quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Destinos Interrompidos, Lissa Price [Opinião]





Título Original: Starters
Autoria: Lissa Price
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 350
Tradução: Catarina F. Almeida


Sinopse:

Callie tem dezasseis anos e vive com Tyler, o irmão mais novo, e Michael, um amigo, nos escombros da cidade de Los Angeles. Quando as Guerras dos Esporos rebentaram, matando todos aqueles que tinham mais de vinte anos e menos de sessenta, Callie perdeu os pais. Como muitos outros Iniciantes, teve de aprender a sobreviver, ocupando prédios desabitados, roubando água e alimentos, fugindo aos Inspectores e combatendo os Renegados. Para tirar Tyler das ruas e garantir ao irmão uma vida melhor, Callie só vê uma solução: oferecer a sua juventude à Destinos Primordiais, uma empresa misteriosa que aluga corpos adolescentes aos velhos Terminantes - seniores, com centenas de anos, que querem ser jovens outra vez. Tudo corre como previsto, até o neurochip que lhe colocaram na cabeça avariar. Callie acorda, de súbito, na vida da sua locatária, a viver numa luxuosa mansão, a guiar carros topo de gama e a sair com o neto de um senador. A vida quase parece um conto de fadas, até Callie descobrir que a sua locatária não quer apenas divertir-se e que, no mundo perverso da Destinos Primordiais, a sobrevivência é apenas o começo.


Opinião:

Folheei esta obra em duas etapas bastante distintas. Numa fase inicial, movida pela inesperada vinda da autora a terras lusas, estudei algumas páginas, avançado relativamente pouco na história e espreitando, isso sim e quase em exclusivo, somente a ponta deste icebergue distópico muito, muito promissor; e depois, alguns meses mais tarde, numa segunda (e última) investida, interessando-me pelas particularidades de cada personagem e pelos seus destinos altamente cruéis, afeiçoando-me, também, a pequenos pormenores de uma comunidade díspar que por tantas vezes me fez estremecer com os seus renovados e controversos ideais.

Sendo eu uma grande apreciadora deste género literário, que ao longo do tempo e das várias leituras me tem conquistado sobremaneira, cada vez mais me é complicado encontrar romances que verdadeiramente me surpreendam e, mais importante ainda, que me encham as medidas, captem por completo a minha atenção e me deixem em suspenso para o volume seguinte. Alguns textos conseguem espicaçar-me a curiosidade, com este ou aquele elemento mais impressionante. Outros, embora em menor número, levam-me a um estado de ansiedade tal que mal posso esperar por descobrir que infortúnios tais personagens, criaturas negligenciadas, ainda terão de ultrapassar. Destinos Interrompidos acabou por ser um misto destas duas possibilidades.

Tratando-se de uma premissa com todos os factores certos para vencer e, assim, se tornar num dos grandes títulos dentro do género, seria de esperar algo bem trabalhado, com uma escrita extremamente cuidada e inteligente, e umas quantas reviravoltas de cortar a respiração. No entanto, e a meu ver, não foi bem isso o que encontrei.
Destinos Interrompidos disserta abertamente sobre os ideais actuais de beleza e sobre a constante busca pela perpetuidade. Fortemente procuradas pela camada mais velha da sociedade—ou, neste caso, os adultos—, ambos o belo e o imortal, é com horror que o leitor se apercebe do sofrimento e do perigo que os mais novos, os menores—os Iniciantes—que mais ninguém têm ao seu lado, abandonados por familiares que padeceram devido à guerra dos esporos, enfrentam, quando limitados a viver na rua, ao sol e à chuva, eternamente à caça de comida.
Lissa Price foi, na maioria das suas escolhas, perspicaz ao encontrar as respostas, os problemas, para as tomadas de decisão. No entanto, penso que a sua escrita carece de um pouco de sentimento, de emoção, e, enquanto leitora de uma obra distópica, o que mais quero sentir é o medo, a dor e a esperança pelos quais as várias personagens passam. Não me serve ser mera espectadora, quero sentir que faço parte desse mundo destruído, que estou na pele de Callie, e de Tyler, e de Michael, e não que me limito a “ler” o que de importante lhes acontece. Neste aspecto, pessoalmente, Price falhou.

Mas este futuro imaginário da autora é muito complexo, repleto de singularidades, nuances que fazem toda a diferença, e, por isso, mesmo assim, é fácil para o leitor se deixar embrenhar na narrativa e desejar que o momento de a colocar de lado, nem que seja por breves instante, nunca chegue.
Admito que gostaria de ter testemunhado um maior desenvolvimento no que diz respeito às personagens em geral, com mais tempo de antena àquelas que são secundárias, e mais ênfase à que se mostra principal, pois a verdade é que não fui capaz de construir uma real ligação com nenhuma delas, mas creio que neste aspecto a autora poderá ainda surpreender na sequela, Enders. Porém, e embora estes pequenos problemas não me tenham impedido de desfrutar da leitura de Destinos Interrompidos, penso que vieram a solidificar a ideia de que, caso esta história tivesse sido abordada com uma dinâmica diferente, poderia ter tido um resultado bastante mais apelativo.
Ainda assim, destaco uma série de componentes muito bem conseguidas e que ajudaram a manter o meu interesse pela obra, mais ou menos, em alta.

A Destinos Primordiais foi um golpe de génio. Gostei imenso do conceito existente por detrás da empresa assim como, em igual medida, fiquei absolutamente petrificada com os negócios e as mentiras escondidos por entre as paredes da mesma. A ideia de os Terminantes manterem as suas particularidades como o bater insistente das unhas ou o não conseguir estar quieto, num corpo jovem, Iniciante, é algo de extremo interesse e por todas as novidades envolventes do banco de corpos e das intenções do Velho, dou os parabéns a Price.
Infelizmente, este tipo de benesses criativas a par com algumas atitudes e sacrifícios tomados pelas personagens, e uma ou outro reviravolta existente no enredo não foram o suficiente para me maravilharem. Acreditem quando digo que queria muito ter adorado este livro, muito mesmo, mas não consegui. Tenho uma certa curiosidade em relação à sequela pela possível identidade do Velho devido a uma simples frase/fala que a autora deixa no ar já nas páginas finais, mas caso não fosse isso, não sei se quereria mesmo—mesmo!—ler a “dita cuja” mal esta saia por cá.

Como último apontamento, dou ainda relevância ao título escolhido pela editora. Originalmente intitulado de Starters, penso que foi uma abordagem muito interessante terem traduzido para Destinos Interrompidos, o que, tendo em conta alguns elementos da acção, faz todo o sentido.
Uma aposta com o seu quê de agradável por parte da Planeta Manuscrito, que, embora não me tenha totalmente conquistado, como aconteceu (e ainda acontece) com outras obras fantásticas do seu catálogo, ainda assim a vejo como uma leitura algo única para apreciadores de outras obras do género, como Raptada ou Cinder.

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