quinta-feira, 8 de agosto de 2013

After Earth - Depois da Terra, Peter David [Opinião]





Título Original: After Earth
Autoria: Peter David
Editora: Saída de Emergência
Nº. Páginas: 230
Tradução: Rui Azeredo e Renato Correia


Sinopse:

O general Cypher Raige, do Corpo Unificado de Patrulheiros, é apenas o último de uma longa linhagem de heróis. Durante mil anos, desde que o apocalipse ambiental dominou a Terra, os Raige foram um instrumento fundamental para a sobrevivência da humanidade. Lideraram o caminho quando os sobreviventes foram forçados a abandonar a Terra, instalaram-se num planeta inóspito ao qual chamaram Nova Prime, enfrentaram a chacina por parte de uma misteriosa força alienígena e estabeleceram um novo lar na ponta mais longínqua da galáxia.
Cypher acabou de regressar para junto da família após uma prolongada missão no exterior. Para o seu filho de treze anos, Kitai, acompanhar o lendário pai é a aventura de uma vida – e uma oportunidade para salvar a relação deles.
Mas, quando um asteroide colide com a nave deles, despenham-se e Cypher fica seriamente ferido, correndo risco de vida. Kitai Raige sempre quis provar que estava à altura de conviver com um apelido tão ilustre. E agora, talvez cedo de mais, terá a sua oportunidade. Com a vida do pai em risco, Kitai tem de se aventurar em terreno desconhecido e hostil num novo mundo que parece estranhamente familiar: a Terra.


Opinião:

Existem histórias que são verdadeiras pérolas aventureiras, daquelas de fazer cortar a respiração, da primeira à última página, mas que, de uma maneira algo estranha, em formato livro, simplesmente não funcionam, pois não conseguem oferecer, em perspectiva, em essência, todo o seu potencial, toda a sua magnificência, a quem as lê. After Earth – Depois da Terra é um pouco assim—uma narrativa escrita com um potencial supremo, que surgiu como uma adaptação literária de uma obra cinematográfica e que, mesmo acompanhada de tão forte e vibrante componente visual, ainda assim, não consegue alcançar o nível de espectacularidade, de entusiasmo e envolvência daquela que a criou.

After Earth – Depois da Terra conta uma história familiar sem precedentes, onde um pai e um filho martirizados por um passado de sangue e de perda, unem forças em prol da sobrevivência de ambos. Num planeta outrora amado mas agora desconhecido, estas duas personagens percorrem os mais atribulados dos caminhos, com as paisagens mais belas e as criaturas mais perigosas, numa jornada em busca da salvação e do orgulho, do amor, existente numa verdadeira relação entre progenitor e discípulo.
Peter David é uma figura conhecida no mundo da televisão e do cinema, mas no que diz respeito a esta adaptação, o seu estilo descritivo apresenta-se muito aquém da expectativa geral. Sente-se uma certa urgência em narrar todos os acontecimentos da acção sem entrar em grandes pormenores, sente-se uma dada necessidade em não divagar para além do que a obra cinematográfica mostra ao espectador, e sente-se um dito distanciamento entre texto e leitor por isso mesmo—em momento algum senti que estava ligada a estas personagens, preocupada com os seus futuros, entusiasmada com os seus presentes—, o que é uma pena.

Nova Prime é um reflexo civilizado, tecnologicamente avançado e controlado de um planeta Terra que se viu destruído pela ganância humana. Aqui, nesta renovada sociedade, são os Patrulheiros quem mantém a ordem, e quem defende a cidade de ataques alienígenas que visam destruir todos aqueles que sobreviveram.
Kitai Raige tem o sonho de seguir as passadas da irmã—e do pai—, tornando-se um Patrulheiro na tenra idade de treze anos, mas embora o seu físico e destreza estejam adequados a tão audaciosa profissão, a sua inconstância de comportamento e riscos desnecessários fazem com que não consiga alcançar o seu objectivo. Mas a aventura está longe de terminar, quando uma inesperada viagem à Terra surge num plano próximo, e uma aterragem precipitada destrói (quase) tudo em que ele acredita...

Embora After Earth – Depois da Terra ofereça toda uma série de perspectivas interessantes ocorridas em diferentes cenários, Kitai é a figura que mais se destaca por entre os demais, e que maior vontade apresenta em se desenvolver. Porém, também Cypher Raige, o seu pai, é um interveniente de grande importância, ainda que a sua presença física no enredo seja algo diminuta, mantendo uma consciência febril, uma ambiência forte, por toda a narrativa.
Quanto a outras personagens de cariz secundário, infelizmente não há muito a dizer sem, assim, entrar pelo campo dos spoilers. Fora estes dois rostos e vozes predominantes, quase todos os outros oferecem uma passagem muito breve e concisa no texto, sintetizando, desde logo, quais os seus papéis e qual a sua acção no desenrolar da narrativa.

Um aspecto muito positivo presente nesta obra é, sem dúvida, a composição dos cenários futuristas de Nova Prime e da atmosfera destruída e selvagem da Terra, 1000 d.T. Essa componente vívida e altamente criativa permite a que o leitor se imagine num panorama totalmente novo e diferente daquele que conhece hoje, encarando, pela primeira vez e, principalmente, durante os momentos passados no planeta Terra que ficou para trás, mutações imprevisíveis e, muitas vezes, grotescas.
Na minha perspectiva, confesso que estava à espera de algo mais emocionante por parte desta obra, e também mais desenvolvido, por sinal. A escrita não ajudou a que me familiariza-se com o que se estava a passar e o pouco crescimento pessoal conferido às personagens também não permitiu a que construísse uma ligação, uma relação, com elas. Contudo, deixo nota positiva aos sentimentos vividos por Kitai e ao desespero íntimo e corrosivo de Cypher, pelo que perdeu e pelo que não consegue, não por não o querer mas por não ultrapassar o passado, agarrar. Querer ser o orgulho de um pai não é algo fácil, mas Kitai teve todos os obstáculos possíveis e imaginários pelo frente, enquanto Cypher, ainda agarrado a uma morte que nada lhe trará, luta contra a morte que o puxa e o futuro que lhe poderá trazer uma nova vida, ao lado da mulher e do filho.

Uma aposta diferente por parte da Saída de Emergência, numa vertente actual e moderna, que embora não tenha feito os meus olhos brilhar, não quer dizer que não o faça a outros apreciadores e curiosos do género.

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