sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Gata Branca, Holly Black [Opinião]




Título Original: White Cat (The Curse Workers #1)
Autoria: Holly Black
Editora: Editorial Presença
Colecção: Diversos Literatura, N.º 73
N.º Páginas: 268


Sinopse:
Cassel Sharpe é um jovem de dezassete anos que deseja ter uma vida normal. Mas quando se nasce numa família com uma forte tradição em manipulação de maldições a normalidade não é algo fácil de alcançar. Cassel vive ensombrado pela ameaça de, a qualquer momento, os poderes maléficos que correm na sua família se manifestarem também em si. Por diversas vezes, a sua vida é posta em risco quando, em sucessivos episódios de sonambulismo, passeia pelos telhados do colégio interno que frequenta. De volta a casa, torna-se cada vez mais claro para Cassel que um tenebroso segredo familiar ameaça destruí-lo. Desejoso de perceber quem realmente é, o jovem inicia uma cruzada de autodescoberta que o leva a enfrentar perigos cada vez maiores.


Opinião:
Por vezes deparamo-nos com histórias que extravasam originalidade da primeira à última página. Que nos agarram às suas palavras, às suas personagens, remetendo-nos para mundos ficcionais diferentes, singulares, muitas vezes até mesmo tocados pela destreza da magia. São essas narrativas, essas obras, que verdadeiramente marcam um leitor. E se já antes me havia surpreendido pelo dom natural de Holly Black, numa vertente um pouco menos madura e intricada, com Gata Branca a autora deixou-me sem palavras, completamente inundada por sentimentos sufocantes e emoções fortes, em torno de uma trama que tanto tem de peculiar quanto de extraordinário.

Cassel sofre de perigosos episódios de sonambulismo. A razão pela qual acorda, fora da cama e a meio da noite, é-lhe totalmente desconhecida, mas a presença constante de uma gata branca deixa-lhe um certo desconforto no corpo, e na mente, como que uma sensação estranha e inexplicável que não consegue largar. É então que Cassel decide investigar a sua situação, ao mesmo tempo que se depara com divergências familiares e suspeitas inesperadas – os segredos correm na família Sharpe como se de sangue num corpo quente se tratasse, e as maldições, a magia, guardam um intento obscuro que Cassel tem ainda de desvendar.

Esta é uma história que se encontra particularmente bem escrita, e belissimamente estruturada. Tudo tem um sentido, e é de pequenos pormenores que a base que sustenta o mundo de Cassel realmente se enriquece. Holly Black possui uma aptidão, uma dádiva, incrível com a palavra escrita, transformando meros cenários, ocorrências de acção, e personagens em autênticos vislumbres pulsantes de vida. Tudo ganha uma nova luz, seja ela brilhante ou obscura, quando saído dos dedos – ou teclado – esta deslumbrante autora.
O modo como Black desenvolveu a questão da magia, que é uma prática ilegal no mundo de Sharpe, é absolutamente fascinante. Enquanto manipuladores de maldições, onde existe toda uma hierarquia de géneros que vai desde a manipulação da sorte à manipulação das emoções, cada personagem pode escolher exercer o seu dom para o bem ou para o mal – mas seja qual for a sua decisão, cada manipulação que tecer terá uma consequência em si mesmo, seja a nível do corpo ou da mente. É assim que quem manipula o mal acaba por ser levado à loucura, ou ao esquecimento, e quem manipula o bem muitas vezes encontra um pouco de felicidade no seu caminho de ajuda ao outro. Mas sendo os Sharpe uma família de laços fortes com a máfia, sem dúvida que as consequências reais dos seus actos mágicos acabam por dar origem a muitos pormenores narrativos interessantes.

Cassel é uma personagem segura, por vezes impulsiva na conclusão dos actos, mas sempre de mente aberta e espírito criativo. Embora ocasionalmente vacile nos momentos em que a morte se encontra perto, Cassel permanece como uma figura atraente que sabe embalar o leitor na invulgar, mas ainda assim excepcional, história da sua vida. Sendo alguém que sabe lidar com os seus próprios sentimentos, os remorsos que sente para com Lila são, no mínimo, tocantes, e talvez seja daí que advêm as maiores e mais significativas surpresas. Tanto os irmãos de Cassel como o seu avô são intervenientes secundários de forte importância, que ajudam a que a narrativa se vá completando com situações perigosas, segredos ocultos e manipulações misteriosas – ainda assim, e por muito maliciosos que possam ser, não há como não os adorar.

Inédito, excêntrico e com o seu quê de bizarro, Gata Branca trata-se de um young adult com magníficas nuances noir e contornos mafiosos que vai deixar o leitor agarrado às suas páginas e, no fim, absolutamente sequioso por mais. Por vezes torna-se difícil descrever um livro que tem tanto de diferente, e de único, e de especial, que não só as palavras falham como parecem nunca ser suficientes – mas se procuram um livro igual a nenhum outro, este é, sem sombra de dúvida, uma escolha certeira.

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