terça-feira, 20 de outubro de 2015

O Miniaturista, Jessie Burton [Opinião]



Título Original: The Miniaturist 
Autoria: Jessie Burton 
Editora: Editorial Presença 
Colecção: Grandes Narrativas, N.º 599
N.º Páginas: 404

Sinopse
Num dia de outono de 1686, a jovem Nella Oortman, recém-casada com um próspero mercador de Amesterdão, Johannes Brandt, chega à cidade na expetativa da vida esplendorosa que este casamento auspicioso lhe promete. Mas, entre a amabilidade distante do marido e a presença repressiva da cunhada, Nella sente-se sufocar na sua nova existência. 
Até que um dia, Johannes lhe oferece uma réplica perfeita, em miniatura, da casa onde vivem. Nella encomenda então a um miniaturista algumas peças para ornamentar a casa. Mas algo de surpreendente acontece: novas encomendas de miniaturas continuam a chegar sem terem sido solicitadas, como presságios silenciosos de futuras tragédias.

Opinião
Amesterdão, 1686. Só pela época em que este romance tem acção, a curiosidade perante a obra atinge proporções gigantescas. A par com uma sinopse que deixa um intenso e perfumado mistério no ar, não há como lhe resistir – afinal de contas, não é todos os dias que um livro desta envergadura histórica, e tão bem aclamado pela crítica internacional, me vem parar às mãos. O interesse pelo enredo que a descrição deixa antever esteve lá desde o início, mas não julguem que esta é uma leitura fácil – nem tão pouco simples. Jessie Burton pode ter criado uma obra singular nesta que é a sua grande estreia na literatura, mas a sua escrita é complexa, o seu estilo é moroso e intricado, e ainda que toda a sua pesquisa seja notória e esteja altamente presente nas descrições e ambiência da acção, no todo O Miniaturista trata-se de um romance que não é para todo o tipo de leitor. 

Tudo começa quando um marido desatento e ausente oferece à sua recém esposa uma réplica, em miniatura, da casa onde os dois vivem – ele, mercador e homem influente; ela, muito jovem e ingénua. Sentindo-se profundamente deslocada numa cidade que não conhece e num seio familiar um pouco estranho e hostil, algo frio até, Nella concentra-se no preencher, belo e aristocrático, da sua casa de bonecas. Porém, e sem qualquer aviso, Nella começa a receber mais miniaturas, enviadas pelo mesmo miniaturista que contratou, e que pressagiam trágicos eventos futuros. Descobrir a identidade deste homem torna-se, então, fulcral e para Nella nada se mostra mais assustador ou importante. 

Se tivesse de nomear somente uma personagem como aquela que mais me surpreendeu e a de que mais gostei, essa seria, sem dúvida, Marin. Irmã de Johannes, Marin é aquela figura que por tudo o que representa, por tudo o que é, por tudo o que mostra, é demasiado fácil odiar. Extremamente inteligente, de ideias fortes, exigente e em tudo fria, Marin encanta pela sua independência e espírito forte. A aura enigmática que a envolve ao longo da narrativa é exuberante, e as pequenas particularidades que a fazem a mulher que é, a personagem que é, é o que a torna tão interessante aos meus olhos. 
Também o próprio miniaturista me deixou cativada quanto baste. Desde o começo que a sua presença paira no ar e as nuances misteriosas acerca da sua identidade, a magia que se mescla no seu dom, são componentes que enriquecem o texto. 

Porém, penso que Jessie Burton leva muito tempo a desvendar alguns dos pontos fulcrais do romance, deixando-se levar pela sua escrita elaborada e, tantas vezes, demasiado floreada – para o meu gosto. Esta foi, a vários níveis, uma leitura complicada, com muitos altos e ainda mais baixos, e que tomou mais de mim, do meu espírito, da minha sanidade, do meu pensamento, do que eu estava à espera. Penso que esta não foi a melhor altura para me dedicar a O Miniaturista, pois trata-se de uma obra que exige paciência, tempo e atenção – e embora não possa dizer que não gostei, pois foi, de facto, surpreendente, julgo que se o tivesse folheado numa outra altura, com outra disposição, o resultado teria sido diferente, mais prazeroso.   

Para mim, esta é uma leitura de Inverno. Um daqueles livros para se desfrutar em frente à lareira – ou ao aquecedor – com uma manta e uma bebida quente. Não tenho dúvidas de que vos fará pensar, que vos fará tremer de expectativa e de ansiedade, e que vos levará a uma Amesterdão de outros tempos onde o papel da mulher era insignificante mas onde neste romance a sua figura, a sua excelência, ganha novas proporções. Se gostam de História, então vão devorar esta obra como nenhuma outra. Se gostam de escritas complexas, um pouco poéticas, então vão delirar com esta obra. Se gostam de mistérios e de intrigas com um pouco ou nada de magia, muito subtil, então vão-se apaixonar por esta obra. Infelizmente, a mim não me convenceu por completo e penso que em grande parte se deve à morosidade do enredo que por diversas vezes me viu a revirar os olhos – não de desaprovação mas de cansaço – mas irei dar-lhe outra oportunidade, numa ocasião em que me sinta mais propícia a ler este tipo de literatura, e quem sabe não mude de ideias. 


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1 comentário:

Femme Trivial disse...

Há muito que quero ler este livro, é bastante interessante.

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