quinta-feira, 11 de julho de 2013

Paixão Sublime, Lisa Kleypas [Opinião]




Título Original: Devil in Winter
Autoria: Lisa Kleypas
Editora: 5 Sentidos
Nº. Páginas: 320


Sinopse:

A boca dela roçou a dele, sedosa, macia e quente… e ele sentiu o estonteante toque da sua língua. Acendeu-se-lhe, desde logo, a chama do desejo e deixou-se afogar num prazer imoderado, poderoso, como nunca havia sentido.
Quatro jovens damas da sociedade londrina procuram um bom partido. Chega a vez de Evangeline Jenner, a mais tímida, mas também a mais rica, logo que cobre a sua herança. Para escapar às garras da família, Evie pede ajuda a Sebastian, Lord St. Vincent, um conhecido libertino, fazendo-lhe uma proposta irrecusável: que se case com ela, trocando riqueza por proteção. Mas a proposta impõe uma condição: depois da noite de núpcias, os dois não voltarão a encontrar-se na intimidade, pois Evie não quer ser mais um coração partido na longa lista de conquistas de Sebastian. A Sebastian resta esforçar-se mais para a seduzir… ou entregar finalmente o coração, em nome do verdadeiro amor.


Opinião:

Quando nos deparamos com livros que são verdadeiras pérolas de mimos, que não só nos enchem as medidas como também recheiam o nosso coração de amor e afecto, como colocar em (meras) palavras a magnificência contida nessas páginas? Lisa Kleypas é incomparavelmente maravilhosa e a sua série À Flor da Pele é, sem dúvida, do melhor que se vê publicado em português, dentro do romance de época. As encalhadas são já personagens pelas quais os leitores nutrem um enorme carinho, e os cavalheiros que lhes corrompem a virtude, que as levam à loucura e ao desespero, são, aos mesmos olhos, figuras de galante encanto.

Paixão Sublime é o terceiro volume de um quarteto impressionante de instâncias femininas que procuram, para si, a felicidade que as suas posições ou pequenos defeitos sociais as impedem de alcançar. Percorrendo, desta feita, o horrível passado de Evie e a reputação ruinosa que antecede Sebastian, confrontando-os com um futuro que de tão incerto quase se semeia impossível, esta história tocará o íntimo dos seus leitores não unicamente pela carga emocional que alberga e pelos obstáculos que coloca no caminho deste casal extremamente improvável mas, igualmente, pela carência que cada um deles vê preenchida pela presença do outro, e pelo amor e compreensão gradual que vão criando entre si.
Lisa Kleypas é um autêntico doce no que diz respeito ao modo como envolve as suas personagens em tramas interessantes e repletas de paixão, cativando o seu leitor da primeira à última página. O seu estilo narrativo é dotado de uma beleza incrível, simples e até etérea, mantendo-se extraordinária nas descrições da regência inglesa e assertiva na concepção dos diálogos, sendo estes, muitas vezes, também pontuados por um humor deslumbrante.

Ainda que, por norma, este género de narrativas e séries ofereça e demonstre uma certa tendência para a contínua caracterização de personagens de histórias anteriores, em Paixão Sublime, as atenções recaem, quase em exclusivo, no casal protagonista. E é através dos alicerces de uma proposta benéfica para ambos que as teias do enredo se vão tecendo em torno de uma viagem absolutamente magnífica pelos campos do amor, da aceitação, e do carinho por aquele que se ama—embora, muitas vezes, tal sentimento não seja admitido.
Evie é um encanto de personagem. A sua personalidade mais arrojada, revelada aquando na companhia de St. Vincent, e instinto protector transformam-na na irmã mais velha ou na ama que qualquer menina da regência gostaria de ter a seu lado, a cuidar de si. Mas o seu humor e sentido de oportunidade é genial, mesmo com uma gaguez nervosa, e por isso é quase impossível não arrecadar frequentes sorrisos por parte dos leitores. Quanto a Sebastian, este é um figura de porte alto, com uma algo predominante propensão de dominador, mas com uma força interior que nem ele mesmo se apercebe possuir. Desde o primeiro instante que zela pelo bem-estar de Evie, e tendo em conta o estatuto desta, essa é uma atitude muito pouco esperada vinda da parte de quem vem.

Mas este é, decididamente, um casal sem igual, que vive uma paixão tão avassaladora, tão contida e, ao mesmo tempo, tão escondida em acções prometedoras, em discursos provocantes e em ideias protectoras, que tem um impacto tal no leitor que este, por tantas vezes, sente autênticos arrepios de prazer na pele. Paixão Sublime foi, para mim, um dos melhores—se não mesmo o melhor—romance de época que alguma vez li, tendo Kleypas enredado por caminhos inovadores, transcendentes, com o intuito de proporcionar a melhor e mais bonita história de amor de sempre. O sentimento que une Evie e Sebastian está escrito em sangue, em suor, em trabalho árduo e em promessas veladas, proferidas muito antes de qualquer um deles saber o quão importante o outro é, e o quão modificador será o seu futuro—em conjunto.
No entanto, com isto não pretendo afirmar que mais nenhum interveniente de interesse figura nestas páginas adoravelmente sublimes, aliás, muito pelo contrário. Foi verdadeiramente emocionante reencontrar personagens como Lord Westcliff, quando o rapto de Lillian se encontra ainda demasiado fresco, Daisy, cujo título de encalhada se deverá suprimir no próximo romance, ou Annabelle, agora prestes a ter o seu primeiro filho, mas ainda mais entusiasmante foi conhecer profundamente—ou um pouco menos que isso—intelectos novos como Cam, um dos homens mais cativantes de sempre, sem dúvida, ou Bullard, uma personagem ainda mais vil que o próprio St. Vincent em Sedução Intensa.

Igualmente impressionante foi o ambiente inesperado que Kleypas escolheu para agraciar parte do enredo—a atmosfera sombria e algo elitista do Jenner’s, uma das mais afamadas casas de jogos de azar, em Londres. Um tema que nunca antes vi abordado num romance do género, e que aqui se encontra explorado de uma forma extremamente interessante e proveitosa, acabando por combinar, de modo exímio, com a personalidade de St. Vincent—num mundo seu conhecido, em que é rei.
Também a componente (extra) de suspense e constante temor pela vida de Evie, primeiro devido aos seus tios e depois em consequência de algo que nunca poderia contrariar, veio tornar a trama ainda mais empolgante—se é que tal é possível. Assim, caracterizando-se, primeiramente, como um romance de época mas destilando uns quantos outros elementos importantes de outros géneros literários, Paixão Sublime é, então, uma história completa, que cativa e apela, que comove e enternece, e que, principalmente, entretém.

Quanto a mim, esta não só foi uma leitura que me encheu, por completo, as medidas, como também se transformou num dos meus romances favoritos. A narrativa encontra-se brilhantemente trabalhada, a escrita de Kleypas continua a fazer-me folhear página atrás de página e as personagens por ela criadas são tão belas, tão arrebatadoras, que não há como lhes resistir. Agora, somente me resta aguardar, com enorme expectativa e entusiasmo, a publicação do livro referente a Daisy para, assim, fechar um ciclo de encalhadas que tanta gargalhada e sofrimento me tem provocado. Adoro Lisa Kleypas, e adoro a sua série À Flor da Pele.
Uma aposta absolutamente genial por parte da 5 Sentidos, uma chancela Porto Editora, perfeita para aquecer—ainda mais—os corações neste verão quente, ou, até mesmo, o inverno que aí virá eventualmente. O importante é que Paixão Sublime seja partilhado, seja devorado. Adorei.

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