Título Original: Bone Crossed
Autoria: Patricia Briggs
Editora: Saída de Emergência
N.º Páginas: 259
Tradução: Manuel Alberto Vieira
Sinopse:
Ainda a curar-se, tanto no espírito como no corpo, dos brutais acontecimentos ocorridos recentemente na sua vida, Mercy Thompson está longe de poder baixar a guarda. Agora é a rainha dos vampiros, a temível Marsilia, que está furiosa por descobrir que Mercy não só matou um vampiro como também oculta uma identidade secreta ameaçadora para os da sua espécie... Mercy tem a protecção do bando local de lobisomens, e o seu interesse romântico pelo Alfa torna a ligação ainda mais intensa, mas é bom que a coiote em si esteja alerta, pois a rainha Marsilia não perdoa e irá atrás de Mercy de uma forma ou de outra...
Opinião:
Se há coisa que me dá verdadeiro prazer... é ler. Adoro o cheiro dos livros, a textura das páginas, a beleza das capas e aquela curiosidade insistente das sinopses bem elaboradas. Escapar à rotina, percorrer imensos mundos fantásticos povoados de criaturas místicas e paisagens idílicas é sempre uma forma irreal de sonhar... que, no entanto, rapidamente se transforma numa ambiência necessária. Mas, mais do que tudo isso, o que adoro é uma boa história e, para mim, não há ninguém como Patricia Briggs.
Briggs é única, maravilhosamente perfeita na forma como conduz uma protagonista que tem tanto de forte como de frágil através de uma completa parafernália de tropelias, reviravoltas inesperadas e surpresas perigosas. A acompanhar uma aventura sem fim, a autora tem ainda a audácia de engendrar um romance selvagem e poderoso que mesmo no seu avanço calmo e singular consegue despertar a atenção do leitor, fazendo com que este se delicie com a beleza dos pequenos momentos e dos suaves gestos que o casal dominante partilha entre si.
Igualmente agradável, para além do estilo inconfundível de Briggs, é o constante reencontrar de algumas das personagens principais e/ou de maior destaque em volumes anteriores mas que, neste caso e por opções criativas, se mantiveram escondidas no seu covil aquando da acção de Beijo do Ferro. Stefan, em particular, é daquelas personalidades requintadas e temerárias que se deseja partilhar em histórias cativantes como esta. Sendo uma das figuras que mais admiro, foi dos intervenientes que, num abrir e fechar de olhos, me voltou a encantar com o seu espírito fiel e, ao mesmo tempo, imprevisível tornando bastante aprazível a sua presença e importância ao longo do desenrolar da narrativa. Confesso ter sentido saudades de Stefan, que para mim sempre foi uma personagem divertida e sarcasticamente humorística e que, de uma forma surpreendente, soube deixar uma certa ambiguidade e incerteza no ar muito características da sua espécie.
Como esperado, principalmente tendo em conta o desenvolvimento no volume anterior, Adam volta a arrebatar corações no modo como se predispõe a esperar, aceitar e tratar a sua mais que tudo. É bastante interessante, tendo em conta que Mercy tomou a sua decisão na escolha de um parceiro, ficar a conhecer o que o move enquanto lobo e enquanto “humano” e descobrir até que ponto está ele disposto a ir para proteger, salvaguardar e amar não só Mercy mas também o seu bando e a sua família.
Quanto a Mercedes, está visível, ao longo das páginas, o crescimento da personagem como mulher, coiote e perpétuo chamariz de problemas. Destaco a faceta mais sensível e vulnerável que Briggs mostrou neste Cruz de Ossos, decididamente apropriada e credível após uma violação tanto física como mental. Mercedes Thompson é, sem sombra de dúvida, não só uma das mais sólidas e interessantes protagonistas que tive o prazer de conhecer em todos estes anos de leitura, como igualmente das melhores personagens, mais apelativas e humanas possíveis de serem criadas. Neste aspecto, Patricia Briggs fez um trabalho exímio.
Quanto ao desenrolar da história propriamente dita, posso dizer que, embora Beijo do Ferro tenha sido um volume de mudanças, de tomada de decisões e escolhas, Cruz de Ossos serve como solidificação e plena aceitação de todas as promessas e desejos profetizados em livros anteriores, assim como de maior descoberta pessoal e mental no que diz respeito às regras e bases com que os vampiros se regem e com as quais os lobos de conformam - ou confrontam.
Não se tratando de uma obra extensa e possuindo um estilo de escrita moderno e mordaz, Cruz de Ossos é uma narrativa que se lê rapidamente e com a qual se perde, por variadíssimas vezes, o fôlego. Até porque, com Patricia Briggs, quando se pensa que a chuva deu lugar à luminosidade de um sol resplandecente e de “um novo dia”, acontece sempre alguma coisa que vem alterar todo o conceito de “e tudo acaba bem”.
Um livro surpreendente... Uma autêntica caixinha de surpresas, Cruz de Ossos é a continuação que qualquer apaixonado por esta série, por esta autora e por esta protagonista não vai querer, de todo!, perder. Das minhas sagas favoritas, uma brilhante aposta da Saída de Emergência. Simplesmente viciante.