Título Original: The Duke and I
Autoria: Julia Quinn
Editora: ASA
Nº. Páginas: 367
Tradução: Helena Ruão
Sinopse:
As mães casamenteiras da alta sociedade londrina estão ao rubro: Simon Bassett, o atraente (e solteiro!) duque de Hastings, está de volta a Inglaterra. O jovem aristocrata mal sabe o que o espera pois a perseguição das enérgicas senhoras é implacável. Mas Simon não pretende abdicar da sua liberdade tão cedo…
Igualmente atormentada pela pressão social, a adorável Daphne Bridgerton sonha ainda com um casamento de amor, embora a sua espera por um príncipe encantado comece já a ser alvo de mexericos. Juntos, os jovens decidem fingir um noivado, o que garantirá paz e sossego a Simon e fará de Daphne a mais cobiçada jovem da temporada.
Mas, entre salões de baile e passeios ao luar, a paixão entre ambos rapidamente deixa de ser ficção para se tornar bem real. E embora Daphne comece a pensar em alterar ligeiramente os seus planos iniciais, Simon debate-se com um segredo que pode ser fatal…
Opinião:
Meia dúzia de enganos e palavras imperfeitas levam a que uma criança se refugie na rebeldia da indiferença. Esquecendo o título, esquecendo o nome, foca-se inteiramente naqueles que, de algum modo, a poderão ajudar a ser alguém... que vá contra os padrões a si associados. Mas quando uma bela e interdita jovem se cruza no seu caminho, nem o mais arrogante e ameaçador dos irmãos poderá, alguma vez, dissuadir o intenso desejo que esta criança virada homem tem de a possuir. E assim... começam os mexericos.
Crónica de Paixões e Caprichos trata-se da assombrosamente divertida e comovente estreia de Julia Quinn, em terras lusas. Pegando numa família numerosa e ironicamente arrebatadora, esta autora cria um enredo genial que, sempre pontuado com um certo humor, cativa o leitor logo ao fim das primeiras páginas, quando uma das personagens de maior interesse e importância é apresentada de forma enternecedora embora altamente conflituosa. Este primeiro vislumbre problemático perseguirá ambos leitor e personagem ao longo de toda a trama, provocando o primeiro com avanços e recuos prazenteiros e o segundo com uma imensidão de negações e provações.
Dotada de uma linguagem moderna mas, ainda assim, apropriada à época em questão, ao mesmo tempo que inunda as suas páginas de desafios constantes e momentos ilustremente hilariantes, Julia Quinn transforma-se, e com uma facilidade estonteante, numa autora de destaque merecido.
Diz-se que as personagens são o núcleo de uma história, e esta apaixonante narrativa não é excepção! Toda a família Bridgerton é meticulosamente primorosa. Dos intervenientes mais divertidos e extasiantes que tive o prazer de conhecer, este conjunto de indivíduos é espectacular no seu humor, elegante no modo em como se protegem e apoiam mutuamente e excessivamente viciante nas pequenas distinções – e até semelhanças – que os constituem.
Daphne é uma personagem delicadamente desafiadora. Com uma personalidade vincada e anos de experiência a lidar com rapazes, esta jovem senhora que mal pode esperar por casar e constituir família, vê-se enredada numa teia de falsos interesses e mentiras dissimuladas que, a não ser que jogue com cuidado, a muito custo conseguirá escapar incólume. É que brincar com o amor é o equivalente a brincar com o fogo, e se Daphne não estiver atenta, certamente irá queimar-se.
Simon Bassett é o típico galã atormentado por um acontecimento do passado que marcou todo o seu crescimento pessoal e social. Homem de uma beleza infinita e de um auto-controlo de ferro, esta personagem é uma delicia do principio ao fim, esteja ele a ser importunado pela não aceitação do seu melhor amigo, ou pela irresistível beleza de Daphne.
A um nível pessoal – embora tenha ficado deslumbrada com Simon –, gostei imenso dos Bridgerton. Esta família de loucos é mortificante na exuberância de cada uma das nove personalidades irreverentes que apresenta. Se por um lado temos uma Violet dissimuladamente inteligente, por outro temos uma Hyacinth femininamente arrebatadora, passando por um Anthony de «o que raio se está a passar?» sempre aflorado nos lábios, um Colin sedutoramente descontraído e uma Daphne eximiamente teimosa. Sem dúvida, um leque de personagens muito bem caracterizado e inserido na época retratada, que levará o leitor a soltar um incontável número de gargalhadas e suspiros.
Dentro do género em que se insere, Crónica de Paixões e Caprichos trata-se de um romance maravilhoso no sentido em que conjuga, em igual medida, doses de humor, conflito e acção. Passando por todo um turbilhão de emoções, desde o amor à paixão, do medo ao ódio, este belíssimo enredo destaca-se pelas opções tomadas por parte da autora, pelos caminhos que as suas personagens tomam, e pelos mexericos e intrigas que, no início de cada capítulo, uma misteriosa Lady Whistledown lança para a sociedade.
Um fulgurante romance de época, imperdível na sua diferença, magnífico no seu conteúdo, esta é uma obra que qualquer apreciador do género – e não só! – não poderá perder. Uma trama leve, que facilmente entretém e deslumbra, Crónica de Paixões e Caprichos é, para mim, uma das grandes apostas do ano, por parte de uma editora que tem vindo a surpreender a cada mês que passa, ASA.
Mal posso esperar por saber que tem Lady Whistledown a informar, não só a Londres, mas também a nós leitores!