quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

De Olhos Fechados, Eve Berlin [Opinião]




Título Original: Pleasure’s Edge
Autoria: Eve Berlin
Editora: Quinta Essência
Nº. Páginas: 280


Sinopse:

Para a bela escritora de romances eróticos Dylan Ivory, deter o controlo é o mais importante. Até que conhece o homem que é tudo aquilo que ela não é... e tudo o que ela deseja. Alec Walker é um escritor de thrillers psicológicos sombrios - e um homem que vive para as suas emoções. Desde motos a skidiving, passando por nadar com tubarões, a sua busca incessante de prazer e excitação não tem fim. Essa busca estende-se também às suas relações pessoais, onde nenhuma regra limita os seus desejos. A única coisa que Alec teme é o amor - e permitir que outra pessoa o conheça realmente. Enquanto faz investigação para um livro sobre extremos sexuais, Dylan entrevista Alec - e anseia por saborear a tentação que ele lhe oferece. No entanto, Alec é um dominador famoso e ela recusa entregar-lhe o controlo. Lenta e sedutoramente, Alec mostra-lhe que ao entregar-se-lhe de forma incondicional e submeter-se a todos os seus desejos, ela poderá experimentar o derradeiro prazer. Porém, para poder ficar com a mulher que pela primeira vez o faz ajoelhar, será Alec capaz de correr o maior de todos os riscos e entregar o seu coração? Embalados por um misto de prazer e apreensão, o casal vê-se numa situação tentadora enquanto evita entregar-se ao sentimento que nasce entre eles. 


Opinião:

A sensualidade é um sabor; é um gosto, um gesto, um olhar ou um sorriso presente em cada ser humano. Uns sabem usá-la em seu proveito, enquanto outros nem se apercebem que a emanam naturalmente. Mas a sexualidade... essa é uma sensação primitiva, uma chama arrojada, penetrante, incandescente, à qual nem todos se sentem confortáveis em sucumbir na totalidade, da qual muitos simplesmente se afastam, se escondem, ao passo que outros tantos a abraçam, a desejam, como o fruto de prazer que é.

De Olhos Fechados é um romance atrevido, bastante audaz, que, desprovido de quaisquer preconceitos ou inibições, provoca e mostra a monumental atracção física presente entre duas figuras que se perpetuam em páginas literárias, ao mesmo tempo que se deixam levar pela ânsia que as une – e liberta –, e pelo conhecimento, submissão e controlo que as caracteriza, na perfeição. Mas no final, singrará o amor ou a luxúria?
Eve Berlin tem uma escrita simples, expressiva e aliciante, que se agarra ao leitor com tamanha intensidade que este nem dá pelo voar das páginas. Fazendo uso de descrições breves mas assertivas, e de diálogos energéticos mas, por vezes, igualmente emotivos, Berlin traça o perfil de uma relação de enorme tensão sensual e sexual entre um casal como nenhuma outra escritora, abordando temáticas como bondage e BDSM com singeleza tal que a própria fluidez da leitura «esconde» e «camufla» a ousadia e a crueza selvagem dos actos em si.

Mais do que uma obra centrada no decorrer da história, dos acontecimentos, este é um enredo que dá primazia às personagens e ao desenvolvimento de dois protagonistas, em particular, que muitos segredos necessitam revelar, e que muitos obstáculos precisam superar.
Dylan Ivory é curiosa por natureza. Empenhada, inteligente e detentora de um controlo impressionável, que lhe confere um sentimento de segurança do qual não pretende abdicar nunca, ela é uma personagem que não tem medo de aceitar um desafio – mesmo que a sua «integridade» possa sair sofredora – e que, mesmo sem se aperceber, age muito por impulso.
Alec Walker, em contraste, é tudo – e muito mais! – o que o seu visual inspira: ele é perigoso, aventureiro e extremamente sedutor. Um dominador nato, que abraça o seu «estilo de vida» sexual ligeiramente peculiar, este é um interveniente que sabe o que quer e que de tudo fará para o conseguir... ainda que leve o seu tempo. Mas o que realmente descarta, e acredita poder viver sem, é precisamente o sentimento, o sufoco e a imensidão contraditória de emoções e pensamentos que lhe irá bater à porta, e que em muito se assemelham ao amor.

O grande ponto forte desta leitura, como previamente mencionado, e com excepção da carga erótica que caracteriza o seu género, é, justamente, o desenvolvimento racional e emocional das personagens. O crescimento que estas sofrem, as renovadas percepções que ganham, os erros que cometem e os riscos que tomam. Ao longo de toda a narrativa, tanto Dylan como Alec experienciam que nem todas as defesas erigidas e todas as ideias preconcebidas são mecanismos que jogam a seu favor, e, por isso, e ainda que com dificuldade e muitas atribulações pelo caminho, ambos tomam a decisão de que chegou a altura de mudar, de arriscar, de... talvez ceder e amar. Um jogo explosivo que brinca contra sentimentos que sempre se esconderam por baixo da camada superficial de um homem e de uma mulher independentes.

A componente erótica e sexual desde romance não é, de todo, apropriada a qualquer tipo de leitor, principalmente aos mais susceptíveis nem, tão pouco, é inadequada. Expressa em iguais medidas de sensualidade e sexualidade, dando algumas aberturas ao desenrolar de uma relação que pode vir a transformar-se num amor ou numa adoração por completo, esta é uma história que, mesmo possuindo uma linguagem forte, crua e extremamente exacta, se lê com bastante à vontade e que, em última instância, dá curiosidade conhecer. No final, fica a sensação de que todas as contradições e lutas interiores levadas a cabo pelas personagens se viram resolvidas em meia dúzia do páginas, o que, por sua vez, deixa a impressão de um desfecho apressado e urgente quando, a meu ver pessoal, poderia ter sido dada uma maior margem de «não posso resistir mais» às personagens.

Quanto a mim, esta foi uma leitura agradável, que se viu completa num abrir e fechar de olhos e que, na sua essência, me deixou expectante quanto à restante trilogia. Com uma capa atractiva – ao olho feminino – e uma história que respira sensualidade, este é um livro que pode agradar a um vasto leque de amantes literários tendo, principalmente, em conta a «moda» que este tipo de histórias tem gerado – e mantido! - ultimamente.
Uma aposta bem quente e provocadora, por parte da Quinta Essência, num género que tem dado muito que falar. Gostei.

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