domingo, 30 de maio de 2010

A Casa do Sono, Jonathan Coe






Título Original: The House of Sleep
Autoria: Jonathan Coe
Editora: ASA
Nº. Páginas: 347
Tradução: José Vieira de Lima

  
Sinopse:

Um enorme edifício no alto de uma falésia, o barulho das vagas, um labirinto de corredores vazios onde o ruído dos passos ecoa... A propriedade de Ashdown abrigou nos anos oitenta uma residência de estudantes: aí encontramos Sarah, que sofre de narcolepsia e não consegue distinguir os sonhos da realidade; o seu namorado, Gregory, que só atinge o orgasmo ao pressionar com os dedos os olhos de Sarah; Terry, um pretensioso crítico de cinema que dorme pelo menos catorze horas por dia e nunca consegue recordar o que sonhou; e Robert, capaz de amar sem limites. Quatro personagens simultaneamente trágicas e hilariantes, capazes de tecer entre si relações extremas que, contudo, não os impedirão de se afastarem.

Doze anos depois, a residência é transformada numa casa de saúde especializada em perturbações do sono. Estranhamente, os ocupantes do edifício voltam a ser os mesmos. Mas nem sempre se lembram dos laços complicados que em tempos ligaram as suas vidas...

Movendo-se entre o passado e o presente, A Casa do Sono é um romance desconcertante, uma estranha e dilacerante história de amor sobre a realidade e o sonho, a memória e a identidade.


Opinião:

Ainda me lembro quando publiquei as novidades da Asa para o mês de Abril e estava lá este livro. Quando li a sinopse fiquei bastante entusiasmada em lê-lo e quando finalmente fui visitar a Feira do Livro de Lisboa, simplesmente não resisti a comprá-lo. E apesar de só agora publicar a minha opinião acerca do livro, demorei somente dois dias a lê-lo por inteiro, e a razão de levar todo este tempo a escrever aquilo que penso acerca da sua história deve-se ao facto de o livro ter deixado uma grande impacto em mim. Por vários dias não consegui pensar noutra coisa e muito menos fui capaz de pegar noutra leitura – o que nunca tinha acontecido antes, pelo menos não com toda esta intensidade.

A narrativa é muito simples e fluida. Conta a história de cinco personagens (um deles está ausente na sinopse) e de como as suas vidas facilmente se conectam; praticamente estranhos, os relacionamentos que tecem entre si no tempo de estudantes vai enriquece-los no futuro, ainda que alguns entrem no esquecimento.
Sarah sofre de narcolepsia e não consegue distinguir a realidade do sonho, o que consequentemente altera por completo o seu comportamento social e a coloca, por vezes, em situações um pouco bizarras (ainda que divertidas). Gregory não consegue atingir o orgasmo se não pressionar os olhos de Sarah, uma obsessão um tanto ou quanto estanha e que logo de início deixa o leitor a pensar que algo de muito errado se passa com ele. Terry é um apaixonado por cinema, imensamente inteligente e culto, e com um hábito incomum: dorme catorze horas por dia porque quando dorme também sonha e para ele esses sonhos são muito mais aprazíveis do que a realidade que o rodeia, embora nunca se lembre deles. Veronica é uma mulher de muitos mistérios, não tem qualquer pudor em fazer ou dizer o que seja e apesar de amar, não se consegue apegar. E depois temos Robert que eu nem sei bem como o definir. Ama tudo e todos e por amor é capaz de fazer qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo!

Jonathan Coe decide contar-nos esta história alternando, de capítulo em capítulo, entre os tempos de universidade dos personagens (1983-84) e a época em que efectivamente eles já são adultos e trabalham (1996) – o que na minha opinião, e isto percebe-se melhor lendo o livro, deixa um certo grau de mistério presente na narrativa. Porque quando um capítulo termina fica-se sempre com uma pergunta no ar que só é respondida um capítulo depois.
Outra coisa que me agradou imenso neste livro foi a linguagem. Embora algumas expressões só se percebam consoante o contexto em que se inserem, a linguagem cuidada, as descrições delicadas e os diálogos maravilhosos deixam o leitor completamente agarrado à leitura. Os personagens estão caracterizados com perfeição, distinguindo-se uns dos outros, e com personalidades bastante vincadas e presentes. E a forma como as histórias pessoais de cada um, mais cedo ou mais, se acabam por conectar é simplesmente maravilhosa. Confesso que o final deixou-me arrasada, não estava nada à espera de que terminasse assim.
Houve um personagem em especial que me cativou – Terry. Talvez por ele ser amante de cinema (e eu fazer da minha vida o mesmo) ou talvez ainda pela sua mudança e crescimento ao longo da narrativa, não sei, mas houve algo nele que me deixou irrequieta do princípio ao fim, e o seu desfecho foi o que me marcou mais.

Para ser sincera, há tanta coisa mais que se podia dizer acerca deste livro mas a verdade é que muitas dessas coisas simplesmente não saem – apenas se sentem. Digo-vos que A Casa do Sono trata-se de um livro tocante, com uma história lindíssima, que recomendo a todos. Um dos meus livros favoritos até ao momento, sem dúvida. 

12 comentários:

Célia disse...

A tua opinião deixou-me muito curiosa! Vou ficar atenta :)

Guerreiro disse...

Patricia,
A tua opinião tirou-me todo o ar! Certamente que tenho que experimentar este autor, cinco livros publicados em Portugal, principalmente ler este livro cujas personagens me parecem tão diferentes/bizarras...
Como este livro foi o teu melhor, o mais dificil será certamente entrares na proxima história, pois ainda te encontras dentro desta história se te tocou imenso! ;-)
Bom domingo e beijinhos!

Pedacinho Literário disse...

Célia,
É um livro dotado de um encanto espantoso. Se tiveres oportunidade não hesites em lê-lo. :)

Devorador,
Sim, realmente foi muito complicado voltar a pegar noutra leitura. Levei quase uma semana, se não um pouco mais, a ter "coragem" para me envolver noutro livro e mesmo assim tive que pegar num tipo de literatura um pouco mais leve e menos exigente (pelo menos para mim).
Fiquei também curiosa em ler o "A Chuva Antes de Cair" do mesmo autor, e que se não estou em erro é o que também queres ler, não é? Este "A Casa do Sono" trazia um pequeno excerto desse livro e deixou-me curiosa. :)

Bem, bom resto de fim-de-semana, beijinhos e boas leituras para os dois. x)

Carla disse...

Adorei este livro é magnífico e não consegui para de ler. Aconselho vivamente a sua leitura não se vão arrepender.

Boas leituras :)

LadyS disse...

Jonathan Coe é um excelente autor, e de todos os livros dele que li "A Casa do Sono" e "Que Grande Bagunça!" estão nos meus preferidos de todos os tempos.
Ele também é bastante conhecido pela sua análise política mordaz, e para isso "O Rottary's Club" e " O Círculo Fechado" são um bom exemplo.
Recomendo fortemente!

Juliana disse...

oi, estou lendo o livro nesse momento e já percebi que terei opinião semelhante à sua.

Excelente blog!

Sandra disse...

Um professor da Universidade acabou de me aconselhar este livro, dizendo que era um livro sensacional que valia a pena ser lido, depois de ler a tua opinião estou a ver que sim! Mais um para a lista :)

Joao Pereira disse...

Este livro é daqueles que jamais irei esquecer é realmente muito bom. Quem gosta de ler de certeza que não se ira ficar triste com este. Do Jonathan Coe já li a "a casa do sono" e "a chuva antes de cair". O "circulo fechado" vai ter de esperar por um pouco mais de tempo (é grandito):P
Boas Leituras a todos :)

Unknown disse...

Comprei-o ontem, estou ainda mais entusiasmada para ler, este é o meu meu tipo de leitura favorita ! E também tenho o Teorema de Katherine na estante ahah.
Obrigada,
http://gossipnbooks.blogspot.pt/

Pedacinho Literário disse...

Olá, Solange =)
Então deixa-me que te diga que fizeste uma excelente compra! Já lá vão quatro anos que li este livro mas, ainda assim, é uma história que mantenho presente na memória. Este escritor é maravilhoso e este livro então, ui, espectacular mesmo!
E O Teorema Katherine, também! Não penso que seja o melhor de John Green, mas é muito giro e divertido. Leve e pertinente. É bom. =)

Unknown disse...

Incrivelmente, tenho esse livro há uns dois anos e nunca tomei coragem para ler ele por completo. Sua opinião certamente ajudou bastante a me decidir que enfim vou lê-lo

Pedacinho Literário disse...

É um dos meus livros favoritos, Symon. Acho que devias mesmo de o ler... xD

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