sábado, 19 de janeiro de 2013

Alera - Tempos de Vingança, Cayla Kluver [Opinião]





Título Original: Allegiance
Autoria: Cayla Kluver
Editora: Planeta Manuscrito
Nº. Páginas: 424
Tradução: Maria José Figueiredo


Sinopse:

A princesa do reino de Hytanica, Alera, volta muito mais forte. Já não luta apenas pelo amor, mas pela liberdade que o pai lhe retirou ao nascer. Casada com um homem que não ama, a rainha Alera de Hytanica tem de esquecer Narian, o jovem que lhe prendeu o coração, porque Narian está destinado a conquistar Hytanica ao comando dos exércitos do seu senhor, o poderoso Soberano. Alera não acredita que Narian se disponha a combater Hytanica - até ao momento em que as tropas de Cokyri atacam a sua pátria, chefiadas por Narian. Confrontada com a mais terrível traição que um coração pode conhecer, Alera será forçada a esquecer os seus sentimentos e a conduzir o seu reino nesta hora de tremenda provação. Quando parece que a esperança, a vontade e a coragem estão perdidas, terá de encontrar a força que lhe permita manter-se de pé, recordando que nem a mais negra das noites impede o nascimento de um novo dia.


Opinião:

Se antes a guerra era um prenúncio mortífero e malévolo suspenso nos frágeis alicerces de um reino em mutação, agora, com a subida ao trono de novos dirigentes, de novos rostos com novas ideais, essa batalha, esse confronto com Cokyri que há muito pressagiava horrores, passou a ser uma certeza em absoluto.
Um rapto, um amor não esquecido e um rei que tudo fará para defender a sua honra e a do seu povo serão, somente, o começo de um fim que não se deixará desvendar sem a presença de asfixiantes e inesperadas surpresas.

Alera – Tempos de Vingança trata-se de uma continuação há muito aguardada, e que vem dar uma renovada consistência, visão, a uma trama que, desde o seu intricado início, se mostrou tanto forte quanto inteligente. Kluver adensa assim a intriga, instigando também, e como nunca antes, a lealdade do leitor que, pela primeira vez, se vê dividido quanto às suas empatias, quanto ao lado por que deve torcer, quanto às personagens pelas quais nutre carinho ou raiva.
Cayla Kluver volta a evidenciar a sua mestria, o seu talento numa prosa que tanto possui de belo e pessoal, de introspectivo, quanto de veloz. Por entre pensamentos confusos e acções dúbias, esta é uma trama que se salienta pelas suas descrições e diálogos, ainda que, por vezes, essas mesmas descrições sejam excessivamente elaboradas e longas, mas, e principalmente, é de notar o crescimento da própria autora, que se transpõe no amadurecimento das suas palavras narrativas.

Embora este seja um livro com um enredo pronunciado, que se vai desenrolando misteriosamente, surpreendendo o leitor ao seu máximo, são as personagens o elemento que se volta a destacar, seja pela singularidade das mesmas, seja pela maturidade ou retrocesso que uma ou outra sofre ao longo da história. Ainda assim, a que mais me maravilhou – e, admito, não estava à espera de que assim fosse – foi Steldor, não pela atitude correcta e até algo gananciosa de um rapaz que deseja mais do que deveria de possuir, mas pela persistência e, até, paciência que entrega a todos os assuntos que envolvam Alera. Esta, por sua vez, encontra-se mais inteirada do que verdadeiramente é exigido de si enquanto rainha de Hytanica mas, nem por isso, menos apaixonada pelo príncipe que outrora povoou os seus sonhos e os seus desejos. E é por essa devoção, essa crença no melhor, na esperança, que Alera se transformou, com rapidez, numa das minhas personagens favoritas. Contudo, ocasionalmente nota-se uma certa imaturidade, uma certa incapacidade de decisão, um certo egoísmo que choca com a perseverança e graça que tem vindo a transmitir mas, nem mesmo assim, Alera se torna uma figura menos inteligente ou acarinhada. Na outra ponta do «triângulo» amoroso está Narian, aquele que sobreviveu, aquele que tem por destino destruir o reino que o viu nascer. Forte, destemida e inabalável, esta é uma personagem sem igual e que encontra aqui, neste segundo volume, um destaque e uma profundidade de sentimentos, acções e palavras que lhe dão uma beleza por demais.

Quanto à trama em si, esta é simplesmente arrebatadora. Desde as inúmeras intrigas aos planos de guerra, passando pelas pequenas traições que atingem proporções inimagináveis, por um rapto de cortar o fôlego e por acontecimentos inteiramente marcantes, seja de que lado da «fronteira» for, seja dentro ou fora do palácio, a segurança é forçosamente um sentimento que se vê destituído, por completo, de qualquer significado. O perigo está à espreita e tudo pode, poderá e irá acontecer.
A nível pessoal, esta foi uma leitura bem mais agradável que a sua anterior. Gostei de toda a mistura, quase explosão, de sentimentos que o enredo originou em mim enquanto leitora, e fiquei bastante admirada por, a certa altura, dar por mim a compadecer-me por Steldor e a desejar-lhe um pouco mais de sorte, um pouco mais de amor e afecto. Em contrapartida, detestei o antigo rei de Hytanica pela sua mente fechada e pela soberania que persistia em espalhar mesmo quando o poder já havia sido retirado da sua mão.

Uma aposta diferente, numa vertente histórica aligeirada por uma certa sobrenaturalidade algo estranha, por parte da Planeta Manuscrito, num estilo jovem que começa já a ser uma imagem de marca. Agora, é esperar pelo tão prometido desfecho. Gostei.

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