroso.
Vina Jackson trata-se de um pseudónimo, de uma estreia anónima, a duas vozes, num estilo literário que, actualmente, tem vindo a ser grandemente explorado. Não fossem as inúmeras e incontáveis descrições emocionais e de acção que povoam o texto narrativa, e de certeza que esta teria sido uma leitura bem mais fácil e fluida. Não sei precisar se esta foi a mais acertada das escolhas, a união destes dois escritores num só, mas espero, sinceramente, que o volume seguinte mostre uma abordagem bastante mais simplificada e, até, floreada, do que poderia ser uma história com bastante potencial.

A musicalidade instintiva, transcendente, e altamente presente no decorrer da história—ainda que de forma cada vez mais peculiar—, que não só aborda a beleza dos clássicos como transmite, poderosamente, os sentimentos puros, crus, que um músico experimenta de toda a vez que toca uma peça, é um dos elementos, se não mesmo o elemento, mais importantes e agradáveis do livro. Neste caso em particular, admito ser bastante suspeita em termos opinativos, pois o violino é dos instrumentos que maior curiosidade me suscita, e dos sons mais belos que alguma vez se pode ouvir numa vida, quando tocado correctamente. Tendo este pormenor em conta, a parte melodiosa de mim que não se soube distanciar do enredo e impedir que me apaixonasse perdidamente pela graciosidade deste aparelho, viu-se desfalecer face um lado mais obscuro e provocador da harmonia. No entanto, para positivar um todo, não foi o suficiente.

Aborreceu-me um pouco a importância dada ao vestuário das personagens. Compreendo que este seja um romance direccionado para o público feminino que, obviamente, terá um interesse inerente por tudo o que é roupa e calçado, mas a sério que estes dois escritores que dão vida a Vina Jackson (supondo eu, talvez até erroneamente, de que se trate de figuras do sexo masculino) acreditam mesmo que todas as mulheres apreciam ler tão detalhadamente sobre... vestimentas? É que somando todas as páginas, tinta e papel perdidos em extensas narrações de vestidos, sapatos de salto agulha e falta de roupa—porque esta acaba, inadvertidamente, também por desaparecer—, e comparando à atenção que poderia ter sido dada a outras situações—nomeadamente, a um maior empenho no que toca a diálogos—, esta ousada escolha foi, para mim, um desperdício—quase!, porque percebe-se o porquê de alguns desses momentos—em absoluto.

BDSM falando, creio que esta história é das que melhor e mais pormenorizadamente desenvolve a temática, mantendo-se fiel à ideia de que nem tudo se resume a uma relação de dominador/submisso. Mostrando, por vezes, contornos mais suaves de BDSM e introduzindo, também, a componente fetichista que muitas vezes acompanha os praticantes deste «estilo de vida», com um curioso voyeurismo aqui e ali, no que diz respeito ao conteúdo erótico de A Cor do Desejo, não só encontro um imenso potencial e crescimento que poderá, efectivamente, agradar a muitos leitores, como também acredito que, não fossem as más opções criativas, este livro poderia ser tão, mas tão melhor.

O balanço entre narrativa descritiva e falada está longe de ser perfeito. Muitos acontecimentos encontram-se narrados ao invés de experienciados, no momento, pelas personagens, de modo a que o leitor pudesse criar ligações estreitas e imprescindíveis de forma a manter o interesse e a expectativa presentes ao longo do texto, mas visto tal não acontecer, é com um certo enfado que se encara página, atrás de página, atrás de página de descrição, descrição, e mais descrição. Até porque os pequenos e extremamente sumidos diálogos quando aparecem, dão a sensação de não possuírem qualquer substância, qualquer inteligência ou propósito que não o de iniciar um encontro sensual ou uma conversa de contornos eróticos. Penso que, neste género literário, o que o leitor procura é uma história ligeira e até algo suave, sem grandes complicações ou complexidades, que flua naturalmente e, para enorme desagrado, a ampla «mancha negra» de texto presente página sim, página sim, pura e simplesmente, não o permite.

Se a divisão de perspectivas num romance é, muitas vezes, um benefício pois possibilita ao leitor a compreensão emocional de ambos os lados que constroem e transformam a trama, neste caso em específico, não senti que a visão de Dominik fosse tão ou mais interessante—e, atrevo-me a dizer, necessária—de modo a justificar a dualidade narrativa. Desde o início que achei a excentricidade e lado mais peculiar, promíscuo até, de Summer indubitavelmente mais apelativo que o misticismo confuso de Dominik, e numa última instância, julgo que Summer é bem mais intrincada e completa como personagem—o que se traduz, também, em mais forte—que Dominik.

Não pretendo, com esta minha opinião, dissuadir o leitor que me lê de adquirir ou simplesmente experimentar este livro, acontece apenas que, dentro do estilo e tendo em consideração as várias componentes menos agradáveis encontradas pelo caminho, não vejo este romance como uma aposta sublime ou revolucionária. Dizem que melhora a partir daqui, e visto até que 80 Dias se trata de uma série—com mais qualquer coisa ali pelo meio—, pode ser que este seja um caso isolado, vitima da complexidade do volume introdutório, contudo, e numa perspectiva inteiramente pessoal, não foi leitura que me tivesse deslumbrado, o que é pena.
Uma aposta 5 Sentidos que possivelmente poderá vir a deliciar, e a conquistar, um verdadeiro adepto do género. Afinal, não podemos todos gostar de amarelo, não é verdade?

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