Título Original: Starters
Autoria: Lissa Price
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 350
Tradução: Catarina F. Almeida
Sinopse:
Callie tem dezasseis anos e vive com Tyler, o irmão mais novo, e Michael,
um amigo, nos escombros da cidade de Los Angeles. Quando as Guerras dos Esporos
rebentaram, matando todos aqueles que tinham mais de vinte anos e menos de
sessenta, Callie perdeu os pais. Como muitos outros Iniciantes, teve de
aprender a sobreviver, ocupando prédios desabitados, roubando água e alimentos,
fugindo aos Inspectores e combatendo os Renegados. Para tirar Tyler das ruas e
garantir ao irmão uma vida melhor, Callie só vê uma solução: oferecer a sua
juventude à Destinos Primordiais, uma empresa misteriosa que aluga corpos
adolescentes aos velhos Terminantes - seniores, com centenas de anos, que
querem ser jovens outra vez. Tudo corre como previsto, até o neurochip que lhe
colocaram na cabeça avariar. Callie acorda, de súbito, na vida da sua locatária,
a viver numa luxuosa mansão, a guiar carros topo de gama e a sair com o neto de
um senador. A vida quase parece um conto de fadas, até Callie descobrir que a
sua locatária não quer apenas divertir-se e que, no mundo perverso da Destinos
Primordiais, a sobrevivência é apenas o começo.
Opinião:
Folheei esta obra em duas etapas bastante distintas. Numa fase inicial,
movida pela inesperada vinda da autora a terras lusas, estudei algumas páginas,
avançado relativamente pouco na história e espreitando, isso sim e quase em
exclusivo, somente a ponta deste icebergue distópico muito, muito promissor; e
depois, alguns meses mais tarde, numa segunda (e última) investida,
interessando-me pelas particularidades de cada personagem e pelos seus destinos
altamente cruéis, afeiçoando-me, também, a pequenos pormenores de uma
comunidade díspar que por tantas vezes me fez estremecer com os seus renovados
e controversos ideais.
Sendo eu uma grande apreciadora deste género literário, que ao longo do
tempo e das várias leituras me tem conquistado sobremaneira, cada vez mais me é
complicado encontrar romances que verdadeiramente me surpreendam e, mais
importante ainda, que me encham as medidas, captem por completo a minha atenção
e me deixem em suspenso para o volume seguinte. Alguns textos conseguem espicaçar-me
a curiosidade, com este ou aquele elemento mais impressionante. Outros, embora
em menor número, levam-me a um estado de ansiedade tal que mal posso esperar
por descobrir que infortúnios tais personagens, criaturas negligenciadas, ainda
terão de ultrapassar. Destinos
Interrompidos acabou por ser um misto destas duas possibilidades.
Tratando-se de uma premissa com todos os factores certos para vencer e,
assim, se tornar num dos grandes títulos dentro do género, seria de esperar
algo bem trabalhado, com uma escrita extremamente cuidada e inteligente, e umas
quantas reviravoltas de cortar a respiração. No entanto, e a meu ver, não foi
bem isso o que encontrei.
Destinos Interrompidos disserta
abertamente sobre os ideais actuais de beleza e sobre a constante busca pela
perpetuidade. Fortemente procuradas pela camada mais velha da sociedade—ou,
neste caso, os adultos—, ambos o belo e o imortal, é com horror que o leitor se
apercebe do sofrimento e do perigo que os mais novos, os menores—os Iniciantes—que
mais ninguém têm ao seu lado, abandonados por familiares que padeceram devido à
guerra dos esporos, enfrentam, quando limitados a viver na rua, ao sol e à
chuva, eternamente à caça de comida.
Lissa Price foi, na maioria das suas escolhas, perspicaz ao encontrar as
respostas, os problemas, para as tomadas de decisão. No entanto, penso que a
sua escrita carece de um pouco de sentimento, de emoção, e, enquanto leitora de
uma obra distópica, o que mais quero sentir é o medo, a dor e a esperança pelos
quais as várias personagens passam. Não me serve ser mera espectadora, quero
sentir que faço parte desse mundo destruído, que estou na pele de Callie, e de
Tyler, e de Michael, e não que me limito a “ler” o que de importante lhes
acontece. Neste aspecto, pessoalmente, Price falhou.
Mas este futuro imaginário da autora é muito complexo, repleto de singularidades,
nuances que fazem toda a diferença, e, por isso, mesmo assim, é fácil para o
leitor se deixar embrenhar na narrativa e desejar que o momento de a colocar de
lado, nem que seja por breves instante, nunca chegue.
Admito que gostaria de ter testemunhado um maior desenvolvimento no que diz
respeito às personagens em geral, com mais tempo de antena àquelas que são
secundárias, e mais ênfase à que se mostra principal, pois a verdade é que não
fui capaz de construir uma real ligação com nenhuma delas, mas creio que neste
aspecto a autora poderá ainda surpreender na sequela, Enders. Porém, e embora estes pequenos problemas não me tenham
impedido de desfrutar da leitura de Destinos
Interrompidos, penso que vieram a solidificar a ideia de que, caso esta
história tivesse sido abordada com uma dinâmica diferente, poderia ter tido um
resultado bastante mais apelativo.
Ainda assim, destaco uma série de componentes muito bem conseguidas e que
ajudaram a manter o meu interesse pela obra, mais ou menos, em alta.
A Destinos Primordiais foi um golpe de génio. Gostei imenso do conceito
existente por detrás da empresa assim como, em igual medida, fiquei
absolutamente petrificada com os negócios e as mentiras escondidos por entre as
paredes da mesma. A ideia de os Terminantes manterem as suas particularidades
como o bater insistente das unhas ou o não conseguir estar quieto, num corpo
jovem, Iniciante, é algo de extremo interesse e por todas as novidades
envolventes do banco de corpos e das intenções do Velho, dou os parabéns a
Price.
Infelizmente, este tipo de benesses criativas a par com algumas atitudes e
sacrifícios tomados pelas personagens, e uma ou outro reviravolta existente no
enredo não foram o suficiente para me maravilharem. Acreditem quando digo que
queria muito ter adorado este livro, muito mesmo, mas não consegui. Tenho uma
certa curiosidade em relação à sequela pela possível identidade do Velho devido
a uma simples frase/fala que a autora deixa no ar já nas páginas finais, mas
caso não fosse isso, não sei se quereria mesmo—mesmo!—ler a “dita cuja” mal
esta saia por cá.
Como último apontamento, dou ainda relevância ao título escolhido pela
editora. Originalmente intitulado de Starters,
penso que foi uma abordagem muito interessante terem traduzido para Destinos Interrompidos, o que, tendo em
conta alguns elementos da acção, faz todo o sentido.
Uma aposta com o seu quê de agradável por parte da Planeta
Manuscrito, que, embora não me tenha totalmente conquistado, como aconteceu (e ainda acontece) com outras obras fantásticas
do seu catálogo, ainda assim a vejo como uma leitura algo única para
apreciadores de outras obras do género, como Raptada ou Cinder.
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