Título Original: Rooftoppers
Autoria: Katherine Rundell
Editora: Lápis Azul
N.º Páginas: 256
Sinopse
Sophie é resgatada por Charles Maxim das águas do Canal da Mancha, após o barco em que viajava ter sofrido um naufrágio. Sozinha no mundo, a criança não terá mais de um ano e fica a viver em Londres sob a tutela provisória de Charles, que a ama e educa como uma filha de verdade. Sophie cresce na esperança de vir encontrar a mãe, perdida no naufrágio. Mas cresce também num misto de felicidade e angústia, pelo receio de um dia ser forçada a ir para um orfanato.
E é naquela esperança, que no amor funde a irracionalidade da crença com a audácia e a astúcia da vontade, que chegado esse dia, Charles e Sophie decidem que há só uma saída: fugir de Londres e ir para Paris, à "caça" da mãe.
É aqui que Sophie conhecemos vagabundos dos telhados e os torna cúmplices leais da sua aventura.
É uma história de amor e afectos, de laços de amizade e cumplicidade, de medos, angústias, sacrifícios, de hesitações e coragem, de argúcia e destreza. Dá voz aos mais pequenos e aos ignorados e marginalizados da sociedade. Os actos mais simples são os mais generosos, e a bondade é uma virtude relembrada a cada som que a música, sempre a música de um violoncelo, vai ecoando ao longo das páginas, por cima dos telhados.
E é uma história sobre a mãe. E sobre a filha. E sobre um homem que, não sendo pai, foi o melhor pai de sempre.
Opinião
No meu já longo caminho de leitora, por vezes deparo-me com livros que são transcendentes a tudo – ao tempo e à escrita, ao estilo e ao ritmo, à beleza e ao infinito –, livros de um lirismo tão puro, tão sonante, que invocam no seu espectador uma nostalgia imensa, vibrante, enquanto, de forma sábia, lhe vai dissertando sobre temas profundos e honestos, decididamente importantes, sem que num único momento se torne comum ou banal. Rooftoppers – Os Vagabundos dos Telhados é um desses livros – em tudo especial, único, de uma excelência cortante –, e é com uma certa alegria e surpresa que constato que muitas vezes, demasiadas vezes, são obras como esta, direccionadas aos mais jovens, aos que ainda não chegaram à dubiedade da vida adulta, que guardam, escondem por entre as suas páginas, as mensagens, ou ensinamentos, mais notáveis.
O conceito narrativo que serve de base a esta história é muito simples – Sophie foi encontrada, ainda em bebé, nas águas do Canal da Mancha por Charles, um cavalheiro inglês solteiro, que decidiu abraçá-la junto ao peito e dar-lhe um tecto, um lar. Na sociedade britânica da altura, era impensável um homem educar uma criança sozinho, pois isso era visto como o papel da mulher, da mãe. Assim, por diversas vezes surgem momentos de tensão em que parece que Sophie será retirada dos cuidados de Charles, mas até que tal aconteça efectivamente, Charles vai ensinando a Sophie a arte da palavra, e da música, e do que é realmente importante, como o facto de ter esperança e de nunca ignorar uma possibilidade, ao invés dos vestidos, e laços, e sapatos brilhantes próprios das outras meninas da altura. Porém, o instante da fuga chega demasiado depressa e a única alternativa para estas duas almas em sintonia é viajar até Paris em busca da mãe que Sophie sente, no seu coração, estar ainda viva, e que Charles, na sua mais brilhante lição de vida, não pode recusar.
A grande e indiscutivelmente mais forte característica deste romance é a sua escrita. Elaborada quanto cuidada, povoada de palavras encantatórias e que visam à imaginação, Katherine Rundell não se inibe face o que é poético e deixa-se levar por uma melodia narrativa suave, experiente, e tão, tão embaladora. A música é uma componente distintamente explorada em Rooftoppers – Os Vagabundos dos Telhados, e tal pode não só ser encontrada na trama em si, pelo violoncelo que Sophie toca, ou pela caixa instrumental que esta guarda como baú, ou até mesmo pela forte crença em que a sua mãe, também ela, provinha da música, como em igual medida é perceptível no estilo da autora, na composição do enredo em si, na divisão dos capítulos, na sucessão dos acontecimentos narrativos. Tudo é música neste livro, e tudo é belo.
Outro dos grandes trunfos desta obra recai nas suas personagens. Complexas, inteligentes, bondosas e até um tanto ou quanto impulsivas – os porquês não têm importância, são os como e os quando que verdadeiramente interessam. E num leque tão vasto de intervenientes, é quase automático, obrigatório, o leitor deparar-se com um pouco de tudo. Desde a maravilhosamente encantadora Sophie, que segue os ensinamentos de Charles à risca, que acredita na esperança, e no amor incondicional, e na cumplicidade e na coragem, ou o peculiarmente misterioso Matteo que vive nos telhados parisienses, que encontra em Sophie uma amiga inesperada, ou mesmo o próprio Charles que não recusa uma possibilidade, que vive do conhecimento e do afecto que nutre por Sophie.
Rooftoppers – Os Vagabundos dos Telhados é uma obra de estreia sublime por parte de Katherine Rundell, uma autora da qual quererei, sem sombra de dúvida, ler mais, e descobrir mais. Os pormenores que dá à sua história são de um engrandecimento magnífico, proporcionando uma leitura de prazer, de preenchimento pessoal. Confesso que este livro foi tudo o que eu não estava à espera – e tal não me poderia ter deixado mais feliz enquanto leitora. Uma experiência diferente, com uma narrativa singular, belíssima e extraordinária, num universo ficcional atraente, com personagens ricas e excelentemente intricadas. Recomendo.
2 comentários:
Vou procurar o livro...
É um livro muito bom, Redonda. Vale bem a pena!
Beijinhos*
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