Título Original: Eighty
Days Yellow
Autoria: Vina Jackson
Editora: 5 Sentidos
Nº. Páginas: 260
Tradução: Carla Melo
Sinopse:
Summer Zahova é uma violinista ardente e impetuosa, que
vive uma relação frustrante com um homem que não a compreende. É na música que
encontra a sua libertação. Ela passa as tardes nas estações de metro de Londres
a tocar violino, perdida nas partituras de Vivaldi e Mendelsshon. Um dia o seu
violino sofre um acidente irreparável e Summer recebe uma proposta inesperada
de Dominik, professor universitário, um homem atormentado por desejos inconfessáveis
que ficou fascinado por Summer quando a ouviu tocar. Dominik oferecer-lhe-á um
novo violino na condição de ela tocar para ele em privado.
Incapazes de reprimir a forte atração que sentem, Dominik e Summer embarcam numa aventura intensa e ousada. Para Summer é a oportunidade de se confrontar com o seu lado mais sombrio, no entanto, cedo se apercebe de que o prazer tem um preço elevado. Mas poderá uma relação nascida de uma tal paixão sobreviver?
Incapazes de reprimir a forte atração que sentem, Dominik e Summer embarcam numa aventura intensa e ousada. Para Summer é a oportunidade de se confrontar com o seu lado mais sombrio, no entanto, cedo se apercebe de que o prazer tem um preço elevado. Mas poderá uma relação nascida de uma tal paixão sobreviver?
Opinião:
Existem momentos
especiais capazes de mudar, por inteiro, o curso de uma vida—o estilhaçar palpável
de uma parte de nós, o escutar de uma música que nos embala, que nos diz algo e
que nos provoca a querer mais, o relutante e algo curioso «sim» face o desconhecido...
Elas estão lá, aquelas pequenas variações que nos moldam e nos fazem ser quem
somos, mostrar quem desejamos ser. E quando esses instantes perdidos no tempo
nos levam à mais bela e ansiada das descobertas, não há como lhes resistir,
como os odiar...
A Cor do Desejo representa, a
meu ver, o exemplo perfeito de como uma capa simples e bonita pode ter um
interior bem mais complicado de definir e idealizar. As promessas encontram-se
lá, numa sinopse provocadora e que deixa antever uma aventura erótica sem
igual, mas a verdade é que, se as expectativas estavam em alta—até porque anda
por ali um violino—, o resultado das mesmas não poderia, no meu caso, ser mais
desastroso.
Vina Jackson trata-se
de um pseudónimo, de uma estreia anónima, a duas vozes, num estilo literário
que, actualmente, tem vindo a ser grandemente explorado. Não fossem as inúmeras
e incontáveis descrições emocionais e de acção que povoam o texto narrativa, e
de certeza que esta teria sido uma leitura bem mais fácil e fluida. Não sei
precisar se esta foi a mais acertada das escolhas, a união destes dois
escritores num só, mas espero, sinceramente, que o volume seguinte mostre uma
abordagem bastante mais simplificada e, até, floreada, do que poderia ser uma
história com bastante potencial.
A musicalidade
instintiva, transcendente, e altamente presente no decorrer da história—ainda
que de forma cada vez mais peculiar—, que não só aborda a beleza dos clássicos
como transmite, poderosamente, os sentimentos puros, crus, que um músico
experimenta de toda a vez que toca uma peça, é um dos elementos, se não mesmo o elemento, mais importantes e agradáveis
do livro. Neste caso em particular, admito ser bastante suspeita em termos
opinativos, pois o violino é dos instrumentos que maior curiosidade me suscita,
e dos sons mais belos que alguma vez se pode ouvir numa vida, quando tocado
correctamente. Tendo este pormenor em conta, a parte melodiosa de mim que não
se soube distanciar do enredo e impedir que me apaixonasse perdidamente pela
graciosidade deste aparelho, viu-se desfalecer face um lado mais obscuro e
provocador da harmonia. No entanto, para positivar um todo, não foi o
suficiente.
Aborreceu-me um pouco a
importância dada ao vestuário das personagens. Compreendo que este seja um
romance direccionado para o público feminino que, obviamente, terá um interesse
inerente por tudo o que é roupa e calçado, mas a sério que estes dois
escritores que dão vida a Vina Jackson (supondo eu, talvez até erroneamente, de
que se trate de figuras do sexo masculino) acreditam mesmo que todas as
mulheres apreciam ler tão detalhadamente sobre... vestimentas? É que somando
todas as páginas, tinta e papel perdidos em extensas narrações de vestidos,
sapatos de salto agulha e falta de roupa—porque esta acaba, inadvertidamente,
também por desaparecer—, e comparando à atenção que poderia ter sido dada a
outras situações—nomeadamente, a um maior empenho no que toca a diálogos—, esta
ousada escolha foi, para mim, um desperdício—quase!, porque percebe-se o porquê
de alguns desses momentos—em absoluto.
BDSM falando, creio que
esta história é das que melhor e mais pormenorizadamente desenvolve a temática,
mantendo-se fiel à ideia de que nem tudo se resume a uma relação de
dominador/submisso. Mostrando, por vezes, contornos mais suaves de BDSM e
introduzindo, também, a componente fetichista que muitas vezes acompanha os
praticantes deste «estilo de vida», com um curioso voyeurismo aqui e ali, no
que diz respeito ao conteúdo erótico de A
Cor do Desejo, não só encontro um imenso potencial e crescimento que poderá,
efectivamente, agradar a muitos leitores, como também acredito que, não fossem
as más opções criativas, este livro poderia ser tão, mas tão melhor.
O balanço entre
narrativa descritiva e falada está longe de ser perfeito. Muitos acontecimentos
encontram-se narrados ao invés de experienciados, no momento, pelas
personagens, de modo a que o leitor pudesse criar ligações estreitas e
imprescindíveis de forma a manter o interesse e a expectativa presentes ao
longo do texto, mas visto tal não acontecer, é com um certo enfado que se
encara página, atrás de página, atrás de página de descrição, descrição, e mais
descrição. Até porque os pequenos e extremamente sumidos diálogos quando
aparecem, dão a sensação de não possuírem qualquer substância, qualquer inteligência
ou propósito que não o de iniciar um encontro sensual ou uma conversa de
contornos eróticos. Penso que, neste género literário, o que o leitor procura é
uma história ligeira e até algo suave, sem grandes complicações ou
complexidades, que flua naturalmente e, para enorme desagrado, a ampla «mancha
negra» de texto presente página sim, página sim, pura e simplesmente, não o
permite.
Se a divisão de
perspectivas num romance é, muitas vezes, um benefício pois possibilita ao
leitor a compreensão emocional de ambos os lados que constroem e transformam a
trama, neste caso em específico, não senti que a visão de Dominik fosse tão ou
mais interessante—e, atrevo-me a dizer, necessária—de modo a justificar a
dualidade narrativa. Desde o início que achei a excentricidade e lado mais
peculiar, promíscuo até, de Summer indubitavelmente mais apelativo que o
misticismo confuso de Dominik, e numa última instância, julgo que Summer é bem
mais intrincada e completa como personagem—o que se traduz, também, em mais
forte—que Dominik.
Não pretendo, com esta
minha opinião, dissuadir o leitor que me lê de adquirir ou simplesmente
experimentar este livro, acontece apenas que, dentro do estilo e tendo em
consideração as várias componentes menos agradáveis encontradas pelo caminho, não
vejo este romance como uma aposta sublime ou revolucionária. Dizem que melhora
a partir daqui, e visto até que 80 Dias se trata de uma série—com mais qualquer
coisa ali pelo meio—, pode ser que este seja um caso isolado, vitima da
complexidade do volume introdutório, contudo, e numa perspectiva inteiramente
pessoal, não foi leitura que me tivesse deslumbrado, o que é pena.
Uma aposta 5
Sentidos que possivelmente poderá vir a deliciar, e a conquistar, um
verdadeiro adepto do género. Afinal, não podemos todos gostar de amarelo, não é
verdade?
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