Título Original: After Earth
Autoria: Peter David
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 230
Tradução: Rui Azeredo e Renato Correia
Sinopse:
O general Cypher Raige, do Corpo Unificado de Patrulheiros, é apenas o último
de uma longa linhagem de heróis. Durante mil anos, desde que o apocalipse
ambiental dominou a Terra, os Raige foram um instrumento fundamental para a
sobrevivência da humanidade. Lideraram o caminho quando os sobreviventes foram
forçados a abandonar a Terra, instalaram-se num planeta inóspito ao qual
chamaram Nova Prime, enfrentaram a chacina por parte de uma misteriosa força
alienígena e estabeleceram um novo lar na ponta mais longínqua da galáxia.
Cypher acabou de regressar para junto da família após uma prolongada missão
no exterior. Para o seu filho de treze anos, Kitai, acompanhar o lendário pai é
a aventura de uma vida – e uma oportunidade para salvar a relação deles.
Mas, quando um asteroide colide com a nave deles, despenham-se e Cypher
fica seriamente ferido, correndo risco de vida. Kitai Raige sempre quis provar
que estava à altura de conviver com um apelido tão ilustre. E agora, talvez
cedo de mais, terá a sua oportunidade. Com a vida do pai em risco, Kitai tem de
se aventurar em terreno desconhecido e hostil num novo mundo que parece
estranhamente familiar: a Terra.
Opinião:
Existem histórias que são verdadeiras pérolas aventureiras, daquelas de
fazer cortar a respiração, da primeira à última página, mas que, de uma maneira
algo estranha, em formato livro, simplesmente não funcionam, pois não conseguem
oferecer, em perspectiva, em essência, todo o seu potencial, toda a sua
magnificência, a quem as lê. After Earth –
Depois da Terra é um pouco assim—uma narrativa escrita com um potencial
supremo, que surgiu como uma adaptação literária de uma obra cinematográfica e
que, mesmo acompanhada de tão forte e vibrante componente visual, ainda assim,
não consegue alcançar o nível de espectacularidade, de entusiasmo e envolvência
daquela que a criou.
After Earth – Depois da Terra conta uma história
familiar sem precedentes, onde um pai e um filho martirizados por um passado de
sangue e de perda, unem forças em prol da sobrevivência de ambos. Num planeta
outrora amado mas agora desconhecido, estas duas personagens percorrem os mais
atribulados dos caminhos, com as paisagens mais belas e as criaturas mais
perigosas, numa jornada em busca da salvação e do orgulho, do amor, existente
numa verdadeira relação entre progenitor e discípulo.
Peter David é uma figura conhecida no mundo da televisão e do cinema, mas
no que diz respeito a esta adaptação, o seu estilo descritivo apresenta-se
muito aquém da expectativa geral. Sente-se uma certa urgência em narrar todos
os acontecimentos da acção sem entrar em grandes pormenores, sente-se uma dada
necessidade em não divagar para além do que a obra cinematográfica mostra ao
espectador, e sente-se um dito distanciamento entre texto e leitor por isso
mesmo—em momento algum senti que estava ligada a estas personagens, preocupada
com os seus futuros, entusiasmada com os seus presentes—, o que é uma pena.
Nova Prime é um reflexo civilizado, tecnologicamente avançado e controlado
de um planeta Terra que se viu destruído pela ganância humana. Aqui, nesta
renovada sociedade, são os Patrulheiros quem mantém a ordem, e quem defende a
cidade de ataques alienígenas que visam destruir todos aqueles que
sobreviveram.
Kitai Raige tem o sonho de seguir as passadas da irmã—e do pai—,
tornando-se um Patrulheiro na tenra idade de treze anos, mas embora o seu físico
e destreza estejam adequados a tão audaciosa profissão, a sua inconstância de
comportamento e riscos desnecessários fazem com que não consiga alcançar o seu
objectivo. Mas a aventura está longe de terminar, quando uma inesperada viagem à
Terra surge num plano próximo, e uma aterragem precipitada destrói (quase) tudo
em que ele acredita...
Embora After Earth – Depois da Terra
ofereça toda uma série de perspectivas interessantes ocorridas em diferentes
cenários, Kitai é a figura que mais se destaca por entre os demais, e que maior
vontade apresenta em se desenvolver. Porém, também Cypher Raige, o seu pai, é
um interveniente de grande importância, ainda que a sua presença física no
enredo seja algo diminuta, mantendo uma consciência febril, uma ambiência
forte, por toda a narrativa.
Quanto a outras personagens de cariz secundário, infelizmente não há muito
a dizer sem, assim, entrar pelo campo dos spoilers.
Fora estes dois rostos e vozes predominantes, quase todos os outros oferecem
uma passagem muito breve e concisa no texto, sintetizando, desde logo, quais os
seus papéis e qual a sua acção no desenrolar da narrativa.
Um aspecto muito positivo presente nesta obra é, sem dúvida, a composição
dos cenários futuristas de Nova Prime e da atmosfera destruída e selvagem da
Terra, 1000 d.T. Essa componente vívida e altamente criativa permite a que o
leitor se imagine num panorama totalmente novo e diferente daquele que conhece
hoje, encarando, pela primeira vez e, principalmente, durante os momentos
passados no planeta Terra que ficou para trás, mutações imprevisíveis e, muitas
vezes, grotescas.
Na minha perspectiva, confesso que estava à espera de algo mais emocionante
por parte desta obra, e também mais desenvolvido, por sinal. A escrita não
ajudou a que me familiariza-se com o que se estava a passar e o pouco
crescimento pessoal conferido às personagens também não permitiu a que construísse
uma ligação, uma relação, com elas. Contudo, deixo nota positiva aos
sentimentos vividos por Kitai e ao desespero íntimo e corrosivo de Cypher, pelo
que perdeu e pelo que não consegue, não por não o querer mas por não
ultrapassar o passado, agarrar. Querer ser o orgulho de um pai não é algo fácil,
mas Kitai teve todos os obstáculos possíveis e imaginários pelo frente,
enquanto Cypher, ainda agarrado a uma morte que nada lhe trará, luta contra a
morte que o puxa e o futuro que lhe poderá trazer uma nova vida, ao lado da
mulher e do filho.
Uma aposta diferente por parte da Saída de Emergência, numa vertente
actual e moderna, que embora não tenha feito os meus olhos brilhar, não quer
dizer que não o faça a outros apreciadores e curiosos do género.
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