sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Um Longo Regresso a Casa, Gail Calwell



Título Original: Let’s take the Long Way Home
Autoria: Gail Caldwell
Editora: Livros d’Hoje
Nº. Páginas: 203
Tradução: Anabela Silva


Sinopse:

«Esta é uma velha história: eu tinha uma amiga com quem partilhava tudo, até que ela morreu e também isso partilhámos.
Um ano depois de ela ter partido, quando eu julgava já ter ultrapassado a loucura daquele sofrimento inicial, caminhava no parque de Cambridge onde durante anos Caroline e eu passeámos os cães. Era uma tarde de inverno e o local estava vazio – a estrada fazia uma curva, não havia ninguém à minha frente nem atrás de mim e eu senti uma desolação tão grande que, por momentos, os meus joelhos ficaram imóveis. “O que estou aqui a fazer?”, perguntei-lhe em voz alta, habituada agora a conversar com uma melhor amiga morta. “Devo seguir em frente?”»


Opinião:

Ainda mais que o amor, a amizade é uma partilha de sentimentos sem a qual não se consegue viver. É a segurança de se ter alguém em quem confiar, o conforto de sermos ouvidos durante horas e a alegria de se sentir que existe uma pessoa no mundo que verdadeiramente gosta de nós pelo que somos e pelo que acreditamos. Quando essa amizade é perdida, forma-se um vazio tal no nosso peito que nada o conseguirá voltar a encher... mas quando essa amizade morre, como seremos capazes de continuar sem ela? Como seremos capazes de a ultrapassar e, simplesmente, agradecer pelo tempo que tivemos em vez de injuriar pelo que nos foi roubado?

Um Longo Regresso a Casa não é uma obra comum. Não é agradável, não é conexa e muito menos é feliz. Este é um romance que visa eternizar a maior e mais intensa amizade que a autora, Gail Caldwell, teve o prazer de partilhar com Caroline, e que sabe, a partir do momento em que a perde, que nunca mais encontrará ninguém como aquela que lhe fugiu por entre os dedos. Por ser especial, por ser imprescindível e insubstituível, Calwell escreveu este livro, num estilo extremamente corrido e vívido, onde se debate, numa constante, não só com um passado conturbado e marcado por inúmeros erros, como com um futuro incerto e um pouco mais leviano, agora que Caroline partiu para outro plano. Mas, embora acarte uma atmosfera algo pesada e lúgubre, Um Longo Regresso a Casa é uma narrativa sobre memórias – algumas mais felizes que outras –, sobre questões mantidas fechadas a sete chaves e mágoas que persistirão face o súbito abandono, sobre uma amizade inigualável em gostos, em atitudes e em gestos e sobre conseguir-se guardar o que de bom a vida oferece em detrimento de batalhar contra o que, por vezes, nos retira.

Esta foi, para mim, uma narrativa sofrida, pontuada pelo desespero da perda e pela alegria da partilha. É bastante claro e óbvio, pelas suas palavras e divagações, a dor e o sofrimento sentidos pela autora e que, de uma forma incrivelmente bela e natural, se encontram enraizados em cada uma das páginas que constitui este pequeno mas imensamente emocional livro. Não nos podemos esquecer que Um Longo Regresso a Casa é a história de uma mulher profundamente marcada pela morte de uma pessoa que, no mais importante da vida, a completava. E quando essa pessoa deixa de existir ao nosso lado para, somente, persistir no nosso coração, é indispensável que se recorde os bons e os maus momentos para que se possa, igualmente, manter a loucura afastada de nós.

Gostei muito deste livro pelo facto de ser, quase, um manual de sobrevivência - além de uma forma de manter viva uma pessoa que nos tocou. É, sem dúvida, uma história que respira – e inspira – intensidade e devoção a uma amizade inestimável – inapreciável! – e unicamente perfeita e equilibrada. Uma obra que não só deveria ser lida por todos como, de certo, será inigualável para quem já passou por uma situação semelhante. Uma aposta fabulosa e realmente sentimental e verdadeira da Livros d’Hoje.


«Aquilo que nunca ninguém nos diz sobre o sofrimento é que perder alguém é a parte mais simples», pág. 17

«Conhecer Caroline fora como procurar um amigo imaginário através de um anúncio pessoal e depois recebê-lo à porta de casa melhor e mais divertido do que alguma vez imaginara.», pág. 21

«A morte é um divórcio que ninguém quis; viver com ela é encontrar uma forma de nos separarmos daquilo que julgámos que não suportaríamos perder.», pág. 169

Sem comentários:

2009 Pedacinho Literário. All Rights Reserved.