Título Original: The House of Sleep
Autoria: Jonathan Coe
Editora: ASA
Nº. Páginas: 347
Tradução: José Vieira de Lima
Sinopse:
Um enorme edifício no alto de uma falésia, o barulho das vagas, um labirinto de corredores vazios onde o ruído dos passos ecoa... A propriedade de Ashdown abrigou nos anos oitenta uma residência de estudantes: aí encontramos Sarah, que sofre de narcolepsia e não consegue distinguir os sonhos da realidade; o seu namorado, Gregory, que só atinge o orgasmo ao pressionar com os dedos os olhos de Sarah; Terry, um pretensioso crítico de cinema que dorme pelo menos catorze horas por dia e nunca consegue recordar o que sonhou; e Robert, capaz de amar sem limites. Quatro personagens simultaneamente trágicas e hilariantes, capazes de tecer entre si relações extremas que, contudo, não os impedirão de se afastarem.
Doze anos depois, a residência é transformada numa casa de saúde especializada em perturbações do sono. Estranhamente, os ocupantes do edifício voltam a ser os mesmos. Mas nem sempre se lembram dos laços complicados que em tempos ligaram as suas vidas...
Movendo-se entre o passado e o presente, A Casa do Sono é um romance desconcertante, uma estranha e dilacerante história de amor sobre a realidade e o sonho, a memória e a identidade.
Opinião:
Ainda me lembro quando publiquei as novidades da Asa para o mês de Abril e estava lá este livro. Quando li a sinopse fiquei bastante entusiasmada em lê-lo e quando finalmente fui visitar a Feira do Livro de Lisboa, simplesmente não resisti a comprá-lo. E apesar de só agora publicar a minha opinião acerca do livro, demorei somente dois dias a lê-lo por inteiro, e a razão de levar todo este tempo a escrever aquilo que penso acerca da sua história deve-se ao facto de o livro ter deixado uma grande impacto em mim. Por vários dias não consegui pensar noutra coisa e muito menos fui capaz de pegar noutra leitura – o que nunca tinha acontecido antes, pelo menos não com toda esta intensidade.
A narrativa é muito simples e fluida. Conta a história de cinco personagens (um deles está ausente na sinopse) e de como as suas vidas facilmente se conectam; praticamente estranhos, os relacionamentos que tecem entre si no tempo de estudantes vai enriquece-los no futuro, ainda que alguns entrem no esquecimento.
Sarah sofre de narcolepsia e não consegue distinguir a realidade do sonho, o que consequentemente altera por completo o seu comportamento social e a coloca, por vezes, em situações um pouco bizarras (ainda que divertidas). Gregory não consegue atingir o orgasmo se não pressionar os olhos de Sarah, uma obsessão um tanto ou quanto estanha e que logo de início deixa o leitor a pensar que algo de muito errado se passa com ele. Terry é um apaixonado por cinema, imensamente inteligente e culto, e com um hábito incomum: dorme catorze horas por dia porque quando dorme também sonha e para ele esses sonhos são muito mais aprazíveis do que a realidade que o rodeia, embora nunca se lembre deles. Veronica é uma mulher de muitos mistérios, não tem qualquer pudor em fazer ou dizer o que seja e apesar de amar, não se consegue apegar. E depois temos Robert que eu nem sei bem como o definir. Ama tudo e todos e por amor é capaz de fazer qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo!
Jonathan Coe decide contar-nos esta história alternando, de capítulo em capítulo, entre os tempos de universidade dos personagens (1983-84) e a época em que efectivamente eles já são adultos e trabalham (1996) – o que na minha opinião, e isto percebe-se melhor lendo o livro, deixa um certo grau de mistério presente na narrativa. Porque quando um capítulo termina fica-se sempre com uma pergunta no ar que só é respondida um capítulo depois.
Outra coisa que me agradou imenso neste livro foi a linguagem. Embora algumas expressões só se percebam consoante o contexto em que se inserem, a linguagem cuidada, as descrições delicadas e os diálogos maravilhosos deixam o leitor completamente agarrado à leitura. Os personagens estão caracterizados com perfeição, distinguindo-se uns dos outros, e com personalidades bastante vincadas e presentes. E a forma como as histórias pessoais de cada um, mais cedo ou mais, se acabam por conectar é simplesmente maravilhosa. Confesso que o final deixou-me arrasada, não estava nada à espera de que terminasse assim.
Houve um personagem em especial que me cativou – Terry. Talvez por ele ser amante de cinema (e eu fazer da minha vida o mesmo) ou talvez ainda pela sua mudança e crescimento ao longo da narrativa, não sei, mas houve algo nele que me deixou irrequieta do princípio ao fim, e o seu desfecho foi o que me marcou mais.
Para ser sincera, há tanta coisa mais que se podia dizer acerca deste livro mas a verdade é que muitas dessas coisas simplesmente não saem – apenas se sentem. Digo-vos que A Casa do Sono trata-se de um livro tocante, com uma história lindíssima, que recomendo a todos. Um dos meus livros favoritos até ao momento, sem dúvida.