Título Original: Mosquitoland
Autora: David Arnold
Editora: Topseller
N.º Páginas: 272
Sinopse
Após o súbito divórcio dos pais, Mim Malone é arrastada da sua casa no norte dos EUA para o desolado sul, no Mississípi, onde passa a morar com o pai e a madrasta. Como se não bastasse estar a dar-se mal com a mudança, ainda descobre que a mãe está doente e pode precisar da sua ajuda.
É então que decide fugir de casa e embarcar numa viagem de mais de 1500 quilómetros, de regresso à sua terra natal e à presença apaziguadora da mãe. Mas o caminho está repleto de perigos e de amizades inesperadas.
Para se reencontrar, Mim vai ter de enfrentar demónios pessoais, pôr em causa as suas verdades e pisar as fronteiras da normalidade. Assente numa inesquecível narrativa plena de diferentes histórias, tempos e lugares, Viagem à Procura de Mim é uma odisseia dos tempos modernos, tão comovente quanto hilariante.
Opinião
Não tinha quaisquer expectativas. Não sabia, sequer, o que ia encontrar. E, no entanto, Viagem à Procura de Mim foi, não só, uma das grandes surpresas do ano até ao momento como, também, um dos meus favoritos. David Arnold mostrou-se mestre na escrita e cativou-me com uma prosa poderosa e artística, poética e efémera. Dando voz a uma protagonista sem igual, que se identifica algures entre a verdade e a loucura, Arnold abre caminhos inesperados e socialmente pouco expectáveis e mostra-nos que para vivermos basta encontrarmos o nosso lugar no mundo, através dos nossos amigos, dos nossos pais, das nossas paranóias e das nossas crenças.
Esqueçam a sinopse deste romance coming of age e embarquem nesta viagem inesquecível sem quaisquer ideias pré-concebidas ou suposições narrativas. Dúvidas não me restam que esta obra de estreia de David Arnold é tudo o que nunca vi dentro do género young adult, e tudo o que gostaria de ver mais.
A essência do livro é simples e bastante genérica, o que permite ao leitor ligar-se emocionalmente ao enredo e à protagonista com facilidade, mas a forma como todas as peças do puzzle se encaixam e o modo como a figura central é descrita, nas suas acções e nas suas emoções, é extraordinária e, por isso, diferente de tudo o que se pode encontrar por aí.
Mim é perfeita na sua singularidade. Os seus ideais são fortes e o seu discernimento, em relação ao seu passado, ao que se passa com os seus pais e a sua nova realidade, e ao que pretende do futuro imediato, é indestrutível. Gostei imenso da sua persistência e perseverança, assim como da verdadeira Mim, aquela que se encontra escondida por trás da sombra que o seu pai – um homem preocupado e que não quer ver os mesmos erros, as mesmas fatalidades, repetirem-se – insiste em projectar.
Fica uma sensação de júbilo ao recordar esta personagem. As suas tiradas hilariantes, o seu sentido de humor muito especial, o seu modo de abordagem escrito e intelectual – assim como a sua originalidade e excentricidade, que transparece ao longo de todas as páginas, até à fala final.
Adorei Walt e Beck que, a par com Mim, fazem um trio imbatível. As personalidades dos três intervenientes principais misturam-se de forma perfeita criando, assim, um cocktail explosivo de extravagância e emoções. E adorei ainda mais a diversidade que Arnold ofereceu às suas personagens, retratando-as em pleno e de forma realista, ao mesmo tempo que lhes dava um je ne sais quoi de diferente e único.
Fica, também, a recordação de temáticas fortes e importantes. O autor coloca o medo de parte e aborda uma série de situações que criam desconforto ou familiaridade – desde infelicidades familiares a problemas de foro mental –, ao mesmo tempo que obriga as suas personagens a enfrentar os seus demónios e a crescer perante os seus erros.
Viagem à Procura de Mim abriu-me os olhos para o que de melhor este género pode oferecer, ao mesmo tempo que colocou mais um autor na minha lista de ‘escritores a seguir para todo o sempre’. Este não é um livro fácil de explicar e penso que somente depois de o ler, depois de se enfrentar esta jornada com Mim, e Walt, e Beck, e depois de se descobrir outras faces de Kathy, e Barry, e Eve, é que se pode verdadeiramente perceber o quão excepcional, e invulgar, e transcendente este livro efectivamente é. Ficam, ainda, as cartas para Iz – cheias de significado e importância –, as despedidas incomuns e uma narradora que não pode ser credível a cem por cento – o que leva o leitor a umas quantas surpresas finais.