sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O Acompanhante, Jonathan Ames



Título Original: The Extra Man
Autoria: Jonathan Ames
Editora: Contraponto
Nº. Páginas: 419
Tradução: André Chêdas


Sinopse:

Esta é a história de Louis Ives, um jovem cavalheiro, ao jeito de um personagem de Scott Fitzgerald, que ensina Literatura Inglesa num colégio privado em Princeton... até ao dia em que é apanhado a vestir um sutiã de uma colega (em plena sala de professores) e é despedido.

Esta também é a história de Henry Harrison, um velho cavalheiro, ao jeito de um personagem de Hemingway, dramaturgo brilhante mas fracassado, viajante incansável mas falido, que ganha a vida como «homem extra» (um acompanhante de velhinhas de alta sociedade) e com o aluguer de um quarto no seu diminuto apartamento em Manhattan. Quando Louis decide, pela primeira vez na vida, ser aventureiro e mudar-se para Nova Iorque, o destino fá-lo ir bater à porta de Henry. Louis descobre em Henry uma verdadeira escola da vida: este Dom Quixote do Upper East Side ensina-lhe, entre outras coisas, que se deve começar o dia com exercício (de preferência ao som de Ethel Merman) e acabá-lo om cocktails; que não vale a pena pagar impostos; que não vale a pena pagar por um bilhete de ópera, quando se pode entrar de graça no segundo acto; e que um cavalheiro nunca fala de dinheiro e passa sempre o Verão em Palm Springs.

Louis aprende ainda que há muito por descobrir na cidade que nunca dorme, e é nos bares de travestis e transexuais de Times Square que se atreve a explorar a sua atracção pelo lado mais feminino da vida.


Opinião:

Este é um daqueles livros que primeiro se estranha e depois se entranha.

Foi com grande expectativa que iniciei esta leitura, iludida por uma sinopse misteriosa e, de alguma forma, cavalheira. Na minha mente, tinha presente a ideia de que me ia deparar com uma narrativa fortemente descritiva e focada nos modos essências e imprescindíveis dos jovens cavalheiros, assim como nos seus ensinamentos para se alcançar tamanho estatuto, contudo, estava enganada. Melhor que isso, foi encontrar uma escrita impressionantemente detalhada, dotada de uma maturidade e exuberância perspicaz e com um sentido de humor muito irónico e especifico. Aliás, confesso que me foi complicado entrar na história até porque não é um livro fácil de ser lido, muito pelo contrário, exige uma concentração constante e provoca um entusiasmo gradual, que vai crescendo conforme se vai virando página atrás de página. É um livro complexo, difícil, muito característico de si mesmo, mas que ao mesmo tempo consegue ser incansavelmente humano e encantador. Capta a atenção do leitor, que se fica debatendo num misto de angústia e desespero por lhe ser negada uma leitura compulsiva, frenética, voraz. É, sem sombra de dúvida, um livro para se apreciar, desfrutar, ler com calma, com tempo, e penso que isso é um dos seus maiores atributos, até porque, hoje em dia, tendo em conta a quantidade de obras que chegam diariamente às livrarias, fica complicado encontrar uma só que se mostre diferente, irreverente, incrivelmente superior às demais, como é o caso de O Acompanhante.

Gostei deste livro pela sua especificidade única. É uma história muito simples, que se centra em redor de duas personagens distintas, de personalidades opostas e desejos muito íntimos: Louis Ives e Henry Harrison.
Penso que nesta obra, a vida de Henry acaba por passar para segundo plano, destacando-se assim, na totalidade, Louis. Sabemos, logo ao fim das primeiras páginas, que Henry vai desempenhar um papel importante no desenvolvimento pessoal de Louis mas, com igual rapidez, chegamos também à conclusão que não há muito a enganar e a esperar dele mesmo. Sabemos que tem um fetiche por roupa interior de mulher e que não consegue resistir a um sutiã; sabemos que, mesmo com vinte e seis anos, continua a não saber ao certo o verdadeiro termo da sua sexualidade, indo assim procurar respostas aos locais mais inesperados; sabemos que é inteligente mas que, fora isso, o que mais quer da vida é ser amado e, principalmente, sabemos que muito dificilmente conseguirá abandonar um lar que, progressivamente foi criando, e onde tudo o que sempre desejou foi ser aceite pelo que é e não pelo que aparenta ser. Acima de tudo, esta é uma história de auto-descoberta e de aventura, de uma incessante procura de respostas e de uma ainda maior procura de aceitação (pessoal e pública), e é essa filosofia transcendente, retratada numa ideia base tão comum e passível de acontecer hoje em dia, que faz deste livro uma companhia muito agradável de se ter.

Uma leitura interessante e, acima de tudo, intrigante para se desfrutar numa bela tarde de chuva, confortavelmente instalada num sofá.
Para quem procura livros com um certo je ne sais quois, esta é a aposta perfeita. 

1 comentário:

B. disse...

Olá Patrícia!

A tua opinião deixou me muito curiosa!

bjinhs

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